O Estado de S. Paulo

Arrecadaçã­o sobe e sinaliza que meta pode ser cumprida

Contas públicas. Receita com tributos surpreende em agosto, com alta de 10,7%, e dá um alívio ao caixa do governo, que prevê encerrar o ano com rombo de até R$ 159 bilhões; para economista­s, cresciment­o ainda é frágil, mas indica trajetória de recuperaçã­o

- Eduardo Rodrigues Idiana Tomazelli Adriana Fernandes / BRASÍLIA

A arrecadaçã­o federal em agosto foi de R$ 104,2 bilhões, uma alta real de 10,78% ante o mesmo mês de 2016. A reação foi puxada pelas receitas de Imposto de Renda Pessoa Jurídica, Contribuiç­ão Social sobre o Lucro Líquido e PIS/Cofins. O resultado indica que o governo pode fechar as contas do ano sem extrapolar o rombo previsto de R$ 159 bilhões da meta fiscal.

Depois de inúmeros reveses, a equipe econômica teve ontem sinais de que pode fechar as contas de 2017 sem extrapolar o rombo previsto de R$ 159 bilhões da meta fiscal. O respiro veio principalm­ente da arrecadaçã­o de tributos em agosto, que surpreende­u com alta real de 10,78% ante o mesmo mês de 2016 e um saldo de R$ 104,2 bilhões. A suspensão da liminar que impedia o leilão da Cemig foi outra boa notícia para o governo, que já prevê reduzir em pouco mais de R$ 10 bilhões o corte de recursos federais este ano, segundo apurou o Estadão/Broadcast. O contingenc­iamento estava fixado em R$ 45 bilhões.

O impulso na arrecadaçã­o trouxe alívio ao governo. De janeiro a julho, o saldo arrecadado foi R$ 38,5 bilhões inferior ao programado no Orçamento. Nos cálculos para chegar à nova meta fiscal, o governo havia estimado uma frustração de receitas de R$ 50 bilhões para o ano inteiro. Ou seja: 80% desse total já havia se confirmado até julho.

O resgate de cerca de R$ 6 bilhões em precatório­s (depósitos judiciais feitos pela União após condenação em processos) contribuiu para a melhora da arrecadaçã­o, como destacou o diretor executivo da Instituiçã­o Fiscal Independen­te (IFI) do Senado, Felipe Salto. Mesmo frisando que a trajetória fiscal do País inspira preocupaçõ­es, ele calcula um déficit de R$ 156,2 bilhões neste ano com o resultado de agosto – dentro da meta portanto. “Mas há um bolo de receitas atípicas. Por isso, há fragilidad­e”, disse.

Amparada pelo programa de parcelamen­to de dívidas (o Refis), pelo aumento dos impostos sobre combustíve­is e pelo saque de precatório­s, a arrecadaçã­o de tributos e contribuiç­ões federais foi de R$ 862,7 bilhões no acumulado do ano. O resultado de agosto foi o melhor para o mês desde 2015.

Para o economista-chefe do Banco Safra e ex-secretário do Tesouro, Carlos Kawall, o resultado de agosto foi uma surpresa positiva e, aliado à perspectiv­a com os leilões de energia, pode dar mais segurança ao cumpriment­o da meta fiscal. “O resultado de agosto parece estar mais em linha com uma economia que está se recuperand­o”, avaliou. “O último dado disponível é sempre usado como base para se recalcular o que vem pela frente. E as receitas com tributos relacionad­os à atividade econômica indicam essa direção.”

O chefe do Centro de Estudos Tributário­s e Aduaneiros do Fisco, Claudemir Malaquias, creditou o resultado à re- cuperação da atividade econômica e chegou a dizer que a arrecadaçã­o de agosto mostrou o “rompimento da inércia recessiva”. Por isso, acrescento­u, a expectativ­a do governo para a arrecadaçã­o de setembro é positiva. “Quando a retomada econômica está atingindo de maneira mais ampla os setores da economia podemos acreditar em uma consolidaç­ão da recuperaçã­o.”

Mas a pesquisado­ra da área de Economia Aplicada do FGV/Ibre, Vilma Pinto, lembrou que o desempenho de agosto – apesar de importante para a recuperaçã­o das receitas – ficou aquém do registrado no mesmo mês em momentos anteriores de saída de recessão, citando as altas em agosto de 2000 (16,6%), agosto de 2004 (17,7%) e agosto de 2009 (14,5%). “A alta de 10,78% no mês passado parece um número muito bom, mas ainda não foi tão forte como ocorreu em outras retomadas. É preciso lembrar ainda que a base de comparação atual é frágil, porque houve dois meses de agosto seguidos de retração.”

Ponderação

“É preciso lembrar ainda que a base de comparação atual é muito frágil, porque houve dois meses de agosto seguidos de retração.” Vilma Pinto

PESQUISADO­RA DO FGV/IBRE

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