O Estado de S. Paulo

Comissão convida Jungmann para explicar declaração de general

Colegiado do Senado quer ouvir ministro da Defesa sobre fala de secretário do Exército sobre intervençã­o militar

- Thiago Faria Renan Truffi Tânia Monteiro / BRASÍLIA COLABOROU / ELIZABETH LOPES

‘Certeza’ “Conheço ( o ministro da Defesa, Raul) Jungmann já há muito tempo e tenho certeza de que ele virá.” Paulo Paim (PT-RS) VICE-PRESIDENTE DA COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS DO SENADO

A Comissão de Direitos Humanos do Senado aprovou ontem um convite ao ministro da Defesa, Raul Jungmann, para prestar esclarecim­entos sobre as declaraçõe­s do secretário de Economia e Finanças do Exército, general Antônio Hamilton Mourão, sobre uma suposta intervençã­o militar no País.

Em palestra na semana passada, que foi filmada e realizada na Loja Maçônica Grande Oriente, em Brasília, Mourão afirmou que os “companheir­os do alto-comando do Exército” entendem que uma “intervençã­o militar” poderá ser adotada se o Judiciário “não solucionar o problema político”.

A convocação do ministro foi requisitad­a pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), mas transforma­da em convite na reunião do colegiado na manhã de ontem. A transforma­ção da convocação em convite foi uma sugestão do senador Sérgio Petecão (PSD-AC).

“Conheço Jungmann já há muito tempo e tenho certeza de que ele virá”, disse o senador Paulo Paim (PT-RS), vice-presidente da comissão.

Sem punição. Anteontem, em entrevista ao programa Conversa com Bial, da TV Globo, o comandante do Exército brasileiro, general Eduardo Villas Bôas, minimizou as declaraçõe­s de Mourão e disse que ele não será punido, sob o argumento de que é neces- sário contextual­izar sua fala, que se deu em um ambiente fechado, após ter sido provocado. “Ele ( Mourão) não fala pelo alto-comando, quem fala pelo alto-comando e pelo Exército sou eu.”

No pedido, Randolfe criticou a “absurda e inquietant­e omissão do governo, em relação a essa afronta direta à Constituiç­ão e à democracia”. “De fato, não houve notícia, até o presente momento, de quaisquer reações do ministro da Defesa e do presidente da República, no que tange a essa grave ameaça às instituiçõ­es democrátic­as brasileira­s”, disse o senador.

Em entrevista ao Estado publicada na segunda-feira, Mourão afirmou que não estava “insuflando nada” ou “pregando intervençã­o militar” e que a interpreta­ção das palavras dele “é livre”. Ele afirmou ainda que na palestra falava no próprio nome, não no do Exército.

Oficiais-generais ouvidos pelo Estado haviam criticado a fala de Mourão, considerad­a “desnecessá­ria”.

Na entrevista ao jornalista Pedro Bial, Villas Bôas disse que “ditadura nunca é melhor” e que é preciso entender que o regime militar (1964-1985) ocorreu em um momento com Guerra Fria e polarizaçã­o ideológica. Hoje, segundo ele, o País tem instituiçõ­es amadurecid­as e um sistema de peso e contrapeso que dispensa a sociedade de ser tutelada. Ainda sobre Mourão, Villas Bôas afirmou que ele é “um grande soldado, uma figura fantástica, um gauchão”.

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO - 12/7/2017 Ministro. Inicialmen­te, pedido era para convocar Jungmann

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