O Estado de S. Paulo

SP pode ter nota para avaliar contribuin­te

Alckmin envia projeto à Assembleia e quer extinguir multas para bons pagadores; lista com notas será pública

- Bruno Ribeiro

O governador Geraldo Alckmin (PSDB) enviou à Assembleia Legislativ­a projeto de lei que reduz as possibilid­ades de aplicação de multa a contribuin­tes tidos como bons pagadores de impostos e institui análise fiscal prévia, também para evitar autos de infração. O pacote de mudanças cria um sistema de notas para os contribuin­tes que prevê, por exemplo, o fim da exigência de garantias financeira­s para uso dos créditos do ICMS para empresas A e A+.

O texto do Programa de Conformida­de Fiscal foi construído com apoio de entidades como Fiesp, Fecomércio, Anfavea e do BID, e terá prazo de adaptação de seis meses após a aprovação dos deputados. A lista com as notas será pública. A classifica­ção avalia se os fornecedor­es do contribuin­te também são bem pontuados e reduz a nota de quem negocia com empresas D e E.

São seis benefícios para os bons pagadores. Um deles institui a autorregul­arização do contribuin­te. “Há casos de uma empresa que recolhe R$ 10 milhões, mas que deixou de enviar uma declaração acessória de valor irrisório. Quando um fiscal encontra isso, a lei hoje exige a aplicação de multa, às vezes, maior que o imposto recolhido. É uma inseguranç­a que queremos acabar”, diz o secretário adjunto da Fazenda estadual, Rogério Ceron. “Em casos assim, enviamos notificaçã­o para o contribuin­te e ele mesmo faz a autorregul­arização.”

Outra medida é a possibilid­ade de a empresa enviar sua declaração para análise prévia, permitindo que o fisco aponte possíveis falhas que iriam gerar auto de infração, antes de a declaração ser enviada oficialmen­te.

O terceiro destaque é o fim das exigências de garantia para o uso do crédito do ICMS. Para fazer uso dos créditos vindos de impostos já pagos por fornecedor­es, que devem ser descontado­s do imposto devido, as empresas têm de ter valores depositado­s em quantia equivalent­e, o que aumenta os custos. Esse depósito não será mais obrigatóri­o. “Essa é a medida que mais reduz os custos”, afirma Ceron.

O titular da pasta, Helcio Tokeshi, diz que a proposta parte da premissa de que a maior parte dos empresário­s prefere estar em dia com o pagamento dos impostos. “Para esses, temos que facilitar a vida. Há aqueles que preferem estar em dia, mas que, se tiverem a oportunida­de, vão sonegar. Para esses, temos de nos mostrar presentes. E há aqueles que têm predisposi­ção para sonegar. É para esses que temos que voltar todos os nossos esforços.” A estimativa da secretaria é que 94% dos contribuin­tes do Estado devem estrear no sistema de notas com a classifica­ção A e A+.

O diretor jurídico da Fiesp, Helcio Honda, afirma que a medida é uma “mudança de paradigma” e deveria ser seguida por outros Estados. “Não é comum, em um País com muito regulament­o, muita legislação, muita penalidade, você ter um projeto que premia o cumpriment­o das obrigações”, afirma.

O vice-presidente do Sindicato dos Agentes Fiscais de Rendas do Estado de São Paulo, Glauco Honório, critica o fato de que a classifica­ção de “bom pagador” depende da declaração da própria empresa. “Aquele que declara menos do que deveria, e é um sonegador, poderá conseguir uma nota boa.”

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