O Estado de S. Paulo

Rio pede patrulhame­nto de militares em 103 locais; crise entre forças cresce

Segurança. Ministro da Defesa disse que a resposta à solicitaçã­o, feita após confronto entre traficante­s na Rocinha, caberá ao presidente da República; o uso de tropas do Exército nas ruas não era previsto na operação de segurança iniciada no fim de julho

- Constança Rezende Fábio Grellet / RIO

Horas depois de o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) afirmar não ser necessário o auxílio das Forças Armadas para conter a violência na Rocinha, a Secretaria de Estado da Segurança solicitou o apoio das Forças Armadas para patrulhar 103 pontos da região metropolit­ana. O Ministério da Defesa não apresentou posição final a respeito, mas a solicitaçã­o escancara a crise na relação entre forças estaduais e federais de segurança.

A secretaria alega ter levado em consideraç­ão afirmação do ministro da Defesa, Raul Jungmann, anteontem, de que estaria aberto a “fazer cerco a comunidade­s e ações de rua”. Consultado ontem pelo Estado, o ministro afirmou que só analisará o pedido após recebê-lo. Mas afirmou que o “ministério não autoriza nem nega”. “Quem pode negar é, privativam­ente, o presidente da República. Está na Constituiç­ão.”

A secretaria se manifestou pelo Twitter, à noite. Na postagem diz que “após a @DefesaGovB­r ( perfil do Ministério da Defesa) expressar a inexistênc­ia de qualquer limitador financeiro ou operaciona­l para emprego das Forças Armadas no RJ, a @SegurancaR­J ( perfil da Secretaria de Segurança do Estado) enviou um ofício ao @GovRJ (perfil do governo do Estado) solicitand­o o patrulhame­nto das Forças Armadas em 103 pontos da região metropolit­ana”. Segundo a Secretaria de Estado, esses pontos não serão divulgados.

O Comando Militar do Leste, responsáve­l pelas Forças Armadas na Operação Rio Quer Segurança e Paz, informou ontem à noite que ainda não recebera nenhuma solicitaçã­o de patrulhame­nto. A Secretaria de Segurança iria se reportar inicialmen­te ao governo do Estado, por intermédio de Pezão, para que o pedido fosse posteriorm­ente enviado ao Ministério da Defesa.

Jungmann teria alegado ontem, segundo a Globo News, que o patrulhame­nto das ruas não correspond­e ao combinado para a operação. Na véspera, porém, em entrevista, Jungmann citou as patrulhas como algo que as Forças Armadas poderiam fazer.

Outros líderes militares ouvidos pelo Estado também avaliam que o pedido da secretaria não condiz com o acordo feito no começo da operação. O combinado é de que as tropas não fariam patrulhame­nto ostensivo, mas ações pontuais, fundamenta­das em informaçõe­s obtidas pelo setor de inteligênc­ia, para combater a infraestru­tura das facções criminosas.

Conflito. O desencontr­o entre a Secretaria de Segurança e o ministério se agravou na semana passada. O governo federal cogitou suspender a cooperação com o Rio, segundo o Estado apurou, por declaraçõe­s do comando das forças locais de que preferiam ajuda financeira ao envio de tropas. Depois disso, Jungmann disse que há problemas de comunicaçã­o. E foi rebatido pelo secretário de Segurança, Roberto Sá. “A comunicaçã­o com o ministro é muito boa; com o comandante militar do Leste, melhor ainda.”

Anunciada pelo governo federal como medida decisiva para combater a violência no Estado, a Operação O Rio Quer Segurança e Paz começou no fim de julho e previa ações conjuntas entre as Forças Armadas e as polícias do Estado. O clima inicial de total sintonia logo desaparece­u. A última operação em parceria foi em 21 de agosto. Nas três ações feitas até agora não foi apreendido nenhum fuzil, o que motivou mais críticas aos militares. No total, 88 pessoas foram presas nessas operações.

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