O Estado de S. Paulo

DESAGRAVO COM QUEIJO E LINGUIÇA

Presidente em exercício da Câmara comanda manifesto contra apreensão no Rock in Rio

- Leonencio Nossa / BRASÍLIA

Logo abaixo de um óleo sobre tela sem proteção de Iberê Camargo, o presidente em exercício da Câmara, Fábio Ramalho (PMDB-MG), montou uma mesa de queijos artesanais e travessas de linguiças fritas. Ele abriu a sala da presidênci­a da Casa para um ato de “desagravo” a Minas Gerais, depois que a Vigilância Sanitária apreendeu produtos sem o selo do Serviço de Inspeção Federal (SIF) no stand da chef Roberta Sudbrack no Rock in Rio, no fim de semana passado. Produtores e parlamenta­res mineiros e até o ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, comparecer­am ao manifesto.

Fábio Ramalho ainda reali- zou uma romaria de deputados para levar os queijos até o gabinete do presidente da República em exercício, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Ele foi pedir uma Medida Provisória para isentar os produtos artesanais do controle do Ministério da Agricultur­a. Atualmente, os produtos passam apenas pela inspeção dos órgãos estaduais e dependem do selo federal para serem comerciali­zados em outro Estado. A Lei 7.889, de novembro de 1989, veda o comércio interestad­ual e internacio­nal desses produtos.

Ele disse que a ideia do ato partiu de Carolina Pimentel, mulher do governador mineiro, Fernando Pimentel (PT). Em discurso muito aplaudido, ele afirmou que Minas faz política diferente dos demais Estados quando estão em jogo interesses estaduais. “Em Minas não tem PT, PMDB ou PSDB. O nosso partido é o partido mineiro”, afirmou. “Quem nasce no Rio, por exemplo, é carioca. Em Minas é mineiro. Somos o único lugar do País onde a pessoa nasce trabalhado­ra.”

O senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) foi um dos que comparecer­am ao ato. “Essa é uma das questões mais relevantes de Minas Gerais”, afirmou. “A cadeia do queijo é formada por 35 mil famílias de produtores mineiros”, ressaltou. O deputado Renato Andrade (PPMG), por sua vez, relatou que o que houve foi uma “falta de respeito” com Minas e “o melhor queijo do mundo”. Mesma visão teve seu colega Eros Biondini (PROS-MG): “O queijo de Minas foi tratado como lixo no Rock in Rio”.

Fritura. Após comer queijo, o ministro Sérgio Sá Leitão foi questionad­o se a sala, com obras de Iberê Camargo, Volpi e Dário Mecatii, era o lugar apropriado para se apreciar frituras. “Eu não avaliei isso. Não percebi que isso estava acontecend­o”, disse o ministro próximo de Pouso, uma tela de 55 cm por 95 cm, pintada em 1973 por Iberê Camargo, e da mesa de queijos e linguiças. “A fritura não está acontecend­o agora? Já foi feita?”, questionou. Da moldura sem vidro da tela à mesa, eram cerca de 40 centímetro­s. A sala estava impregnada pelo cheiro da fritura.

Nenhum parlamenta­r de Pernambuco foi convidado. O queijo apreendido no Rock in Rio foi comprado por Roberta Sudbrack de produtores de Gravatá, no agreste pernambuca­no. A linguiça apreendida era de São Paulo. “A questão é uma causa nacional, não é específica de Minas”, disse o ministro. Ele defendeu uma maior circulação comercial dos produtos regionais dos Estados.

‘Lixo’ “O queijo de Minas foi tratado como lixo no Rock in Rio (onde houve apreensão do produto).” Eros Biondini (PROS-MG) DEPUTADO FEDERAL

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ANDRE DUSEK/ESTADÃO Fritura. Mesa com queijos e linguiças foi montada abaixo de obra de Iberê Camargo

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