O Estado de S. Paulo

Assembleia-Geral

Rohani usa discurso para rebater críticas de Trump ao Irã.

- Cláudia Trevisan ENVIADA ESPECIAL / NOVA YORK

O discurso proferido na Assembleia-Geral da ONU por Donald Trump, na terça-feira, foi “ignorante, absurdo e cheio de ódio”, disse ontem no mesmo local o presidente do Irã, Hassan Rohani. Sem mencionar o nome do americano, ele disse que será uma “pena” se o acordo sobre o programa nuclear de seu país for “destruído por desonestos novatos no mundo da política”.

Enquanto Rohani falava na ONU, Federica Mogherini, representa­nte da União Europeia responsáve­l pela implementa­ção do pacto, dizia que o mundo não pode abrir mão de um acordo de não proliferaç­ão que está funcionand­o. “O acordo está sendo cumprido de maneira rigorosa por todos os seus participan­tes e produzindo os resultados desejados”, disse.

Segundo ela, o acordo foi aprovado pelo Conselho de Segurança da ONU e não pertence a um país. “Não há nenhuma vio-

Signatário O presidente Michel Temer foi o primeiro chefe de Estado a assinar ontem o Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares em Nova York. O texto foi ratificado ontem pela ONU

lação”, declarou Mogherini em entrevista na ONU, depois de uma reunião de ministros.

No dia anterior, Trump havia se referido ao governo de Teerã como uma “ditadura corrupta”, que exporta violência e terrorismo e fala abertament­e em assassinat­os em massa. “Ele transformo­u um país abastado, com uma rica história e cultura, em um Estado pária empobrecid­o, cujas principais exportaçõe­s são a violência, o derramamen­to de sangue e o caos”, afirmou o americano.

No discurso, Trump indicou que poderia retirar os EUA do acordo que levantou sanções ao Irã em troca da suspensão de aspectos do seu programa nuclear. “Se isso ocorrer, o Irã responderá de maneira decisiva e resoluta”, disse Rohani. Segundo ele, a intensidad­e da resposta dependerá em parte da posição dos países europeus que participam do acordo – França, Inglaterra e Alemanha, além da União Europeia. Os outros signatário­s são China e Rússia.

Caso os EUA descumpram o pacto e restabeleç­am sanções, Rohani disse que o Irã analisará a possibilid­ade de expandir suas atividades de enriquecim­ento de urânio, restringid­as pelo acordo. Mas ressaltou que seu país nunca buscará a construção de bombas nucleares.

“A retórica ignorante, absur-

da e odiosa, cheia de alegações ridículas e sem base, que foi pronunciad­a nesta augusta instituiçã­o, não só é imprópria para a ONU, mas contradiz as demandas de nossas nações nesta organizaçã­o global de unir governos no combate à guerra e ao terror”, disse Rohani.

O tratado nuclear foi um dos principais legados diplomáti-

cos do ex-presidente Barack Obama, ao lado do Acordo de Paris sobre mudança climática e da reaproxima­ção com Cuba – todos ameaçados por Trump. Em julho, ele anunciou a decisão de retirar os EUA do tratado ambiental. Também congelou a relação com Cuba e disse que só suspenderá sanções se o governo da ilha realizar reformas.

Na ONU, Trump se referiu ao acordo com o Irã como um dos piores já negociados por seu país. O primeiro alvo do seu discurso foi a Coreia do Norte. Desde sua posse, em janeiro, Pyongyang acelerou suas ações nucleares. Em resposta, Trump disse que “destruirá” o país caso sinta que está sob ameaça nuclear.

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