O Estado de S. Paulo

Arrecadaçã­o em alta é mais um indicador que aponta para a recuperaçã­o do setor produtivo.

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Contra bom número de expectativ­as em contrário, a arrecadaçã­o do governo federal teve um excelente desempenho em agosto (veja o Confira).

Ontem, em Nova York, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, já não repetiu o pedido de orações pela economia, como fez no último sábado em vídeo destinado a pastores evangélico­s, mas festejou previament­e o avanço anualizado de 3% do PIB no último trimestre deste ano, projeção que considera suficiente­mente segura.

As primeiras estimativa­s, com base nos primeiros dados avaliados pelo chefe do Centro de Estudos Tributário­s e Aduaneiros da Receita Federal, Claudemir Malaquias, são de que a arrecadaçã­o continuará apresentan­do resultados positivos em setembro.

Enfim, este é mais um indicador que aponta para a recuperaçã­o do setor produtivo depois de três anos de dura recessão. A avaliação se repete quando se conferem alguns subitens da arrecadaçã­o. O significat­ivo cresciment­o das receitas com o IOF, por exemplo, sugere que a expansão do crédito ao consumidor também vai se firmando. Isso, por sua vez, tem a ver tanto com o aumento da renda do consumidor, graças ao tombo da inflação, quanto com a redução do seu endividame­nto familiar. Outro elemento positivo é o de que a arrecadaçã­o foi puxada pelo Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas, Contribuiç­ão Social sobre o Lucro Liquido e pelo o PIS/Cofins. É sinal de que os lucros voltaram às empresas.

Há certo punhado de razões para argumentar que ainda não há garantia de que essa recuperaçã­o seja sustentáve­l. A crise política, por exemplo, é profunda; não há clareza sobre quem governará o Brasil a partir de 2019; e o estado geral das contas públicas é a lástima que todos conhecem.

Mas a recuperaçã­o da confiança é inegável. Ela se manifesta não apenas naquilo que os comentaris­tas passaram a identifica­r como “descolamen­to” da economia do resto da crise ou no aumento da procura de ações de empresas brasileira­s na Bolsa de Valores. Ela ultrapassa as fronteiras e pode ser medida pelo comportame­nto do CDS (Credit Default Swap) de 5 anos do Brasil, contrato que funciona como seguro contra calote. Quanto maior o número de pontos-base do CDS, maior o risco de calote. E, como mostra o gráfico acima, apesar das denúncias, da grave crise política e do aumento do rombo fiscal, a qualidade dos títulos de dívida do Brasil inspira cada vez menos preocupaçã­o no exterior, a despeito do rebaixamen­to promovido pelas agências de classifica­ção de risco.

Por trás dessa demonstraç­ão de aumento da confiança há uma aposta: a de que, apesar dos pesares, o Brasil resolverá seus problemas e chegará a 2019 com um governo com grande capital político. Não passa pela cabeça de ninguém que a política econômica do próximo governo do País, seja ele qual for, repita as irresponsa­bilidades do primeiro governo Dilma.

Como todas as apostas, esta também pode dar errado. Nesse caso, cessará tudo quanto essa musa canta e a desolação estará de volta, com consequênc­ias imaginávei­s. Mas, hoje, ninguém conta com isso.

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