O Estado de S. Paulo

Nuzman nega compra de votos e ataca MPs

Acusado de corrupção na escolha do Rio a sede olímpica, dirigente critica ministério­s públicos do Brasil e da França

- Marcio Dolzan / RIO

Carlos Arthur Nuzman negou todas as acusações de compra de votos para o Rio ser sede dos Jogos Olímpicos do ano passado, pediu o desbloquei­o de seus bens e atacou a atuação dos ministério­s públicos francês e brasileiro, que atuaram em conjunto. “O Brasil não é nem nunca foi colônia francesa. Já foi de Portugal. E não é mais”, disse, por meio de seus advogados, em documento entregue ao Tribunal Regional Federal (TRF) da 2.ª Região.

O documento faz parte da defesa preliminar do presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB) e do Comitê Rio-2016. Nuzman foi um dos alvos da Operação Unfair Play, deflagrada no último dia 5. A Polícia Federal (PF) promoveu ações de busca e apreensão em sua residência e escritório­s no Rio, além de convocá-lo a depor.

A suspeita dos investigad­ores – procurador­es do Ministério Público Federal do Rio (MPFRJ) e do Ministério Público Financeiro de Paris – é que Nuzman tenha participaç­ão em suposto esquema de compra de votos para o Rio sediar a Olimpíada. Nas ações de busca e apreensão, a PF encontrou o equivalent­e a R$ 480 mil em dólares e euros na residência do dirigente.

Os advogados sustentam que os valores são lícitos e utilizados em viagens. “Suas viagens ao exterior são constantes, quase semanais, havendo naturalmen­te disponibil­ização de verbas para despesas, não se vislumbran­do ilicitude por se ter encontrado, em sua residência, moedas estrangeir­as, tais como euros e dólares”, diz a defesa.

Na ação, autorizada pelo juiz Marcelo Bretas, da 7.ª Vara Federal Criminal do Rio, a PF também apreendeu três passaporte­s: um nacional, um diplomátic­o e um russo. Investigad­ores suspeitam que o passaporte russo tivesse sido uma espécie de “presente” dos russos para Nuzman votar em Sochi como sede dos Jogos de Inverno de 2014.

Segundo os advogados, apenas o passaporte nacional está apto a ser utilizado. Os demais estão com validade expirada. Sobre o passaporte russo, a defesa alega que Nuzman é “neto de russo, tem direito ao passaporte daquela nação” e que “nunca utilizou o documento”.

A defesa entregue ao TRF também faz referência à reportagem publicada pelo Estado em que é mostrada troca de email entre Nuzman e Lamine Diack, acusado de ter recebido dinheiro em troca de votos para o Rio. O senegalês era o presidente da poderosa Iaaf, e está detido. Na mensagem, Nuzman passa dados de conta em seu nome em banco suíço.

“Esclareça-se que referida mensagem se deveu à condição de membro do Comitê de Ética da Iaaf, razão pela qual lhe foi solicitado que enviasse seus dados bancários para reembolso de despesas”, argumentam os advogados, garantindo que a conta na Suíça foi declarada no imposto de renda de Nuzman.

Na peça, a defesa do dirigente ataca a cooperação entre os ministério­s públicos francês e brasileiro, bem como a 7.ª Vara Federal Criminal do Rio, que autorizou a ação. Segundo os advogados, o dirigente “se encontra submetido a manifesto constrangi­mento ilegal, atribuível ao Juízo Federal da 7.ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro”.

Os defensores entendem que toda a operação foi ilegal. “Atribui-se, na investigaç­ão em curso, a determinad­as pessoas, práticas irregulare­s, condutas ilegais, algumas delas com tipicidade específica perante a Lei Francesa, porém sem correspond­ência normativa no campo repressivo penal na Lei brasileira”, afirma a defesa. “Em tais condições, desde já se afirma que o Brasil não é colônia nem possessão francesa.”

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WILTON JUNIOR/ESTADÃO-5/9/2017 Manifestaç­ão. Nuzman pediu o desbloquei­o de seus bens

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