Coreia do Norte e EUA elevam tom de ataques mútuos
Tensão na Ásia. Em declaração transmitida pela TV e publicada nos principais jornais do país, ditador norte-coreano chama o presidente americano de ‘desequilibrado mental caquético’; Trump diz que ditador é ‘louco’ e será testado como nunca antes
O ditador Kim Jong-un respondeu de forma inédita e direta aos insultos dirigidos a ele por Donald Trump, o que elevou a um novo patamar o confronto entre os dois líderes. Em declaração transmitida pela TV, Kim disse que o presidente dos EUA é um “desequilibrado mental caquético”. Trump chamou-o de louco e disse que será “testado como nunca antes”.
O ditador norte-coreano, Kim Jong-un, abandonou intermediários e decidiu responder de maneira inédita e direta aos insultos feitos a ele por Donald Trump, o que elevou a um novo patamar o confronto entre os dois líderes. Em declaração transmitida pela TV e estampada nas primeiras páginas dos jornais norte-coreanos, Kim disse que o presidente dos EUA é um “desequilibrado mental caquético”. Trump reagiu chamando-o de louco.
Em seu discurso de estreia na Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) na terça-feira, Trump ameaçou “destruir totalmente” o país de 25 milhões de habitantes. Ontem, Kim afirmou que as palavras de Trump o convenceram de que está no caminho “correto”, uma referência velada a sua ambição nuclear.
O presidente americano respondeu no Twitter: “Kim Jongun, da Coreia do Norte, que é obviamente um louco que não se importa em matar ou deixar seu povo faminto, será testado como nunca antes!”.
Discursos, ainda que raros, são um dos traços que distinguem o atual ditador de seu pai, Kim Jong-il, que proferiu uma única frase em público nos 17 anos que comandou o país, e o aproximam de seu avô, Kim Ilsung. Mas esta foi a primeira vez em que o norte-coreano se dirigiu de maneira pública e direta a um líder estrangeiro e fez ameaças a ele perante a população da Coreia do Norte. Até ontem, os ataques aos EUA costu- mavam ser feitos por comunicados divulgados pelo Estado. Apesar de as telas de TV mostrarem a imagem de Kim lendo sua declaração, não foi sua voz que a acompanhou, mas a de uma locutora.
“Isso é totalmente sem precedentes”, disse ao New York Times o especialista em Coreia do Norte Paik Hak-soon, do Sejong Institute, da Coreia do Sul. “Da maneira em que a liderança suprema da Coreia do Norte funciona, Kim Jong-un tem de responder de maneira mais assertiva na medida em que seu inimigo se torna mais agressivo, como Trump se tornou.” Segun- do ele, “não há recuo no livro de regras da Coreia do Norte”.
Antes da divulgação da mensagem, o chanceler norte-coreano, Ri Yong-ho, disse em Nova York que Pyongyang poderia testar uma bomba de hidrogênio sobre o Oceano Pacífico. Se a ameaça for cumprida, essa será a primeira atividade do tipo desde 1980 e desrespeitará o consenso internacional que veta a realização de testes atmosféricos. Os seis realizados até agora pela Coreia do Norte foram subterrâneos.
Apesar de Ri ter declarado que não sabia a posição de Kim sobre o assunto, é improvável que ele tenha feito a ameaça sem a autorização do ditador.
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, comparou a escalada verbal entre Trump e Kim a uma “briga entre crianças no jardim de infância”. Em entrevista na sede da ONU em Nova York, ele pediu a todos os lados que “esfriem a cabeça” e busquem uma solução pacífica para o impasse. “É inaceitável simplesmente relaxar e testemunhar os jogos nucleares e militares da Coreia do Norte, mas também é inaceitável começar uma guerra na península.”
No comunicado divulgado ontem, Kim afirmou que Trump fez a mais “feroz declaração de guerra” da história de seu país e prometeu responder à altura, sem revelar as possíveis ações que poderá adotar. O regime norte-coreano costuma repetir ameaças extremas, que quase nunca são concretizadas. Ontem, foi a primeira vez em que o próprio Kim as apresentou.
O ditador disse que Trump é “inapto” para comandar os EUA e “é certamente um desonesto e um gângster que gosta de brincar com fogo”.
As declarações foram feitas um dia depois de o governo americano anunciar sanções unilaterais sobre bancos que financiem o comércio com a Coreia do Norte ou realizem negócios com o país. Isso restringirá o fluxo de recursos a Pyongyang de instituições internacionais que têm vínculos com o sistema financeiro americano.