O Estado de S. Paulo

Maiores represas do País enfrentam seca histórica

Lago de Sobradinho (BA) deve atingir volume morto e usina será desligada; Serra da Mesa (GO) está com menos de 10% da capacidade

- André Borges / BRASÍLIA

A pior seca dos últimos 100 anos tem testado os limites de alguns dos maiores reservatór­ios do País. Na Bahia, o lago de Sobradinho, terceiro maior do Brasil em volume de água, enfrenta a estiagem com apenas 5% de sua capacidade total de armazename­nto, menos da metade do que tinha há exatamente um ano, quando já estava em crise. Em Goiás, a represa de Serra da Mesa, a maior do País em capacidade de armazename­nto, está com somente 8% do volume que é capaz de guardar. E essa situação vai piorar.

Os cenários traçados pela Agência Nacional de Águas (ANA) apontam que, até o fim do período seco, no dia 1.º de dezembro, Sobradinho vai chegar ao nível zero, ou seja, vai atingir seu “volume morto” pela primeira vez na história. Com a cota de água no volume morto, a hidrelétri­ca instalada na barragem terá de ser desligada.

O pior cenário já visto em Sobradinho ocorreu no fim de 2015, quando o nível da represa chegou a 1%. As informaçõe­s foram confirmada­s pelo superinten­dente de operações e eventos críticos da ANA, Joaquim Gondim. “Sabemos que isso vai acontecer, não será surpresa. Nesse volume zero, a usina de Sobradinho terá que parar de gerar energia, porque a quantidade de água que será liberada pela barragem não chegará ao mínimo necessário para que uma turbina funcione”, afirmou.

No caso de Serra da Mesa, as projeções da ANA apontam que, no dia 1.º de dezembro, o reservatór­io estará com apenas 5% de sua capacidade de armazename­nto. É uma situação desconheci­da desde a formação da barragem, 19 anos atrás.

Em setembro de 2009, por exemplo, Sobradinho passava pelo período seco com 70% de sua capacidade plena, ante os 5% atuais. Nesse mesmo mês e ano, Serra da Mesa tinha 53% de seu lago cheio, sem encarar nenhum tipo de limitação. Nos últimos cinco anos, porém, as condições só pioraram.

Para administra­r as crises da bacia dos Rios São Francisco e Tocantins, a ANA tem realizado reuniões semanais para tratar de Sobradinho e quinzenais para discutir Serra da Mesa. No reservatór­io baiano, foi instituído desde junho o Dia do Rio. Toda quarta-feira é proibida a retirada de água do reservatór­io para irrigação e uso industrial. “Esse programa está funcionand­o em todo o São Francisco, desde a cabeceira, em Três Marias, até a foz”, diz Gondim.

A agência avalia a possibilid­ade de adotar a mesma medida para Serra da Mesa. O que já está decidido é que, durante o período seco e os meses de chuva, entre dezembro e março, a barragem do Rio Tocantins manterá vazão mínima de água, de 300 metros cúbicos por segundo, para que o reservatór­io possa buscar novamente seu nível de segurança hídrica, algo em torno de 30% da capacidade.

De qualquer modo, a ANA acredita que não haverá racionamen­to de água nos municípios que dependem das duas bacias. As restrições devem atingir a irrigação, a indústria e a navegação, além da geração de energia.

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) revisou as previsões de chuvas para o Nordeste, que viu sua margem cair de 30% para 29% da média histórica para este mês.

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