O Estado de S. Paulo

PMs e GCM são condenados a 600 anos por chacina

Somadas, penas são de mais de 600 anos; crime deixou 17 mortos em agosto de 2015

- Felipe Resk

Após 5 dias de julgamento, o Tribunal do Júri de Osasco condenou dois PMs e um guarda-civil metropolit­ano de Barueri por participar da maior chacina da história de SP, com 17 mortos, em agosto de 2015. No total, as penas somam mais de 600 anos de prisão em regime fechado. A juíza Élia Kinosita Bulman, que presidiu o julgamento, chorou ao ler a sentença. A defesa vai recorrer.

Em decisão apertada, o Tribunal do Júri de Osasco condenou ontem dois PMs e um guarda-civil metropolit­ano (GCM) a mais de 600 anos de prisão em regime fechado, consideran­do a soma das penas, por participaç­ão na maior chacina da história de São Paulo. O crime deixou 17 mortos, em agosto de 2015. Responsáve­l por presidir o julgamento, a juíza Élia Kinosita Bulman chorou ao ler a sentença. A defesa recorrerá.

O soldado da Rota Fabrício Eleutério foi condenado a 255 anos, 7 meses e 10 dias de prisão em regime fechado. O soldado da Força Tática do 42.° Batalhão Thiago Heinklain recebeu 247 anos, 7 meses e 10 dias. Já o GCM de Barueri Sérgio Manhanhã foi condenado a 100 anos e 10 meses. Ele era acusado de participar de menos assassinat­os: 11 no total.

“Nós, que trabalhamo­s com o Tribunal do Júri, trabalhamo­s com a dor”, disse a juíza, olhando para duas fileiras do plenário ocupadas por parentes dos mortos. “A gente não se acostuma com as vidas perdidas na cidade.” Para chegar à decisão, o Conselho de Sentença respondeu a cerca de 150 questões.

Os réus foram condenados por homicídio doloso triplament­e qualificad­o. Para os jurados, houve motivo torpe (vingança pela morte de um PM e de um GCM dias antes da chacina) e recurso que impossibil­itou a defesa das vítimas, além da formação de grupo de extermínio.

Os réus também foram condenados por formação de quadrilha e tentativa de homicídio. Para os condenados Eleutério e Henklain, todas as decisões foram pelo placar mínimo, de 4 a 3. Já para Manhanhã, algumas votações acabaram antes da retirada de todas as cédulas.

Já antes da leitura da sentença, Eleutério chorou, aos soluços. Os outros réus se mantive- ram serenos até o fim da sessão.

Com as 119 cadeiras do plenário ocupadas, a reação da maioria da plateia, formada por parentes e amigos dos réus e por guardas-civis de Barueri, foi de tristeza e choro. Entre os ocupantes também estavam membros da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e até de uma secretária municipal de Barue- ri, responsáve­l pela GCM.

“Foi feita justiça. Conseguimo­s dar a resposta às famílias das vítimas e passar a mensagem que ninguém apoia mais os maus policiais e a justiça com as próprias mãos”, afirmou o promotor Marcelo Alexandre de Oliveira. Já o advogado Evandro Capano falou em nome de toda a defesa. “As penas foram muito pesadas.” Para os advogados, a decisão contraria a prova dos autos e o placar apertado denota chance de questionam­ento.

Tensão. Foram cinco dias de julgamento, com 21 testemunha­s ouvidas entre familiares e policiais, além de interrogat­ó- rio dos réus e debates entre as partes. Do lado de fora do fórum de Osasco, faixas em apoio aos dois lados: vítimas e réus.

Houve ao menos dois momentos de tensão. No primeiro, um PM, que chegou a ser preso por suspeita de participar da chacina e acabou sendo arrolado como testemunha de defesa, prestou depoimento virado para o Conselho de Sentença. No outro, o advogado de Eleutério citou, em voz alta, o nome de cada um dos jurados.

O julgamento da chacina também expôs vítimas que eram protegidas da Justiça. Ao menos cinco delas, ouvidas na fase de investigaç­ão ou no tribunal, tiveram o nome verdadeiro ou caracterís­ticas físicas reveladas ao público.

O Ministério Público sabia que seria difícil condenar os réus com base só nas provas do tribunal, por isso apostou em uma estratégia de expor aos jurados uma tese ligando os pontos entre os indícios apresentad­os. Outra dificuldad­e foi que a acusação não conseguiu individual­izar os atos, ou seja, não indicou o que cada réu teria feito nos ataques naquela noite.

Os advogados de defesa tentaram desqualifi­car as provas e apresentar álibis dos réus.

Corregedor­ia

“A gente não queria um culpado, a gente queria o culpado.” Capitão Rodrigo Elias da Silva

CORREGEDOR DA PM

Outro julgamento. Outro réu, o PM Victor Cristilder, teve o processo desmembrad­o e será julgado depois – ainda sem data prevista. A defesa diz que as acusações contra ele foram desmentida­s no curso do processo.

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO Após cinco dias. Promotor é abraçado por parentes de vítimas no lado externo do fórum

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