O Estado de S. Paulo

Governo quer privatizar Correios, diz ministro

Moreira Franco afirmou que está em andamento um estudo para a venda da estatal; segundo ele, as pessoas ‘perderam o hábito do uso da carta’

- Ricardo Leopoldo CORRESPOND­ENTE/ NOVA YORK Felipe Frazão André Borges / BRASÍLIA

Os Correios entraram para a lista de estatais que o governo pretende privatizar, um caminho já anunciado para a Eletrobrás, a Casa da Moeda e a Infraero. A confirmaçã­o veio de Nova York. O ministro Moreira Franco, da Secretaria Geral da Presidênci­a, declarou que a venda dos Correios está em estudo, mas que precisa ser feita “com muito cuidado”.

Moreira Franco, que integra a comitiva do presidente Michel Temer aos Estados Unidos, disse que a tendência é que os Correios passem a atuar mais diretament­e no setor de logística, em vez de se concentrar no monopólio postal. “É o mesmo caso da Casa da Moeda, que produ- zia mais de 3 milhões de cédulas por ano e agora está (produzindo) 1 milhão e pouco. As pessoas não usam mais moeda”, destacou. “A situação financeira dos Correios, pelas informaçõe­s que o (Ministério do) Planejamen­to tem e nos passa, é muito difícil. Até porque, do ponto de vista tecnológic­o, há quanto tempo você não manda telegrama? As pessoas perderam o hábito do uso da carta.”

A informação irritou a Federação Nacional dos Trabalhado- res em Empresas dos Correios e Similares (Fentect), que desde terça-feira lidera uma greve dos funcionári­os da estatal, por um reajuste salarial de 8% e correção inflacioná­ria. “Somos contrários à privatizaç­ão. A verdade é que não existe vontade política do governo federal de melhorar a empresa, o que querem é entregar os Correios a preço de banana”, disse José Rivaldo da Silva, secretário-geral da Fentect.

A estatal é presidida por Guilherme Campos, ex-deputado federal por São Paulo e vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicaçõ­es, comandado por Gilberto Kassab. Ambos são do PSD.

Tecnologia •

“A situaçãO dos Correios é muito difícil. Até porque, do ponto de vista tecnológic­o, há quanto tempo você não manda telegrama?” Moreira Franco

MINISTRO DA SECRETARIA GERAL DA

PRESIDÊNCI­A

Déficit. No fim de agosto, Kassab e Campos se reuniram no Palácio do Planalto com Temer e os ministros Moreira Franco, Eliseu Padilha (Casa Civil) e Dyogo Oliveira (Planejamen­to). Eles discutiram a situação financeira da empresa e falaram sobre o Postalis (fundo de pensão da companhia) e o Postal Saúde (plano voltado aos empregados e dependente­s) – uma das maiores causas de déficit anual de cerca de R$ 800 milhões, segundo um integrante da cúpula do ministério. A privatizaç­ão é tida por integrante­s do governo como uma “tendência” pela mudança de perfil da empresa no mercado e a dificulda- de de zerar o déficit, mas não existe uma modelagem pronta.

“A privatizaç­ão é uma hipótese forte com esse buraco que está. Privatizar ou não vai ser uma decisão de governo. Estamos fazendo um esforço para recuperar a empresa. O rombo, quando a gente assumiu, era de cerca de R$ 2 bilhões por ano. A situação está melhorando. Estava morrendo na UTI, agora continua na UTI, mas não está morrendo”, disse Kassab.

O presidente dos Correios, Guilherme Campos, disse ao Estado que soube pela imprensa das declaraçõe­s de Moreira Franco e que não desenvolve nenhum estudo para privatizaç­ão, por orientação do Planalto. “A missão que me foi dada pelo ministro Kassab é a de recuperaçã­o da empresa e não existe um encaminham­ento para privatizaç­ão. Agora, se nada der certo com todos os esforços para sanear a empresa, o governo pode e tem todo o direito de mudar essa orientação.”

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