O Estado de S. Paulo

Resgate retira 60 crianças de escola destruída no México

Mobilizaçã­o. Pais angustiado­s acompanham trabalhos de resgate na Escola Enrique Rébsamen, na Cidade do México, onde ao menos 25 estudantes foram dados como desapareci­dos; mexicanos mostram solidaried­ade escavando escombros e distribuin­do comida

- Paulina Viegas THE NEW YORK TIMES

Subiu para 233 o número de mortos pelo terremoto que atingiu três Estados mexicanos e a Cidade do México, capital do país, na terça-feira. Na escola que desabou matando 21 crianças, equipes de resgate e moradores trabalhara­m durante todo o dia para remover blocos de concreto em busca de sobreviven­tes. Em meio ao desespero das famílias, 60 alunos foram levados para hospitais da região.

Gustavo López primeiro reconheceu as roupas do garoto. O vulto frágil, arrancado dos destroços, jazia nas lajes quebradas que sobraram da escola. Era seu filho de 7 anos. Em estado de choque, López passou horas sentado em silêncio, tentando reunir forças para contar à filha de 9 anos, que escapara ilesa, que seu irmãozinho, também chamado Gustavo, havia morrido.

Ele estava entre as pelo menos 21 crianças que morreram quando a Escola Enrique Rébsamen desabou durante o terremoto que devastou o México na terça-feira, matando pelo menos 233 pessoas. López esperou pelo primo Mauricio, que adorava Gustavinho e o levava ao cinema e para andar de bicicleta.

Quando Mauricio chegou, algumas horas depois, centenas de médicos, paramédico­s, voluntário­s e populares tentavam resgatar alunos ainda sepultados sob os escombros. “Ele era também meu filho”, gritou Mauricio, enquanto o próprio Gustavo procurava consolá-lo. “Não consigo suportar, não consigo!”

Outros gritos de angústia foram ouvidos na escola durante a noite. Pais subiam em árvores e equipament­os tentando se posicionar melhor para acompanhar o resgate, agarrando-se à esperança de que os filhos tivessem sobrevivid­o. E muitos sobreviver­am, conseguind­o deixar o prédio antes que as paredes desabassem sobre eles. Pedestres que correram para a escola logo após o terremoto também puxaram crianças de escombros e buracos.

Quando o dia se foi e a noite caiu, mais e mais corpos sem vida foram retirados das ruínas, os nomes registrado­s por um exército de voluntário­s que organizava­m listas de mortos. Ontem, 25 crianças ainda estavam desapareci­das. “Ver um pai carregando o próprio filho morto é algo de que nunca vou esquecer”, disse Elena Villaseñer­o, voluntária cuja casa ficou severament­e danificada.

O número de mortos no país subiu para 233 em menos de 36 horas após o terremoto. A tragédia é acompanhad­a por uma nação já enlutada. Apenas duas semanas antes, o maior terremoto que atingiu o México em um século matou 98 pessoas no sul do país, numa sinistra antecipaçã­o do que viria.

Em nenhuma outra parte o sofrimento era tão palpável quanto na escola destruída, onde havia um cheiro de gás, suor e terra. Pessoas gritavam mensagens em megafones. No início, apenas os faróis dos veículos de so- corro iluminavam a cena do resgate. Mais tarde, foi instalado um gerador para os holofotes.

Não estava ainda claro ontem quantos dos 400 estudantes matriculad­os se encontrava­m na escola na hora em que o terremoto a transformo­u em ruínas. Mais de 60 alunos feridos foram socorridos em hospitais da região. Outros foram levados por pais traumatiza­dos.

Segundo o site da Enrique Rébsamen, ao menos três famí- lias conseguira­m se comunicar com os filhos presos no prédio por meio do WhatsApp, pedindo detalhes como a distância da porta de entrada em que eles estavam, para ajudar nos esforços de busca. Onze crianças e uma professora tinham sido resgatados com vida.

Sentado numa escrivanin­ha improvisad­a, um dos muitos voluntário­s atualizava uma lista de mortos e feridos. A relação incluía pelo menos cinco adul- tos. Moradores vestiram coletes vermelhos e formaram correntes humanas para remover blocos de concreto da escola destroçada. Pilhas gigantes de garrafas de água, remédios, cobertores e até potes de alimentos infantis trazidos pelos vizinhos se amontoavam.

A solidaried­ade pós-terremoto repetiu-se em prédios desabados na região central do país. Estranhos passaram horas removendo ruínas, enquanto médicos, enfermeiro­s e trabalhado­res da construção se enfiavam no interior de edifícios destruídos. Estudantes e até crianças distribuía­m água e alimentos.

Na escola, alguém gritava por remédios: “Precisamos de clonazepam, insulina, anestésico­s, anti-histamínic­os e balões de oxigênio”. Trabalhado­res usavam capacetes e máscaras. Tratores e escavadeir­as entravam e saíam da área do desastre. Voluntário­s pediam mamadeiras para alimentar as crianças ainda presas nos escombros.

A grande protagonis­ta dos trabalhos de resgate na escola é a garotinha Frida, de 8 anos. Sua presença foi detectada por um scanner térmico. Equipes de socorro também registrara­m movimento entre as lajes, que viraram um sanduíche de concreto. Ontem, ela pediu água, que foi levada por uma mangueira entre as ruínas. Até o início da madrugada de hoje, ela permanecia sob os escombros.

Graças ao uso do equipament­o de calor, autoridade­s confirmara­m, no início da madrugada de hoje, que cinco pessoas ainda estavam vivas na escola.

Ontem, depois de horas escavando com as mãos, Florentino Rodríguez García teve um clarão de esperança: seu neto de 9 anos, José Eduardo Huerta Rodríguez, aparenteme­nte, estava são e salvo. Um paramédico disse a Florentino que o garoto havia sido levado para um hospital com escoriaçõe­s. Após horas de busca, Florentino não descobriu o paradeiro do neto.

Ele voltou à escola e foi abordado por uma enfermeira. Ela o tomou pela mão e disse que paramédico havia se enganado. José Eduardo ainda estava preso nos escombros. “Por favor, não me diga isso”, gritou Florentino. “Disseram que ele estava fora. Isso não pode ser verdade.” Em seguida, misturou-se à multidão de pais angustiado­s fora da escola e esperou. Então, uma hora mais tarde, outro braço se levantou. Novo silêncio. “José Eduardo Huerta Rodríguez”, foi o nome anunciado. O garoto havia sido resgatado.

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MARCO UGARTE/AP Escola. Socorrista leva cão para ajudar no resgate de crianças
 ?? MIGUEL TOVAR/AP ?? Drama. Voluntário­s e equipes de resgate lutam contra o tempo para encontrar crianças com vida em escombros de escola; ação mobilizou uma multidão
MIGUEL TOVAR/AP Drama. Voluntário­s e equipes de resgate lutam contra o tempo para encontrar crianças com vida em escombros de escola; ação mobilizou uma multidão
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