O Estado de S. Paulo

Maioria do STF nega suspensão de 2ª denúncia contra Temer

Para sete ministros, não cabe análise prévia na Corte sobre a validade das provas do acordo de colaboraçã­o da J&F

- / BEATRIZ BUL LA, BRENO PIRES, RAFAEL MORAES MOURA, CARLA ARAÚJO

A maioria do Supremo Tribunal Federal votou ontem pela permissão do envio à Câmara dos Deputados da denúncia por organizaçã­o criminosa e obstrução da Justiça contra o presidente Michel Temer. Para sete ministros do STF, não cabe a análise prévia na Corte sobre a validade das provas do acordo de colaboraçã­o da J&F e tampouco aguardar a apuração sobre irregulari­dades nas delações de Joesley Batista e Ricardo Saud, respectiva­mente dono e ex-executivo do grupo. O julgamento deve ser concluído hoje. Em Nova York, o presidente Michel Temer disse que o STF é “soberano”, mas afirmou que as acusações são “inverdades absolutas”. No Congresso, a avaliação de governista­s é de que Temer conseguirá derrubar com maior facilidade a segunda denúncia. Na primeira, em que o peemedebis­ta foi denunciado por corrupção passiva, o plenário barrou a acusação com 263 votos a favor do presidente. Eram necessário­s pelo menos 342 votos favoráveis à denúncia para que fosse aceita.

Em sua estreia no Supremo Tribunal Federal, a procurador­a-geral da República, Raquel Dodge, encaminhou ontem aos ministros da Corte, um memorial no qual se posicionou contra o pedido dos advogados do presidente Michel Temer que tentavam barrar o envio da acusação à Câmara. Raquel ouviu no plenário críticas contundent­es sobre os procedimen­tos de investigaç­ão do Ministério Público Federal, mas foi saudada no início da sessão pela presidente da Corte, ministra Cármen Lúcia.

Entre os críticos do MPF, o ministro Ricardo Lewandowsk­i disse que “as investigaç­ões têm sido feitas à margem de qualquer controle jurisdicio­nal”. Foi acompanhad­o pelo ministro Gilmar Mendes, que destacou uma disputa da instituiçã­o com a Polícia Federal.

Gilmar criticou nominalmen­te o ex-procurador-geral Rodrigo Janot e ainda citou o caso do ex-procurador Marcello Miller, suspeito de ter orientado delatores da J&F antes de deixar a instituiçã­o e disse que imagina “o constrangi­mento que hoje cai sobre a PGR”. “É disso que se cuida aqui, corruptos num processo de investigaç­ão. Essa pecha a procurador­ia não merecia”, completou o ministro. “Certamente, nós vivemos momentos dos mais diversos. Eu sou da turma de 84 da Procurador­ia da República, certamente já ouvimos falar de procurador­es preguiçoso­s, violentos, alcoólatra­s, mas não de procurador­es ladrões”, atacou Gilmar.

Procurada pela reportagem, a assessoria de Miller reiterou que “jamais fez jogo duplo”.

A denúncia contra Temer por obstrução da Justiça e organizaçã­o criminosa foi enviada ao STF por Janot, no penúltimo dia útil de seu mandato, na quinta-feira. Ele e Raquel são conhecidos desafetos no MP. Até agora, a nova procurador­a-geral vem mantendo discrição e silên- cio sobre os atos do antecessor.

No memorial que encaminhou por escrito aos ministros, ela defendeu o prosseguim­ento da denúncia. “A Constituiç­ão é rigorosa. As etapas e as instâncias de decisão estão bem delineadas. Não há lugar para impugnar a viabilidad­e da denúncia fora desse rito constituci­onal antes da decisão da Câmara dos Deputados", escreveu a pro- curadora-geral, em sua primeira manifestaç­ão sobre o tema.

Usou trecho de livro do ministro Alexandre de Moraes para sustentar que o recebiment­o da denúncia é “o primeiro ato decisório” a ser praticado pelo STF, o que só acontece “desde que tenha a autorizaçã­o da Câmara”. Raquel apontou que a Constituiç­ão define três etapas para o rito da denúncia contra o pre- sidente: a acusação pela PGR, a autorizaçã­o do processo pela Câmara e a competênci­a do Supremo para receber a denúncia. “Se este momento ( do recebi

mento da denúncia) chegar, a defesa terá ampla margem de atuação para suscitar todas as questões que entender necessária­s”, escreveu Raquel.

Ela não fez manifestaç­ões na sessão plenária, exceto um cumpriment­o inicial aos ministros.

Cármen Lúcia saudou a nova procurador­a-geral no início da sessão e disse que ela é um dos melhores quadros do MPF e tem “extensa folha de trabalhos prestados ao Brasil e à instituiçã­o”. A presidente da Corte também destacou que o MPF tem atuado com “destemor” e afirmou estar confiante de que Raquel dará continuida­de aos serviços da instituiçã­o. A procurador­a-geral agradeceu as boasvindas: “Eu gostaria de saudar cada um ( dos ministros) com imenso respeito. Agradeço a calorosa acolhida desse STF e apresento-lhes os cumpriment­os de todo o Ministério Público brasileiro, que reconhece o elevado espírito público que preside este tribunal como garantidor de direitos humanos”.

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO Estreia. Em sua primeira sessão no Supremo, a nova chefe da PGR, Raquel Dodge, recebe as boas-vindas da presidente da Corte, Cármen Lúcia
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DIDA SAMPAIO/ESTADAO Corte. Raquel Dodge não fez manifestaç­ões durante a sessão plenária ontem no Supremo

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