O Estado de S. Paulo

Cresce pressão para manter perdão de dívida com Funrural

AGU já indicou que recorrerá da decisão do Senado no STF, mas demora já preocupa área técnica do governo; débito é de R$ 17 bi

- Idiana Tomazelli Adriana Fernandes / BRASÍLIA

A fragilidad­e do governo diante da apresentaç­ão da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer elevou a pressão da bancada ruralista para que a Advocacia-Geral da União (AGU) desista de recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra a resolução do Senado que perdoou R$ 17 bilhões em dívidas dos produtores rurais com o Fundo de Assistênci­a ao Trabalhado­r Rural (Funrural).

A demora na atuação da AGU preocupa a área técnica do governo, que vê risco de a medida abrir um precedente perigoso para as contas públicas. Para os técnicos, o Palácio do Planalto deixa o assunto em “banho-maria” para ganhar tempo nas articulaçõ­es políticas.

A blindagem do presidente esbarra, no entanto, em parecer da própria AGU apontando que a resolução é inconstitu­cional. Dessa forma, na avaliação de técnicos da área econômica, recorrer ao STF é uma obrigação, para afastar riscos de responsabi­lização administra­tiva. Além disso, a decisão poderia abrir um precedente a futuras decisões do Senado no mesmo sentido.

A equipe econômica ofereceu descontos de 100% nos juros e de 25% nas multas, com prazo de adesão até 29 de setembro. A Frente Parlamenta­r da Agropecuár­ia (FPA) pede a extensão do prazo para 30 de dezembro com a justificat­iva de que é preciso discutir o cenário pós-resolução para evitar que os produtores assumam dívidas que, segundo eles, seriam inexistent­es.

A AGU informou que não está descartada a possibilid­ade de recurso para barrar na Justiça a resolução. Segundo a assessoria do órgão, o caso permanece em análise. Na semana passada, a ministra-chefe da AGU, Grace Mendonça, já havia confirmado que a União vai recorrer.

O presidente da FPA, deputado Nilson Leitão (PSDB-MT), disse que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, informou sobre a existência do parecer durante reunião ontem na sede da pasta. “O que ele comentou sobre esse assunto foi que conversou com a ministra Grace, que a AGU tem já um parecer pela inconstitu­cionalidad­e da resolução.”

‘Saia-justa’. Relatora da Medida Provisória que cria o parcelamen­to do Funrural, a deputada Tereza Cristina (PSB-MS) afirma que há a alternativ­a de o STF conceder a remissão das dívidas no momento da publicação do acórdão do julgamento de março, o que ainda não ocorreu. Essa decisão, no entanto, teria de ser ratificada pelo plenário da corte.

Para a deputada, a questão coloca os produtores que devem ao governo numa “saiajusta” diante da “falta de segurança jurídica” para aderir ao parcelamen­to.

Tereza Cristina, porém, rebate a ideia de que a negociação está sendo usada para pressionar o governo em meio à segunda denúncia contra o presidente Temer. “Este não é um assunto eleitoral. Ninguém vai pôr a faca no pescoço, é assunto operaciona­l do setor agropecuár­io”, disse a deputada, que classifico­u de “infelicida­de” o fato de a resolução do perdão da dívida ter sido promulgada dias antes da nova denúncia contra o presidente.

A aprovação do perdão das dívidas do Funrural pelo Senado já tem impacto no programa de parcelamen­to de débitos tributário­s criado pelo governo para que os produtores regularize­m suas dívidas. Segundo apurou o Estadão/Broadcast, a adesão até o momento é “quase zero”.

Procurados, o Ministério da Fazenda e a Casa Civil recomendar­am à reportagem procurar a AGU.

Defendendo a MP

“Este não é um assunto eleitoral. Ninguém vai pôr a faca no pescoço, é assunto operaciona­l do setor agropecuár­io... Foi uma infelicida­de o perdão ter sido aprovado dias antes da nova denúncia contra Temer.”

Tereza Cristina (PSB- MS) RELATORA DA MP

“O que ele (Meirelles) comentou sobre esse assunto foi que a AGU tem já um parecer pela inconstitu­cionalidad­e da resolução.”

Nilson Leitão (PSDB-MT) PRESIDENTE DA FPA

 ?? LEONARDO BENASSATTO/REUTERS–14/9/2017 ?? Inconstitu­cional. Meirelles informou a presidente da FPA que existe parecer contra resolução
LEONARDO BENASSATTO/REUTERS–14/9/2017 Inconstitu­cional. Meirelles informou a presidente da FPA que existe parecer contra resolução

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