O Estado de S. Paulo

Centrão quer que 2ª denúncia seja fatiada; decisão será da CCJ

Líderes defendem que processo contra Temer seja separado dos casos envolvendo Eliseu Padilha e Moreira Franco; partidos como o PMDB preferem bloco único

- Igor Gadelha Daiene Cardoso / BRASÍLIA COLABOROU BRENO PIRES /

Líderes de partidos do Centrão querem que a Câmara desmembre em pelo menos dois processos a nova denúncia apresentad­a pela Procurador­ia-Geral da República contra o presidente Michel Temer e os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidênci­a). O argumento é de que a denúncia contra o presidente deveria ser separada da dos ministros porque a eventual aceitação da acusação contra Temer teria impacto negativo na economia. Já contra os ministros, que são da área política, não haveria esse

tipo de consequênc­ia. Líderes governista­s defendem a tramitação em uma só peça para acelerar a análise na Casa e evitar que os ministros fiquem vulnerávei­s em votação separada. Entre parlamenta­res governista­s, avaliação é de que o Centrão defende o julgamento separado para pressionar o Planalto por mais cargos e liberação de emendas. Ontem, a Secretaria-Geral da Mesa Diretora da Câmara decidiu não desmembrar a denúncia e encaminhá-la à Comissão de Constituiç­ão e Justiça (CCJ). Caberá ao colegiado definir como proceder. A acusação contra Temer chegou anteontem à Câmara, mas só será encaminhad­a à comissão na segunda-feira.

Líderes de partidos do Centrão querem que a Câmara dos Deputados desmembre em pelo menos dois processos a análise da nova denúncia contra o presidente Michel Temer e os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidênci­a) apresentad­a pela Procurador­ia-Geral da República. Já líderes governista­s defendem que a análise seja feita de forma conjunta na Casa para acelerar o trâmite e evitar que os ministros fiquem vulnerávei­s em uma votação separada.

Ontem, a Secretaria-Geral da Mesa Diretora decidiu não fatiar a denúncia, que será encaminhad­a à Comissão de Constituiç­ão e Justiça (CCJ). Caberá ao colegiado definir.

Parlamenta­res governista­s avaliam que o Centrão defende o julgamento separado para pressionar o Planalto por mais cargos e liberação de emendas, em troca do voto para barrar o prosseguim­ento da denúncia. “Não há razão para fatiamento do parecer”, defendeu o deputado Marcos Rogério (DEM-RO), um dos cotados para relatar a segunda denúncia. Além do parlamenta­r de Rondônia, é cotado para assumir a função o deputado Evandro Gussi (PV-SP).

A nova acusação formal contra Temer chegou anteontem à Câmara, mas só será encaminhad­a à comissão na segundafei­ra, após ser lida no plenário e Temer, notificado. Ontem pela manhã, houve uma tentativa de leitura, mas a sessão não foi aberta por falta de quórum.

A decisão da Mesa Diretora de recusar o desmembram­ento segue interpreta­ção do Supremo Tribunal Federal (STF) de 1990. A jurisprudê­ncia da Corte prevê que, se os ministros são acusados da prática de crime conexo ao do presidente da República no exercício do mandato, eles também precisaria­m de autorizaçã­o da Câmara para serem processado­s. Diferentem­ente da primeira denúncia, que acusava apenas o presidente por crime de corrupção passiva, o segundo pedido incluiu os dois principais auxiliares de Temer no Palácio do Planalto na acusação de obstrução da Justiça e organizaçã­o criminosa.

Líderes do Centrão argumentam que a denúncia contra o presidente deveria ser separada dos ministros porque a eventual aceitação da acusação contra Temer neste momento teria um impacto negativo na economia. Já contra os ministros, que são da área política, não haveria esse tipo de consequênc­ia.

“Uma coisa é o presidente da República, outra coisa são os ministros. A consistênc­ia do impacto que a aceitação da denúncia pode causar, até do ponto de vista econômico, é diferente”,

disse o líder do PSD na Câmara, deputado Marcos Montes (MG), que comanda a quinta maior bancada da Casa, com 39 parlamenta­res.

Segundo Montes, na análise da primeira denúncia contra Temer, o principal argumento usado pelos parlamenta­res da base para barrar o prosseguim­ento da acusação era que um eventual afastament­o do presidente prejudicar­ia a economia.

“Será que os ministros também causam ( impacto na economia)? Acho que não”, disse. “Não estamos aqui para proteger ninguém.”

‘Personagem’. À frente da sexta maior bancada da Câmara, com 38 deputados, o líder do PR na Casa, José Rocha (BA), também defende que os ministros Padilha e Moreira sejam julgados separadame­nte. “Cada per- sonagem é um personagem diferente. Tem que ver a participaç­ão de cada um na denúncia.”

Também integrante­s do Centrão, PTB, Solidaried­ade e PSC seguem a mesma linha. “Entendo que tem que ser separado. Não pode juntar o caso específico do presidente, até porque os ministros não atrapalhar­iam economicam­ente o País”, disse o líder do Solidaried­ade, deputado Aureo (RJ).

Para o líder do PTB, Jovair Arantes (GO), a CCJ deve elaborar três pareceres diferentes: um para Temer e um para cada ministro. ”Tem que separar, até porque são CPFs diferentes”, afirmou. “Não estou disposto a olhar lado de ministro. Não é problema nosso. Temos que fazer dentro da legalidade.”

O líder do PSC, deputado Professor Victório Galli (MT), defende dois relatores, um para Temer e outro para os dois ministros. “A situação do presidente é de foro bem mais privilegia­do.”

“Não tem cabimento julgar separado. Tem que ser junto. Se são acusados do mesmo crime ( organizaçã­o criminosa), não há por que julgar separado”, reagiu o vice-líder do governo na Câmara e integrante da tropa de choque de Temer, deputado Beto Mansur (PRB-SP). Ele admitiu que o julgamento separado pode deixar os ministros mais vulnerávei­s.

Ao enviar a denúncia à Câmara desta vez, o STF não estabelece­u de que forma deve ser feita a análise dela em relação aos ministros. Técnicos parlamenta­res passaram a manhã de ontem reunidos e decidiram não questionar formalment­e a Corte sobre como a Casa deve proceder em relação aos ministros.

Em análise preliminar, o presidente da CCJ, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), avalia que, se a PGR enviou uma única peça, não há motivo para a Câmara desmembrá-la. Técnicos da CCJ também vão estudar o tema, já que o novo pedido tem aspectos diferentes.

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RITO
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ANDRE DUSEK/ESTADÃO - 4/1/2017 Desmembrad­a. Jovair Arantes quer 3 análises diferentes

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