Facções têm treino militar e ‘tropas’ de até 4 mil pessoas
ORio é uma zona de conflito. Os 950 soldados e fuzileiros – apoiados por 14 blindados e um helicóptero pesado – garantem nas ruas a ação das polícias. Tropas atuam em cenário controlado por forças adversas que, além de enfrentar os grupos da repressão oficial, lutam entre si pelo domínio da área. O teatro de operações, a rigor, tem o tamanho da cidade. Mas, ontem, o núcleo central do confronto estava na Rocinha – uma das maiores favelas do País, onde o crime organizado disputa projeção estratégica e a comunidade pobre divide espaço com bairros de classe média alta: São Conrado e Gávea.
A ação das tropas, após desconfortável intervalo causado pela falta de afinação da Segurança Pública carioca e o Ministério da Defesa, indica a dimensão da crise.
Foram 15 horas de tiroteio. Grupos de 7 a 12 soldados das gangues, armados com fuzis, pistolas e, em alguns casos, com granadas explosivas, atuaram o dia todo, com padrões profissionais de deslocamento, fogo, e até no gestual.
Dois oficiais ouvidos pelo Estado acreditam que esse comportamento seja resultado de treinamento especializado, oferecido por ex-militares, recrutados e bem pagos pelas gangues.
Há 1.025 favelas no Rio. Nas dez maiores, o poder é dividido entre duas organizações, o Comando Vermelho (60%) e a Amigo dos Amigos (40%), que terceirizam setores para o Terceiro Comando dos Amigos, mais as milícias locais. A tropa operacional desses grupos pode chegar a 4 mil homens e mulheres, sustenta um analista de inteligência da Polícia Federal.
A batalha de ontem, envolvendo os bandos armados dos traficantes Nem e Rogério 157, exigiu enorme cerco destinado a controlar perto de 1,4 mil km².