O Estado de S. Paulo

Coreia do Norte e EUA elevam tom de ataques mútuos

Tensão na Ásia. Em declaração transmitid­a pela TV e publicada nos principais jornais do país, ditador norte-coreano chama o presidente americano de ‘desequilib­rado mental caquético’; Trump diz que ditador é ‘louco’ e será testado como nunca antes

- Cláudia Trevisan ENVIADA ESPECIAL / NOVA YORK

O ditador Kim Jong-un respondeu de forma inédita e direta aos insultos dirigidos a ele por Donald Trump, o que elevou a um novo patamar o confronto entre os dois líderes. Em declaração transmitid­a pela TV, Kim disse que o presidente dos EUA é um “desequilib­rado mental caquético”. Trump chamou-o de louco e disse que será “testado como nunca antes”.

O ditador norte-coreano, Kim Jong-un, abandonou intermediá­rios e decidiu responder de maneira inédita e direta aos insultos feitos a ele por Donald Trump, o que elevou a um novo patamar o confronto entre os dois líderes. Em declaração transmitid­a pela TV e estampada nas primeiras páginas dos jornais norte-coreanos, Kim disse que o presidente dos EUA é um “desequilib­rado mental caquético”. Trump reagiu chamando-o de louco.

Em seu discurso de estreia na Assembleia-Geral da Organizaçã­o das Nações Unidas (ONU) na terça-feira, Trump ameaçou “destruir totalmente” o país de 25 milhões de habitantes. Ontem, Kim afirmou que as palavras de Trump o convencera­m de que está no caminho “correto”, uma referência velada a sua ambição nuclear.

O presidente americano respondeu no Twitter: “Kim Jongun, da Coreia do Norte, que é obviamente um louco que não se importa em matar ou deixar seu povo faminto, será testado como nunca antes!”.

Discursos, ainda que raros, são um dos traços que distinguem o atual ditador de seu pai, Kim Jong-il, que proferiu uma única frase em público nos 17 anos que comandou o país, e o aproximam de seu avô, Kim Ilsung. Mas esta foi a primeira vez em que o norte-coreano se dirigiu de maneira pública e direta a um líder estrangeir­o e fez ameaças a ele perante a população da Coreia do Norte. Até ontem, os ataques aos EUA costu- mavam ser feitos por comunicado­s divulgados pelo Estado. Apesar de as telas de TV mostrarem a imagem de Kim lendo sua declaração, não foi sua voz que a acompanhou, mas a de uma locutora.

“Isso é totalmente sem precedente­s”, disse ao New York Times o especialis­ta em Coreia do Norte Paik Hak-soon, do Sejong Institute, da Coreia do Sul. “Da maneira em que a liderança suprema da Coreia do Norte funciona, Kim Jong-un tem de responder de maneira mais assertiva na medida em que seu inimigo se torna mais agressivo, como Trump se tornou.” Segun- do ele, “não há recuo no livro de regras da Coreia do Norte”.

Antes da divulgação da mensagem, o chanceler norte-coreano, Ri Yong-ho, disse em Nova York que Pyongyang poderia testar uma bomba de hidrogênio sobre o Oceano Pacífico. Se a ameaça for cumprida, essa será a primeira atividade do tipo desde 1980 e desrespeit­ará o consenso internacio­nal que veta a realização de testes atmosféric­os. Os seis realizados até agora pela Coreia do Norte foram subterrâne­os.

Apesar de Ri ter declarado que não sabia a posição de Kim sobre o assunto, é improvável que ele tenha feito a ameaça sem a autorizaçã­o do ditador.

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, comparou a escalada verbal entre Trump e Kim a uma “briga entre crianças no jardim de infância”. Em entrevista na sede da ONU em Nova York, ele pediu a todos os lados que “esfriem a cabeça” e busquem uma solução pacífica para o impasse. “É inaceitáve­l simplesmen­te relaxar e testemunha­r os jogos nucleares e militares da Coreia do Norte, mas também é inaceitáve­l começar uma guerra na península.”

No comunicado divulgado ontem, Kim afirmou que Trump fez a mais “feroz declaração de guerra” da história de seu país e prometeu responder à altura, sem revelar as possíveis ações que poderá adotar. O regime norte-coreano costuma repetir ameaças extremas, que quase nunca são concretiza­das. Ontem, foi a primeira vez em que o próprio Kim as apresentou.

O ditador disse que Trump é “inapto” para comandar os EUA e “é certamente um desonesto e um gângster que gosta de brincar com fogo”.

As declaraçõe­s foram feitas um dia depois de o governo americano anunciar sanções unilaterai­s sobre bancos que financiem o comércio com a Coreia do Norte ou realizem negócios com o país. Isso restringir­á o fluxo de recursos a Pyongyang de instituiçõ­es internacio­nais que têm vínculos com o sistema financeiro americano.

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ED JONES/AP Mais tensão. Norte-coreanos ouvem inusitada declaração de Kim em telão diante da estação de trem de Pyongyang

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