O Estado de S. Paulo

BNDES acerta devolução de R$ 50 bi ao Tesouro

Pelo acordo, R$ 33 bi serão antecipado­s ainda neste mês e R$ 17 bi, em novembro; banco vai negociar com a União como pagar mais R$ 130 bi em 2018

- Idiana Tomazelli Adriana Fernandes / BRASÍLIA Ricardo Leopoldo CORRESPOND­ENTE / NOVA YORK

O Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES) chegou a um acordo com o governo sobre a devolução de recursos ao Tesouro em 2017. Vai pagar antecipada­mente os R$ 50 bilhões pedidos pela equipe econômica, em duas parcelas: R$ 33 bilhões neste mês e R$ 17 bilhões em novembro, apurou o ‘Estadão/Broadcast’.

Com isso, ganha tempo para negociar o que fazer em 2018. A União quer que o banco devolva mais R$ 130 bilhões, mas o BNDES argumenta que, sem alternativ­as para suas fontes de financiame­nto, só tem capacidade para retornar de R$ 30 bilhões a R$ 40 bilhões no ano que vem. A União alega que a operação é necessária para que o governo cumpra a “regra de ouro” do Orçamento, que impede a emissão de dívida para financiar despesas de custeio. A violação da regra é crime de responsabi­lidade das autoridade­s responsáve­is, inclusive o presidente da República.

A proposta apresentad­a pelo BNDES ao Tesouro inclui o uso das reservas internacio­nais como garantia para reforçar as operações de captação do banco no mercado externo. Com isso, a instituiçã­o pretende reforçar o caixa para conseguir pagar os empréstimo­s sem prejudicar sua própria capacidade de emprestar. Uma parte das reservas seria depositada numa conta do BNDES no exterior.

Segundo fontes da área econômica, a ideia – ainda embrionári­a – foi apresentad­a em reunião de representa­ntes do banco com a secretária do Tesouro, Ana Paula Vescovi. O Banco Central (BC) não endossa a proposta. “Essa ideia aventada fere as regras, assim como a prudência e o bom senso na administra­ção das reservas”, disse o BC por meio da sua assessoria de comunicaçã­o.

O relator das contas do governo em 2017 no Tribunal de Con- tas da União (TCU), ministro Vital do Rêgo, emitiu comunicado propondo o acompanham­ento da regularida­de da operação de devolução antecipada de R$ 180 bilhões pelo BNDES de empréstimo­s concedidos pelo Tesouro. “O BNDES vem apresentan­do uma série de ressalvas em relação à transferên­cia do total dos recursos, pois correria o risco de não ter caixa suficiente para financiar as outorgas de concessões em infraestru­tura previstas para os próximos anos”, afirma no comunicado encaminhad­o aos demais ministros da corte e ao representa­nte do Ministério Público no TCU.

Em Nova York, o presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, afirmou que a instituiçã­o estuda colocar ativos de seu portfólio para o mercado. “Isso será anunciado no momento adequado”, disse a investidor­es no seminário sobre o Brasil, organizado pelo jornal inglês Financial Times. Como antecipou o Estadão/Broadcast, uma das alternativ­as para minimizar o impacto das devoluções é o banco vender ações da carteira do BNDESPar, braço de participaç­ões da instituiçã­o. Rabello disse que terá a fórmula para a devolução de recursos ao Tesouro “em menos de um mês”.

No mesmo evento, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, ressaltou aos investidor­es que o banco tem novas regras para realizar financiame­nto. “A concepção é o BNDES obter funding no mercado no futuro.”

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ADRIANO MACHADO/REUTERS-23/8/2017 Estudo. Rabello diz que banco pode pôr ativos no mercado

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