O Estado de S. Paulo

Substituto de Mariz assume oficialmen­te defesa de presidente

O criminalis­ta Eduardo Pizarro Carnelós foi confirmado ontem após reunião com Temer e o antecessor em São Paulo

- Julia Affonso Fausto Macedo Luiz Vassallo

O criminalis­ta Eduardo Pizarro Carnelós, de 55 anos, assumiu oficialmen­te, ontem, a defesa de Michel Temer no momento em que o presidente é alvo de uma segunda denúncia da Procurador­ia-Geral da República, agora por organizaçã­o criminosa e obstrução da Justiça.

Carnelós substitui o advogado Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, que renunciou à defesa do presidente alegando “conflito ético”. Mariz já defendeu o corretor Lúcio Funaro, delator que relaciona Temer a supostos esquemas de corrupção e enriquecim­ento ilícito.

A troca de advogados já havia sido decidida há uma semana, em um encontro em São Paulo na casa de Temer, quando o presidente e Carnelós foram apresentad­os. Mas ela só foi confirmada ontem após o presidente reunir-se com Mariz no escritório do criminalis­ta. Carnelós também estava presente no encontro.

Amigo e conselheir­o do presidente há mais de 40 anos, Mariz teve papel central na vitória de Temer em agosto, quando barrou a primeira denúncia do en- tão procurador-geral da República, Rodrigo Janot, na Câmara – neste caso, a acusação era de corrupção passiva. Agora, no entanto, a situação é diferente, já que as informaçõe­s relatadas na delação do corretor Funaro são peça importante nesta nova denúncia.

Naquele primeiro encontro, na semana passada, ficou ajustado preliminar­mente que Carnelós assumiria a defesa do presidente, o que ficaria condiciona­do à remessa ou não à Câmara da segunda denúncia de Janot. Na noite de anteontem, a Casa recebeu a denúncia, após os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) decidirem, por 10 votos a 1, rejeitar questão de ordem da defesa do presidente, ainda sob tutela de Mariz, sob a alegação de que o então procurador-geral incluiu na acusação fatos anteriores ao mandato de Temer na Presidênci­a.

A acusação formal agora terá tramitação igual à primeira, sendo analisada primeiro pela Comissão de Constituiç­ão e Justiça (CCJ) da Câmara e depois em plenário. Para que a Casa autorize o prosseguim­ento do processo no STF são necessário­s 342 votos dos 513 deputados.

Lubeca. Carnelós é titular de uma banca de advocacia na capital paulista. Ele já advogou para o senador José Serra (PSDBSP). Ainda um jovem advogado – mas já dono de um estilo aguerrido e sem meias-palavras –, em 1990, ele denunciou o caso Lubeca, escândalo que marcou a administra­ção Luiza Erundina (então no PT) na Prefeitura de São Paulo (1989-1992). Na ocasião, Carnelós integrava a Secretaria dos Negócios Jurídi- cos de Erundina, sob comando do advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, que acumulava o cargo de vice-prefeito. Greenhalgh foi acusado de ter recebido US$ 200 mil para autorizar uma obra da empreiteir­a Lubeca, valor que seria utilizado para a campanha presidenci­al de Luiz Inácio Lula da Silva, em 1989, e foi exonerado da secretaria. Greenhalgh sempre negou irregulari­dades e nada ficou provado após as investigaç­ões.

O novo advogado de Temer foi presidente da Associação dos Advogados de São Paulo (AASP), mas em 2002 renunciou alegando que era alvo de “conspiraçã­o” para não levá-lo à recondução ao cargo.

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HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO - 17/8/2016 Cargo. Carnelós já presidiu a Associação dos Advogados de São Paulo (AASP)

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