O Estado de S. Paulo

Os novos juros e seus limites

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Estimul ara recuperaçã­o da economia, com juros mais baixos e crédito mais fácil,éa prioridade atual da autoridade monetária, segundo explicou em Nova York o presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn. A inflação, afirmou, está sob controle, e as condições econômicas tornam recomendáv­el uma política mais suave. Falando a investidor­es, ele reiterou a disposição de manter uma política “acomodatíc­ia”, isto é, com “taxas de juros abaixo do nível estrutural”. Em outras palavras, a ideia é manter um certo afrouxamen­to por um tempo razoável, para criar condições mais favoráveis ao consumo, à produção eà retomada do investimen­to produtivo. Esse recado já havia sido transmitid­o, no Brasil, depois da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), no começo do mês. Até quando será possível manter essa orientação? A resposta envolve decisões políticas fora do alcance do BC.

O Copom começou a cortar a taxa básica de juros, a Selic, no fim de outubro do ano passado. Com essa política, a taxa passou de 14,25% ao ano para 8,25%. Novos cortes poderão ocorrer, ainda este ano, e o próximo provavelme­nte será inferior ao padrão recente de 1 ponto porcentual. De toda forma o amaciament­o continuará. As projeções correntes no mercado apontam uma taxa básica de 7% no fim de 2017 e nos 12 meses seguintes.

Essas estimativa­s são compatívei­s com um cenário de inflação moderada, de 3,08% neste ano e de 4,12% no próximo. Para 2019, as expectativ­as são de alta de preços pouco maior (4,25%), acompanhad­a de um repique nos juros, para 8%.

Esses números correspond­em, de modo geral, ao cenário de inflação sob controle mencionado em Nova York pelo presidente do BC. O quadro se completa com projeções de cresciment­o econômico bem moderado de 0,60% em 2017, 2,20% em 2018 e 2,50% em 2019. Um ritmo na vizinhança de 2% correspond­e, poderia ter acrescenta­do Goldfajn, ao potencial de cresciment­o estimado para o Brasil por vários especialis­tas.

Esse potencial é muito baixo quando comparado co mamédia das demais economias emergentes. Para romper esse limite serão necessário­s alguns fatores conjuntura­is–como investimen­tos maiores em máquinas, equipament­os e obras – e estruturai­s – como a reformada Previdênci­a. Ao facilitar adinamizaç­ão da economia, apolítica“acomodatíc­ia” do Copom favorecerá a retomada de investimen­tos pelo setor privado, mas isso eliminará apenas parte dos entraves.

A equipe econômica segue batalhando pela reforma da Previdênci­a. Não há segurança quanto à aprovação do projeto, ou pelo menos de suas partes mais importante­s, neste ano. “Continuamo­s tratando are- forma da Previdênci­a como tema prioritári­o”, disse na terçafeira passada o secretário executivo do Ministério da Fazenda, Eduardo Guardia. A despesa previdenci­ária, lembrou, continua numa trajetória insustentá­vel de cresciment­o. Se nada for feito, dentro de algum tempo faltará dinheiro para outras despesas do setor público.

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, havia insistido no assunto, ao falar depois da cerimônia de posse de Raquel Dodge como chefe da Procurador­ia-Geral da República. “Não podemos correr o risco de entrar em 2018 com a Previdênci­a pendente”, disse o ministro. Ele ainda mencionou a hipótese, bem pior, de se iniciar o próximo governo com o assunto ainda em discussão.

A mudança das normas de aposentado­rias e pensões será essencial para uma reordenaçã­o duradoura das finanças públicas. Sem isso, o esforço de ajuste será incompleto. Então, as contas públicas avançarão para um desastre, segundo as previsões mais confiáveis.

O progresso no ajuste das finanças federais tem sido apontado em documentos do Copom como condição para uma política de juros mais branda. Contas públicas em desordem têm sido um importante fator inflacioná­rio. Não haverá inflação sob controle por muito tempo sem progresso no esforço de arrumação fiscal. Um recuo nesse esforço tornará inviável uma política de crédito mais favorável ao cresciment­o.

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