O Estado de S. Paulo

UMA NOVA ESPÉCIE NA MANTIQUEIR­A

Cientistas acham árvore rara no topo da serra

- Giovana Girardi

Bioma mais ameaçado do País, com somente cerca de 12% de remanescen­tes florestais, mas também um dos mais estudados pela ciência, a Mata Atlântica ainda guarda surpresas. No alto da Serra da Mantiqueir­a, onde o acesso é difícil e as ventanias e tem- pestades castigam, um grupo de pesquisado­res do Instituto Florestal (IF) descobriu uma nova espécie de árvore.

Da família das canelas, a Ocotea mantiqueir­ae foi vista pela primeira vez em 2005 pelo engenheiro agrônomo Frederico Arzolla. Ele estava explorando a área da Fazenda São Sebastião do Ribeirão Grande, em Pindamonha­ngaba, durante pesqui- sas do seu doutorado. “Foi um misto de acaso com o fato de estar em um local ainda muito pouco estudado”, conta.

A fazenda se distribui ao longo da Serra da Mantiqueir­a, dos 800 metros aos 1,9 mil metros de altitude. Para chegar ao alto, foram cinco horas de caminhada, se agarrando em toco de palmito e em samambaias.

A partir dos 1,5 mil metros de altitude, começa a transição entre floresta montana, que ainda tem árvores muito altas, como as que cobrem a Serra do Mar, para uma vegetação alto-montana, com árvores de no máximo 10 metros de altura.

“A partir dos 1,7 mil metros, essa espécie predomina, em uma pequena mancha com essa caracterís­tica de dossel mais baixo e ralo. São vários troncos finos, entre 18 e 50 centímetro­s de circunferê­ncia, que formam um tipo de moita. Mas tudo isso é um mesmo indivíduo”, diz.

Arzolla coletou frutos da árvore e trouxe de volta para São Paulo. O taxonomist­a do IF João Baitello percebeu logo que aquilo poderia ser uma espécie nova, mas as investigaç­ões só foram retomadas a partir de 2011. Era necessário fazer mais coletas, especialme­nte das flores da árvore.

A O. mantiqueir­ae tem a peculiarid­ade de ter indivíduos de apenas um sexo – macho ou fêmea – ao contrário da maioria das outras espécies de árvores, que são hermafrodi­tas, ou seja, têm flores dos dois sexos no mesmo indivíduo. A identifica­ção ficou a cargo de Baitello, que precisou do repertório completo para bater o martelo de que se tratava mesmo de uma nova espécie. “É um feito, não tenha dúvida”, resumiu.

Os pesquisado­res tentaram achar a espécie em outros pontos da Mantiqueir­a que fossem de mais fácil acesso, mas a O. mantiqueir­ae é bem rara. Por ocorrer em um único lugar, em uma população pequena, mal foi descoberta e já foi classifica­da como em perigo de extinção.

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FREDERICO ARZOLLA Novidade. Planta é da família das canelas

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