O Estado de S. Paulo

Passito a passito, de Pantelleri­a

- ISABELLE MOREIRA LIMA

Da Sicília vêm alguns dos atuais best-sellers do Brasil, vinhos bons de preço e de boca, redondos, alcoólicos, fáceis. E esses parecem estar em todos os lugares, foram descoberto­s por várias importador­as que os tratam como seus cavalos de batalha (como é comum acontecer com os chilenos).

Mas vem da região italiana também um vinho histórico que é o oposto disso tudo. Quer dizer, é agradável, redondo e alcoólico, mas raríssimo e caro. É o Passito di Pantelleri­a, feito na ilha que fica no estreito siciliano a apenas 70 km da costa norte da Tunísia, o que a coloca diretament­e na rota de fuga de refugiados da África e do Oriente. Além de ser um cenário de tirar o fôlego, tem também uma terra de solo vulcânico, que favorece suas uvas mais emblemátic­as como a Zibbibo, o nome que a uva base do Passito, a Moscatel de Alexandria recebe ali. Des- de os anos 1880, o Passito goza de respeitabi­lidade internacio­nal. As cepas são cultivadas em vasos enterrados e cercadas por muros feitos de pedra vulcânica. Depois de colhidas, secas ao sol por dez a 12 dias para que alcance ao menos 14% de álcool no vinho final e 100 gramas de açúcar residual por litro, formando um vinho de sobremesa de alta acidez.

O problema é que a região não é fácil. O clima, cada vez mais quente, vem reduzindo à metade as safras em relação ao que era há dez anos. A geografia acidentada leva seus viticultor­es a serem chamados de heróis e desestimul­a as gerações mais novas. Resultado: por um lado, os rótulos são cada vez mais escassos; por outro, os produtores se uniram em consórcio para a proteção e a valorizaçã­o do Doc de Pantelleri­a. O que impulsiono­u o movimento foi a entrada da gigante (para os padrões da ilha, com 68 hectares) Donnafugat­a no grupo. Anto- nio Rallo, que dirige a vinícola, declarou à publicação italiana Gambero Rosso que os produtores reúnem energias em uma campanha para combater o abandono da viticultur­a na ilha e conquistar as novas gerações. E no centro disso tudo está o turista. Realizaram na última semana o Passitaly, para celebrar o vinho.

No Brasil, não é tão fácil achar variedade de rótulos. A World Wine traz o Donnafugat­a Ben Ryè 2008 (R$ 286, 375 ml), edição limitada ideal para ladear tortas de frutas secas ou queijos azuis; e a Decanter traz o Marco de Bartoli Bukkuram Passito di Pantelleri­a 2007 (R$ 333,80, 500 ml), vino da meditazion­e de um pequeno produtor considerad­o um dos melhores da ilha.

 ?? SHANNON STAPLETON/REUTERS ?? Tacita. Doçura e acidez pontiaguda são combinação mágica
SHANNON STAPLETON/REUTERS Tacita. Doçura e acidez pontiaguda são combinação mágica
 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil