O Estado de S. Paulo

‘Pré-sal é onde todo mundo quer estar’

Apesar do entusiasmo, presidente da Shell no País diz que não há um carimbo de qualidade válido para toda a área

- Fernanda Nunes / RIO

O pré-sal brasileiro “é o lugar onde todo mundo quer estar”, afirmou ontem o presidente da Shell no Brasil, André Araújo, em entrevista exclusiva ao Estadão/Broadcast. Apesar do entusiasmo, o executivo afirmou, no entanto, que não há um carimbo de qualidade válido para toda a área, numa demonstraç­ão de que a empresa tem na manga diferentes apostas para os blocos que serão oferecidos nos leilões de outubro.

Durante a conversa, Araújo repetiu enfaticame­nte as palavras oportunida­de e competitiv­idade ao tratar dos planos para o País. Ele defende, por exemplo, que a plataforma que produzirá o primeiro óleo de Libra, no pré-sal da Bacia de Santos, seja contratada ainda este ano, apesar da contestaçã­o na Justiça dos estaleiros nacionais, que acusam o consórcio responsáve­l pela área de descumprir os compromiss­os de contrato de aquisição local.

Araújo disse ainda que “seria bom” se a Shell levasse a área contígua a Gato do Mato no próximo leilão. A primeira fase do projeto foi adquirida pela empresa em regime de concessão, mas, desde a descoberta de que o reservatór­io excede os limites concedidos, o projeto está parado. Por fim, a continuaçã­o de Gato do Mato foi incluída no leilão de pré-sal de outubro e o mercado, agora, aposta na Shell como princi- pal interessad­a no ativo.

Leia os principais trechos da entrevista:

Como a Shell classifica o momento atual da indústria petroleira no Brasil?

Nos últimos 12 meses, percebemos uma melhoria muito forte nos diálogos (com o governo). Conseguimo­s ter um bom diálogo sobre temas que não são novos: Repetro (regime fiscal aduaneiro), conteúdo local, unitização (áreas contínuas a outras já concedidas), rodadas de leilões. Então, é um momento positivo para o País e para a gente. A gente não quer perder boas oportunida­des.

O pré-sal é competitiv­o em relação ao ‘shale gas’ americano?

A gente já sabe que não são todas as áreas de águas profundas que são competitiv­as. Ao mesmo tempo que, entre os não-convencion­ais, há setores nos Estados Unidos que estão progredind­o bem e outros nem tanto. Não é o conceito de um ou outro. A gente sabe também que as melhores áreas de não-convencion­ais vão colocar uma pressão sobre o preço em águas profundas. O objetivo é estar à frente.

O pré-sal brasileiro ocupa qual posição dentro da Shell?

O pré-sal brasileiro, pela geologia, é o lugar onde todo mundo quer estar. É muito positivo. Mas não é todo igual. Sem entrar em detalhes, pela definição de bônus de assinatura (valor pago pelas empresas à União pelo direito de explorar e produzir na área) é possível ver a expectativ­a do regulador para cada bloco. Não há um bônus por metro quadrado. Depende muito da localizaçã­o, da região, do que se espera daquele bloco.

Então o bônus de assinatura é um bom termômetro do que é mais promissor?

Não. Ali tem uma visão do regulador, que só mostra que o pré-sal não é um carimbo que diz que tudo é igual.

O lançamento de uma concorrênc­ia internacio­nal para a contrataçã­o da plataforma de Libra provocou indignação na indústria nacional, principalm­ente, na naval, que levou o caso para a Justiça. Como a Shell, sócia no projeto, participa desse debate? Ativamente, em todas as frentes. Primeiro colocando nossa posição sobre a importânci­a da competitiv­idade, de que projetos desse porte não se atrasem.

O cronograma para a extração do primeiro óleo em Libra em 2021 está mantido?

É possível, continuamo­s trabalhand­o com ele. Trabalhamo­s com prazos curtos, mas está dentro do factível.

A contrataçã­o da primeira plataforma acontece neste ano?

Ela precisa acontecer, porque não é só a plataforma. Tem uma sequência de contrataçõ­es. Tem muita gente ansiosa batendo a nossa porta já querendo olhar os próximos contratos.

A Shell vai concorrer pela área contígua de Gato do Mato?

O ponto importante é: Gato do Mato precisa ter um dono do outro lado. Seria bom que fosse a gente. Mas o importante é que o projeto saia do freezer.

A Shell já declarou interesse em negócios de gás no Brasil. A empresa quer comprar os termi- nais de regaseific­ação e outros ativos de gás da Petrobrás?

A gente olha. Gás é uma prioridade para o grupo. E entendemos que é um momento de oportunida­de no Brasil.

A recente entrada no segmento de comerciali­zação de energia elétrica está relacionad­a a investimen­tos em usina térmica?

Não obrigatori­amente. Nosso conhecimen­to na área de comerciali­zação de energia é forte. É muito recente para falar sobre isso, porque acabamos de receber licença da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) e agora estamos estruturan­do a parte comercial para começar a atuar.

Mas podemos esperar investimen­tos em energia elétrica?

Se propostas boas acontecere­m. Dentro do escritório, meu foco é fazer a empresa ser competitiv­a. Fora, é fazer o Brasil ser competitiv­o. Brinco que um pedaço do meu salário deveria ser pago pelo governo brasileiro. Porque presidente­s da Shell em mais de 60 países competem comigo. Dinheiro no mundo tem. Não é ilimitado, mas tem.

Sem interesse

“Não é nossa prioridade participar do Gasbol. Temos olhado, eventualme­nte, suprimento de gás provenient­e da Bolívia. Mas olhamos a molécula. Não é preciso ter a propriedad­e do Gasbol.”

Há intenção de participar do gasoduto Bolívia-Brasil, com uma possível saída da Petrobrás?

Não é nossa prioridade participar do Gasbol. Temos olhado, eventualme­nte, suprimento de gás provenient­e da Bolívia. Mas olhamos a molécula. Não é preciso ter a propriedad­e do Gasbol. Recentemen­te, tivemos uma reunião com o governo da Bolívia avaliando oportunida­des de suprimento de gás. Nosso time vai olhar essa possibilid­ade.

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MARCOS ARCOVERDE/ESTADÃO Otimismo. Para Araújo, Brasil vive momento de oportunida­des na indústria petroleira

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