O Estado de S. Paulo

Juiz nega pedido de proibição de peça

Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu’, com atriz trans, foi mantida na programaçã­o de festival em Porto Alegre

- Luciano Nagel

A Justiça gaúcha negou, na terça-feira, 19, o pedido de cancelamen­to da peça O Evangelho Se

gundo Jesus, Rainha do Céu, durante a programaçã­o do 24.º Porto Alegre Em Cena, que ocorre em Porto Alegre. No início desta semana, um advogado ingressou com uma ação judicial pedindo a proibição do espetáculo na capital. A petição foi ajuizada pelo advogado Pedro Lagomarcin­e, que considera o espetáculo artístico como “um verdadeiro escárnio, um deboche psicodélic­o de mau gosto”.

Na sentença, o juiz José Antônio Coitinho, da 2.ª Vara da Fazenda Pública da Comarca de Porto Alegre, determinou que “sem citar um único artigo de lei, vamos garantir a liberdade de expressão dos homens, das mulheres, da dramaturga transgêner­o e da travesti atriz, pelo mais simples e verdadeiro motivo: porque somos todos iguais. Não se pode censurar a peça sob argumento de que estamos em desacordo com seu conteúdo. A liberdade de expressão tem de ser garantida e não cerceada – pelo Judiciário. Censurar arte é censurar pensamento e censurar pensamento é impedir desenvolvi­mento humano”.

A assessoria de imprensa do Festival Internacio­nal de Artes Cênicas confirmou ao Es

tado a exibição que está marcada para esta quinta, 21, e sextafeira, 22, às 22h, no Teatro Bruno Kiefer da Casa de Cultura Mario Quintana, região cen- tral de Porto Alegre. Na peça traduzida e dirigida por Natalia Mallo, a atriz trans Renata Carvalho recorre à imagem de Jesus para propor reflexões sobre temas como a opressão e a intolerânc­ia contra pessoas trans e outros grupos marginaliz­ados a partir de histórias bíblicas. Na semana passada, o espetáculo havia sido cancelado pela Justiça no município de Jundiaí, em São Paulo, por causa do conteúdo.

A peça, escrita pela transgêner­o inglês Jo Clifford, foi montada pela primeira vez em 2009 na Inglaterra, provocando reações parecidas com a do Brasil em sua estreia. Mais de 300 pessoas agitaram placas contra a autora, cuja mensagem na peça foi considerad­a “blasfema” por fundamenta­listas religiosos.

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LIGIA JARDIM Polêmica. Em cena, a atriz Renata Carvalho

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