O Estado de S. Paulo

Falta o projeto de Nação

- JOÃO DOMINGOS E-MAIL: JOAODOMING­OS56@GMAIL.COM TWITTER: @JOAODOMING­OS14 JOÃO DOMINGOS É JORNALISTA E ESCREVE AOS SÁBADOS

Aum ano e quinze dias do primeiro turno da eleição do ano que vem, a impressão que fica é a de que há um atraso generaliza­do sobre a definição de partidos, nomes e plataforma­s de campanha para a sucessão do presidente Michel Temer. E, principalm­ente, um projeto de Nação.

Mesmo o ex-presidente Lula, o exministro Ciro Gomes e o deputado Jair Bolsonaro, que já se lançaram candidatos a presidente, devem ao eleitor um detalhezin­ho que seja de seus programas de governo. Lula não convencerá o eleitor dizendo que fa- rá um repeteco de seus dois mandatos, caso se livre dos problemas que tem com a Justiça, se candidate e vença a eleição. A política econômica dele foi tocada por Antonio Palocci, hoje preso e na boca para fazer um acordo de delação premiada cujo principal alvo é justamente Lula. Bolsonaro não disse ainda nada do que pretende fazer. O mesmo acontece com Ciro Gomes.

Cientistas políticos afirmam que o voto deverá ser mais conservado­r na próxima eleição. E que o eleitor será mais exigente. Só dizer que vai prender e arrebentar, para lembrar uma expressão do ex-presidente João Figueiredo, o último general-presidente do regime militar, não resolve.

O eleitor quer ouvir do candidato o que ele fará com o dinheiro do imposto recolhido dos cidadãos, diz Antonio Augusto de Queiroz, do Departamen­to Intersindi­cal de Assessoria Parlamenta­r (Diap), que desde a Constituin­te de 1987/88 acompanha o Congresso. Por exemplo: tem proposta viável para melhorar o transporte coletivo, a educação, a saúde, a segurança pública, o emprego, a renda, o serviço público, impe- dir que a corrupção nasça e cresça? De cada candidato será cobrado mais do que eles prometeram nas eleições anteriores, diz Queiroz.

Em relação aos nomes já anunciados como pré-candidatos, e sobre os quais existe a expectativ­a de que venham a dis- putar a eleição, Lula parece ter transforma­do sua candidatur­a numa tentativa de se proteger da Justiça. Caso venha a ser condenado em segundo instância pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região, tornando-se ficha suja. Dirá que se tornou um perseguido político.

Essa estratégia pode ser boa para a figura do ex-presidente. Não é boa para seu partido, hoje obrigado a dizer que tem apenas o plano A, e que esse plano é Lula. Porque, em caso de condenação de Lula, quando o PT perceber que é preciso sim ter o plano B, seja para lançar um candidato próprio, seja para apoiar um de outro partido, talvez Ciro Gomes, poderá ser muito tarde.

Bolsonaro deverá deixar o PSC para se filiar ao PEN, que trocará o nome para Patriotas. Dependerá da força do nome, porque o partido não tem nenhuma condição de lhe garantir nada. Mesmo assim, corre o risco de sumir caso o general Antonio Hamilton Martins Mourão se candidate depois de deixar a ativa, como se especula. O general esteve e ainda está no centro de uma polêmica sobre intervençã­o das Forças Armadas nas instituiçõ­es democrátic­as. Não foi punido. Mas deu um recado justamente para os eleitores de Bolsonaro.

Quanto aos candidatos do centro político, Alckmin tem razão. Não dá para esperar até o fim do primeiro semestre do ano que vem para a definição do nome do PSDB. Está mais do que na hora de se fazer a escolha. E também de divulgar alguns detalhes da plataforma de campanha e do programa de governo.

Já o ministro Henrique Meirelles (Fazenda) encontra-se numa situação bastante confortáve­l. Ele não precisa dizer que é pré-candidato. Outros dizem por ele. Quanto ao programa de governo, se a economia crescer como é a expectativ­a, e o emprego voltar, Meirelles poderá dizer ao eleitor que o responsáve­l por tudo é ele. O maior problema para Meirelles talvez seja o fato de que estará com 73 anos na eleição.

Há um atraso generaliza­do em relação a nomes e programa de governo para a eleição

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