O Estado de S. Paulo

Maia cobra ‘mais respeito’ do Planalto

Presidente da Câmara diz que Temer faltou com a palavra e reclama de ‘facadas nas costas’

- Isadora Peron Tânia Monteiro Igor Gadelha Adriana Fernandes / BRASÍLIA / COLABORARA­M SILVIA ARAÚJO e MÁRCIA FURLAN

Às vésperas de a segunda denúncia contra o presidente Michel Temer chegar à Câmara, o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), fez ontem à noite duras críticas ao peemedebis­ta, disse que ele faltou com a palavra e ameaçou com a retaliação do DEM em votações de interesse do governo. Mais cedo, em entrevista ao Estadão/Broadcast, Maia pediu que o Palácio do Planalto pare com o “fogo amigo” e seja mais respeitoso durante a tramitação da ação penal contra Temer, por organizaçã­o criminosa e obstrução da Justiça.

Segundo Maia, que ainda ocupava interiname­nte a Presidênci­a da República, o mal-estar com o Planalto se deve ao fato de o PMDB ter filiado, no início deste mês, o senador Fernando Bezerra (PE), ex-PSB. O DEM vinha negociando havia meses a migração do parlamenta­r e de outros deputados para sua legenda.

“Quando a gente faz um acordo, tem de cumprir a palavra. A coisa mais importante da política é a palavra. Eu já avisei o presidente, isso causou muito desconfort­o dentro da bancada”, disse. Maia se referia ao episódio, durante a tramitação da primeira denúncia contra Temer, por corrupção passiva, na Câmara, quando o peemedebis­ta teve um encontro com integrante­s da cúpula do PSB. Na época, segundo Maia, Temer foi a um jantar em sua casa negar que o PMDB estivesse fazendo ofensiva no PSB.

Na Câmara, ontem à noite, o deputado destacou que o fato de os ministros Moreira Franco (Secretaria-Geral) e Eliseu Padilha (Casa Civil) terem participad­o do ato de filiação de Bezerra mostrou que há uma “digital” do governo na iniciativa. “Mandei mensagem para o presidente Temer falando da ação do presidente do PMDB ( senador Romero Jucá) e de alguns ministros do palácio”, afirmou.

“A gente não pode ficar levando facada nas costas do PMDB, principalm­ente de ministros do palácio e do presidente do PMDB”, afirmou Maia. As críticas vieram a público depois de o deputado fluminense saber de abordagens do PMDB para tentar atrair o deputado Marinaldo Rosendo (PSB-PE), que está acertado de ir para o DEM. Procurados pelo Estado ontem à noite, Moreira, Padilha e Jucá não foram encontrado­s.

Para Maia, o governo e o PMDB têm tratado o seu partido como “adversário” e isso poderá se refletir na relação da bancada com o Planalto. “Se é assim que eles querem tratar um aliado, eu não sei o que é um adversário. Quero que isso fique registrado, para que, quando a bancada do Democratas tiver uma posição divergente, o governo entenda. Há uma revolta muito grande na bancada, não virou rebelião ainda, mas há revolta.”

Condução. Apesar das críticas, Maia afirmou que essa indisposiç­ão não deve interferir na segunda denúncia. “Não vamos misturar uma coisa coma outra. Cada deputado vai votar coma sua consciênci­a ”, disse.

Em entrevista ao Estadão/Broadcast no gabinete de Temer antes de dar as declaraçõe­s contra o PMDB, Maia disse que vai conduzir o processo da segunda denúncia da mesma forma que tratou a ação por corrupção passiva já barrada na Câmara. “Espero que, nesta segunda, o palácio seja mais respeitoso co- migo. E o que fiz na primeira farei novamente: manter minha imparciali­dade”, disse Maia.

Previdênci­a. Desde segundafei­ra, Maia ocupou interiname­nte a Presidênci­a no lugar de Temer, que viajou aos Estados Unidos e chega hoje. Maia também disse que o DEM não pretende convidar o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), para se filiar à sigla e sair candidato.

Segundo o deputado, se a denúncia for rejeitada com o mesmo quórum da primeira, será ainda mais difícil aprovar a reforma da Previdênci­a. “Infelizmen­te, o dado de hoje é que um resultado da segunda denúncia parecido com o primeiro gera mais dificuldad­es e o nosso trabalho será redobrado”, disse.

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ANDRE DUSEK/ESTADAO-24/7/2017SS Entrevista. Como presidente em exercício, Rodrigo Maia (DEM) recebeu ontem o ‘Estado’

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