O Estado de S. Paulo

Muitos disputam o papel protagonis­ta da trama eleitoral, mas ninguém veste tal figurino.

- JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO TWITTER: @ZEROTOLEDO BLOGS.ESTADAO.COM.BR/VOX-PUBLICA/ JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO ESCREVE ÀS QUINTAS-FEIRAS

Olíder das pesquisas presidenci­ais corre risco crescente de não poder disputar a eleição. Já o segundo colocado extrapolou as corporaçõe­s fardadas (militar e policial) que representa e surfa a onda conservado­ra nacional. Juntos, têm metade do eleitorado. Outros 25% estão sem candidato. Todos os demais presidenci­áveis se acotovelam no quarto restante. Porém, o cenário será outro em 2018. Para além de Lula e Bolsonaro, haverá “Sr. Desconheci­do”.

Ou “Sra. Desconheci­da”. Ou ambos. Muitos disputam esse papel pro- tagonista da trama eleitoral, mas ninguém conseguiu vestir tal figurino até agora. João Doria trocou de trajes muitas vezes desde que virou prefeito paulistano. Porém, nenhum deles serviu para o que ele pretendia – ou seja, garantir a indicação do PSDB como candidato tucano à cadeira ocupada por Temer.

Alckmin fechou as portas do PSDB com Doria dentro ao insistir em prévias após o prazo de filiação que termina no próximo mês. Se o prefeito tentar usar a janela de troca-troca partidário de abril, terá perdido tempo precioso para seu padrinho. Pior, Doria não decolou nas pesquisas como se imagi- nava. Está patinando nas intenções de voto e gerando menos interações nas mídias sociais. São indícios de que queimou a largada.

No levantamen­to mais recente, o prefeito aparece com 10% das intenções de voto, seu menor patamar desde abril. É o dobro do que os 5% do rival Alckmin, mas o número importa menos do que a tendência. Doria parou de crescer e não é mais novidade.

A pesquisa telefônica do Poder360 não atinge eleitores pobres sem celu- lar (nem quem odeia conversar com gravações), mas, como única sondagem mensal e pública sobre o que pensa o eleitorado, tornou-se importante para monitorar as variações de humor de quem vota – junto com o vaivém de mídias sociais como Facebook.

A pesquisa mostra que o “efeito caravana” que impulsiono­u Lula em agosto evaporou em setembro. No cenário com Alckmin como candidato tucano, o petista oscilou de 26% em julho para 32% no mês passado, mas voltou agora para 27%. O ganho e, depois, a perda das intenções de voto em Lula se deram basicament­e no Nordeste, onde ele fez campanha corpo a corpo em agosto. Após a caravana, só noticiário negativo – delação de Palocci à frente.

Quando Lula sai da urna, o branco e nulo explode porque o PT não tem um proxy óbvio para substituí-lo. Fernando Haddad fica entre 3%e 5%. Jaques Wagner não foi testado, mas nada indica que se sairia muito melhor. Se ganha no Nordeste, perde em São Paulo.

Ciro Gomes (PDT) decidiu se emancipar. Não espera mais o aval de Lula e procura se viabilizar em raia própria. Está difícil ele passar de 6%. Marina Silva (Rede) é uma não candidata que só perde capital eleitoral. Dos nomes conhecidos, sobra o de Bolsonaro, mar- chando em ordem unida avante e para cima.

Oscilações à parte, a tendência do militar aposentado é de cresciment­o. Dos 18% que tinha em abril no Poder360, Bolsonaro oscila hoje entre 24% e 26%, dependendo do cenário. Numa pesquisa face a face, com mais pobres na amostra, talvez ele caísse um pouco. Mas não o suficiente para virar índio. Sem Lula no páreo, Bolsonaro só perde para “Sr. Desconheci­do”: 33% a 34% de eleitores sem candidato, por enquanto (branco e nulo).

Isso quer dizer que Bolsonaro já tem lugar cativo em um eventual segundo turno? Não. Muito mudará até lá. Se o emprego e a renda melhorarem muito (mas muito mesmo), o ministro Meirelles vira presidenci­ável. Outros fardados – ou prelados – podem se animar a dividir a avenida na qual Bolsonaro está trafegando sozinho. E o eleitor segue em busca de quem encarne o “Sr. Desconheci­do”.

Muitos disputam esse papel protagonis­ta da trama eleitoral

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil