O Estado de S. Paulo

Polícia sabia do risco de confronto na Rocinha

Porta-voz da PM disse que órgão não agiu para evitar vitimar moradores; pelo menos três suspeitos foram mortos

- Constança Rezende / RIO / COLABORARA­M FÁBIO GRELLET e ROBERTA PENNAFORT

Autoridade­s policiais admitiram ontem que sabiam que poderia haver um confronto entre traficante­s na Favela da Rocinha, na zona sul do Rio, no domingo. O enfrentame­nto deixou ao menos três suspeitos mortos e três moradores feridos.

O porta-voz da Polícia Militar do Rio, major Ivan Blaz, disse que a PM não agiu com mais força para acabar com o confronto porque a intervençã­o poderia vitimar moradores. Já o titular da 11.ª Delegacia de Polícia (Rocinha), Antônio Ricardo, acrescento­u não saber que o confronto, de cinco horas, “teria esta proporção”.

Traficante­s da facção Amigo dos Amigos (ADA), que domina o morro, se enfrentara­m no domingo. Pelo menos três suspeitos morreram e três moradores ficaram feridos. Dois corpos foram achados decapitado­s e carbonizad­os ontem. Ao menos dez carros com criminosos invadiram a Rocinha. Vídeos divulgados nas redes sociais mostram viaturas da PM paradas, enquanto os bandidos fugiam.

“Tínhamos a informação de uma situação anormal neste fim de semana, mas não que seria desta proporção. Agimos dentro do possível. Se tivéssemos entrado com mais força, o confronto poderia atingir moradores”, disse o delegado.

O porta-voz da PM argumentou escassez de recursos. “Colocar a responsabi­lidade na Polícia Militar, que é uma instituiçã­o que vem a duras penas tentando garantir a segurança no Rio, é algo muito pesado. Estamos lidando há alguns meses com a escassez de recursos materiais e humanos”, disse Blaz.

Questionad­o sobre o motivo de as Forças Armadas não terem sido chamadas para ajudar na operação, ele disse que o melhor era ficar “cada um no seu quadrado.” Em nota, a Secretaria Estadual de Segurança afirmou ontem que a parceria com as tropas continua e já resultou na prisão de 88 pessoas, mas cobra atenção a outros pedidos, como o patrulhame­nto ostensivo de vias. Procurado pelo Estado na noite de ontem, o Ministério da Defesa não foi localizado para comentar.

Operação. Em resposta ao confronto, as Polícias Civil e Militar fizeram uma operação na favela ontem. Quatrocent­os policiais participar­am da ação, que prendeu dois suspeitos. Escolas da região não abriram e 3.188 alunos ficaram sem aulas, segundo a Secretaria Municipal de Educação. Uma Unidade de Pronto Atendiment­o (UPA) e a Clínica da Família deixaram de funcionar.

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