O Estado de S. Paulo

‘Vergonha não é não subir. É o que fazem com o País’

Após início irregular, Inter caminha para o retorno à Série A com o bom trabalho do treinador, que não teme pelo fracasso

- Marcius Azevedo

O Internacio­nal entra em campo hoje para encarar o Náutico com possibilid­ade de pular na liderança da Série B. Após um início irregular, o time gaúcho caminha para confirmar o retorno à elite. Por trás da campanha está Guto Ferreira, que superou um momento de crise e fez a equipe jogar futebol de Série A. A missão, garante o treinador ao Estado, ainda está longe do fim. E, mesmo que o Inter não consiga o acesso, não será uma vergonha.

Por que o Inter demorou para engrenar na Série B?

Pela sua história, o Inter tinha de começar patrolando (limpar, nivelar estradas com patrol). Mas o futebol não é assim. O poder de investimen­to auxilia, mas não efetiva uma equipe. Carece de tempo, trabalho, boas escolhas. Quando assumi, o time vinha de uma série de situações, como remontagem da equipe, excesso de jogos, uma cobrança externa desenfread­a. Aos poucos, o time foi se assentando, aprendendo a jogar a competição.

A torcida fez pressão, até com episódio de depredação no Beira-Rio. Se sentiu ameaçado? Sempre me mantive tranquilo. Você faz suas decisões e suas decisões fazem você. Eu já tinha vivenciado momentos como este em outros clubes e tinha acontecido o melhor. Era uma questão de tempo dentro das convicções que tenho do futebol. Ainda não se confirmou correto por completo porque o campeonato não acabou. Vivemos um bom momento, mas ainda tem muita água para passar debaixo da ponte. Temos de seguir fazendo cada vez melhor. É um campeonato muito difícil.

O respaldo da diretoria foi fundamenta­l no momento de crise? Eles me fizeram uma pergunta categórica: o que você pensa sobre o trabalho? Disse que continuava acreditand­o como sempre acreditei e que iria conduzir o Inter à Série A. O que você faz no dia a dia te faz ganhar respaldo. Às vezes, por detalhe, não dá certo. As correções dos detalhes, em algum momento, fazem encaixar.

O acesso é uma obrigação? Em se tratando do Inter, com certeza, mas essa nomenclatu­ra que vocês (imprensa) usam é um pouco pesada. No esporte não há obrigação porque você está competindo, são três resultados possíveis. Mas acaba gerando uma obrigatori­edade pela grandeza do clube.

Não subir seria uma vergonha? Vergonha é você não trabalhar com seriedade, trabalhar com segundas intenções que não condizem com sua profissão, com sua ética. Vergonha é o que os caras estão fazendo com o País. Agora o cara que é trabalhado­r não precisa se envergonha­r nunca. Vou me sentir envergonha­ndo se o meu time for para campo dar o melhor e não conseguir porque ele não quis dar o melhor. Agora se você trabalha de maneira árdua e o resultado não acontece por algum motivo, não existe vergonha nisso.

A permanênci­a para 2018 já está acertada?

Primeiro eu preciso realizar o acesso. Depois existe uma renovação automática que, se eles quiserem me trocar, tem de pagar uma multa. Faz parte do jogo. Vou trabalhar para buscar este espaço no mercado em que sempre quis, com resultados expressivo­s em uma equipe grande na Série A.

Aprova o apelido de ‘Gordiola’, junção de gordo com Guardiola? É uma situação tranquila. Para mim, desmitific­ou um certo preconceit­o que existe contra o gordo e me fez aproximar do torcedor de maneira mais simpática. Sem ser pejorativo, não tem problema. Mas não quero ser lembrado pelo apelido. Quero ser lembrado pela qualidade do trabalho que realizar.

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RICARDO DUARTE /INTERNACIO­NAL - 15/7/2017 ‘Gordiola’. Guto Ferreira diz que o apelido serviu para que se aproximass­e do torcedor

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