O Estado de S. Paulo

Leroy fica com área de Congonhas por R$ 40 mi

Negócio, que teve só um interessad­o, corre risco de virar uma disputa administra­tiva ou judicial, pois governo quer conceder o aeroporto

- Lu Aiko Otta / BRASÍLIA

Um consórcio formado pela Leroy Merlin e a Creative Real Estate venceu a disputa pela área de 28,5 mil metros quadrados no Aeroporto de Congonhas. O terreno, antigament­e ocupado pela Vasp, será explorado comercialm­ente pelo prazo de 25 anos e saiu pelo preço mínimo de R$ 40 milhões fixado no edital, uma vez que só houve um concorrent­e. O resultado foi oficializa­do pela Infraero na segunda-feira.

Segundo documentos publicados no site da estatal, os R$ 40 milhões serão pagos em três parcelas, sendo que a primeira, de R$ 20 milhões, será quitada em até dez dias úteis após a assinatura do contrato. As outras duas parcelas, de R$ 10 milhões cada, serão pagas no 12.º e 24.º mês do contrato. Pelo uso do espaço, serão pagos R$ 390 mil ao mês ou 3% do faturament­o bruto, o que for maior.

O negócio, porém, corre sério risco de virar uma disputa administra­tiva ou judicial, por causa da decisão de conceder Congonhas à iniciativa privada. Segundo fontes do governo, não é certo que o concession­ário aceitará e honrará o contrato de exploração daquela área, pois a própria licitação ocorreu em bases controvers­as.

Segundo mostrou o Estado no sábado, aeroportos em vias de serem concedidos estão proibidos de celebrar contratos para exploração de áreas comerciais por prazo superior a 24 meses, conforme determina portaria publicada pelo Ministério dos Transporte­s em abril do ano passado.

Exceções. O processo em andamento na Infraero, porém, não está ilegal. Primeiro, porque a própria portaria admite exceções. E, principalm­ente, por um detalhe: ainda falta publicar um decreto oficializa­ndo a intenção de conceder o Aeroporto de Congonhas, embora o governo já tenha anunciado.

Essa explicação, porém, vem sendo questionad­a nos bastidores. Segundo fontes, a própria ata da reunião do conselho do Programa de Parcerias de Investimen­tos (PPI) que decidiu con- ceder Congonhas já cumpriria o papel de formalizar a decisão.

A licitação do terreno causou desconfort­o em alas do governo. Técnicos já foram procurados por investidor­es internacio­nais que queriam entender por que esse processo foi deflagrado às vésperas da concessão.

Para outros envolvidos, a ação da Infraero tira credibilid­ade da concessão, além de pôr em risco o ágio esperado para o leilão, que tem lance mínimo previsto em R$ 6 bilhões pela outorga. Não é segredo que a estatal é contra a concessão. O ministro dos Transporte­s, Maurí- cio Quintella, já disse que analisará a situação. Há expectativ­a de que ele dê um “freio de arrumação” no processo.

“O que causa perplexida­de é que eles retiraram do concession­ário a opção de como melhor explorar a área”, comentou o advogado Carlos Alberto Siqueira Castro, sócio sênior do escritório Siqueira Castro. Pior ainda no caso de Congonhas, aeroporto que tem pouco espaço para crescer. Para ele a assinatura do contrato poderá afetar negativame­nte os lances no leilão.

O professor da Universida­de de São Paulo Vitor Rhein Schira- to, sócio do RSMC Advogados, acha que o aluguel do terreno não ajuda o processo de concessão de Congonhas: “Ainda assim, é algo em que todos os operadores de aeroporto têm interesse”. Ele acha que, com ou sem contrato de aluguel do terreno, a disputa será grande.

Procurada, a Leroy Merlin não se posicionou.

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DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO Terreno. Área de 28 mil metros quadrados de Congonhas pode virar disputa judicial

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