Comissão convida Jungmann para explicar declaração de general
Colegiado do Senado quer ouvir ministro da Defesa sobre fala de secretário do Exército sobre intervenção militar
‘Certeza’ “Conheço ( o ministro da Defesa, Raul) Jungmann já há muito tempo e tenho certeza de que ele virá.” Paulo Paim (PT-RS) VICE-PRESIDENTE DA COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS DO SENADO
A Comissão de Direitos Humanos do Senado aprovou ontem um convite ao ministro da Defesa, Raul Jungmann, para prestar esclarecimentos sobre as declarações do secretário de Economia e Finanças do Exército, general Antônio Hamilton Mourão, sobre uma suposta intervenção militar no País.
Em palestra na semana passada, que foi filmada e realizada na Loja Maçônica Grande Oriente, em Brasília, Mourão afirmou que os “companheiros do alto-comando do Exército” entendem que uma “intervenção militar” poderá ser adotada se o Judiciário “não solucionar o problema político”.
A convocação do ministro foi requisitada pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), mas transformada em convite na reunião do colegiado na manhã de ontem. A transformação da convocação em convite foi uma sugestão do senador Sérgio Petecão (PSD-AC).
“Conheço Jungmann já há muito tempo e tenho certeza de que ele virá”, disse o senador Paulo Paim (PT-RS), vice-presidente da comissão.
Sem punição. Anteontem, em entrevista ao programa Conversa com Bial, da TV Globo, o comandante do Exército brasileiro, general Eduardo Villas Bôas, minimizou as declarações de Mourão e disse que ele não será punido, sob o argumento de que é neces- sário contextualizar sua fala, que se deu em um ambiente fechado, após ter sido provocado. “Ele ( Mourão) não fala pelo alto-comando, quem fala pelo alto-comando e pelo Exército sou eu.”
No pedido, Randolfe criticou a “absurda e inquietante omissão do governo, em relação a essa afronta direta à Constituição e à democracia”. “De fato, não houve notícia, até o presente momento, de quaisquer reações do ministro da Defesa e do presidente da República, no que tange a essa grave ameaça às instituições democráticas brasileiras”, disse o senador.
Em entrevista ao Estado publicada na segunda-feira, Mourão afirmou que não estava “insuflando nada” ou “pregando intervenção militar” e que a interpretação das palavras dele “é livre”. Ele afirmou ainda que na palestra falava no próprio nome, não no do Exército.
Oficiais-generais ouvidos pelo Estado haviam criticado a fala de Mourão, considerada “desnecessária”.
Na entrevista ao jornalista Pedro Bial, Villas Bôas disse que “ditadura nunca é melhor” e que é preciso entender que o regime militar (1964-1985) ocorreu em um momento com Guerra Fria e polarização ideológica. Hoje, segundo ele, o País tem instituições amadurecidas e um sistema de peso e contrapeso que dispensa a sociedade de ser tutelada. Ainda sobre Mourão, Villas Bôas afirmou que ele é “um grande soldado, uma figura fantástica, um gauchão”.