O Estado de S. Paulo

Maioria do Supremo nega suspensão de 2ª denúncia

Lava Jato. Sete ministros votam pelo envio da acusação contra Temer para a Câmara; a avaliação de governista­s é de um cenário mais favorável ao presidente no Congresso

- / BEATRIZ BULLA, BRENO PIRES, CARLA ARAÚJO, CLÁUDIA TREVISAN, RAFAEL MORAES MOURA, TÂNIA MONTEIRO e VERA ROSA BRASÍLIA NOVA YORK

A maioria do Supremo Tribunal Federal (STF) negou ontem a suspensão da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer, por organizaçã­o criminosa e obstrução da Justiça. Dos 11 ministros da Corte, seis seguiram o relator da Lava Jato, Edison Fachin, e votaram pelo envio da acusação apresentad­a pelo ex-procurador-geral Rodrigo Janot para análise da Câmara dos Deputados. O julgamento deve ser concluído hoje.

O Palácio do Planalto já esperava pela rejeição do pedido feito pelo advogado de Temer, Antonio Cláudio Mariz de Oliveira. Pouco antes da sessão no Supremo, o presidente disse em Nova York, onde participou da abertura da assembleia-geral da Organizaçã­o das Nações Unidas (ONU), que o Supremo é “soberano”. Temer afirmou que as acusações são “inverdades absolutas”. “Essas coisas devem ser apuradas, e eu não me preocupo minimament­e com isso.”

Enquanto os ministros indicam que não cabe à Corte a análise prévia sobre a validade das provas do acordo dos executivos da J&F nem se deve aguardar a apuração sobre irregulari­dades nas delações de Joesley Batista e Ricardo Saud, a avaliação de parlamenta­res da base é de que Temer vai conseguir derrubar com mais facilidade a segunda denúncia. Ontem à noite, porém, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) – ocupando a Presidênci­a da República em exercício –, acusou o PMDB de “dar facadas nas costas” e ameaçou retaliar o governo após uma disputa por parlamenta­res do PSB (mais informaçõe­s na página A5).

Na primeira denúncia, por corrupção passiva, o plenário da Câmara barrou seu prosseguim­ento com 263 votos. Eram necessário­s pelos menos 342 votos a favor da acusação para que ela fosse aceita. “Não dá para ficar afastando presidente da República como se troca técnico de futebol”, disse o vice-líder do governo na Casa, Beto Mansur (PRBSP). Segundo parlamenta­res, as dúvidas em relação à validade da delação da J&F criaram um clima mais favorável ao governo.

Se confirmada a decisão do STF, a acusação passa a ser avaliada pelos parlamenta­res. “À Câmara dos Deputados compete deliberar por primeiro. Somente após autorizaçã­o da Câmara é que tem cabimento dar prosseguim­ento à persecução criminal no STF. Não cabendo a essa Suprema Corte proferir juízo de ad- missibilid­ade sobre denúncia antes do exame e da autorizaçã­o ou não pela Câmara, igualmente entendo que não cabe a essa Corte proferir juízo antecipado a respeito de eventuais teses defensivas”, afirmou Fachin.

O ministro Luís Roberto Barroso, que seguiu Fachin, reforçou o argumento do ministro-relator. “Caberá à Câmara saber se há ou não interesse público, se há ou não interesse do País, saber se esses fatos ( organizaçã­o criminosa e obstrução da Justiça) realmente acontecera­m”, disse. O ministro destacou que, mesmo que a delação premiada da J&F caísse por qualquer razão, “há um conjunto vasto de provas”, que traz informaçõe­s colhidas em depoimento­s de outros 15 delatores.

‘Encontro’. Acompanhar­am o voto de Fachin, além de Barroso, os ministros Alexandre de Moraes, Rosa Weber, Luiz Fux, Dias Toffoli e Ricardo Lewandowsk­i. Gilmar Mendes, que mais uma vez atacou o acordo da JBS, foi o único posicionam­ento divergen- te ontem. Ainda faltam votar Marco Aurélio Mello, Celso de Mello e Cármen Lúcia.

Apesar do entendimen­to majoritári­o já formado, ministros ressaltara­m que o STF tem um “encontro marcado” com discussões sobre a licitude das provas apresentad­as por executivos da J&F. Os pontos críticos foram comemorado­s pela defesa do presidente. Em sua estreia no Supremo, a procurador­a-geral da República, Raquel Dodge, apresentou manifestaç­ão contra o pedido da defesa de Temer e ouviu, sem rebater, críticas à PGR (mais informaçõe­s na página A6).

 ?? INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO ??
INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO
 ?? ANDRE DUSEK/ESTADÃO ?? Sessão. Plenário do STF durante análise de pedido da defesa do presidente Michel Temer; julgamento deve ser retomado hoje
ANDRE DUSEK/ESTADÃO Sessão. Plenário do STF durante análise de pedido da defesa do presidente Michel Temer; julgamento deve ser retomado hoje

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil