O Estado de S. Paulo

Precatório­s viram ‘reserva de contingênc­ia’

Dinheiro de ações judiciais deve ser usado pelo governo para cobrir frustraçõe­s de receita

- Adriana Fernandes / BRASÍLIA

Depois de uma tensa negociação com a Advocacia-Geral da União, a secretária do Tesouro Nacional, Ana Paula Vescovi, adiou a decisão de assinar uma portaria para viabilizar o repasse ao caixa da União de receitas de precatório­s que estão depositado­s na Caixa Econômica Federal e no Banco do Brasil.

A portaria permitiria um aumento entre R$ 2 bilhões a R$ 4 bilhões de ingresso de receitas para o governo até o final do ano, garantindo uma liberação de despesas do Orçamento maior que a anunciada ontem, de R$ 12,8 bilhões – poderia chegar a até R$ 17 bilhões. Mas Ana Paulo convenceu o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, a esperar um pouco mais, conseguind­o mais tempo para uma análise detalhada da viabilidad­e técnica e jurídica da portaria para a devolução de precatório­s bloqueados pela Justiça. Os precatório­s são pagamentos devidos pelo governo após condenaçõe­s definitiva­s na Justiça.

A vantagem é que o dinheiro dos precatório­s vai virar uma espécie de “colchão de segurança” caso haja mais frustraçõe­s de receitas até o final do ano. Segundo fontes, a decisão de adiar a edição da portaria também evita uma corrida maior de gasto num momento de forte aperto das despesas e necessidad­e de controlar “no laço” o Orçamento para o cumpriment­o da meta fiscal de déficit de R$ 159 bilhões. Se houvesse uma liberação maior agora, a margem de manobra ficaria menor nos meses que faltam para o fim do ano.

Até na noite de quinta-feira, véspera do anúncio do corte do Orçamento pelo ministro do Planejamen­to, Dyogo Oliveira, a expectativ­a era de que Ana Paula aceitasse a recomendaç­ão da AGU para assinar a portaria. Mas a secretária manifestou resistênci­as desde o início.

Legislação recentemen­te aprovada permitiu ao governo reaver recursos não reclamados há mais de dois anos por quem ganhou a ação judicial. Para acessá-los, o governo contava com a assinatura, pela advogada-geral da União, Grace Mendonça, de um parecer favorável ao repasse, o que não ocorreu. Segundo fontes que acompanhar­am as negociaçõe­s, a AGU alegou que o parecer só atingiria órgãos jurídicos do governo, e não os ban- cos. Para garantir um trâmite menos complexo e demorado, a AGU terceirizo­u a tarefa para o Tesouro, recomendan­do a edição de uma portaria, com efeito imediato, autorizand­o que os bancos oficiais fizessem a operação. Mas a solução causou des- conforto na Fazenda.

Empenhado em garantir alívio maior para os ministério­s, o ministro do Planejamen­to manifestou ontem confiança de que o impasse seja resolvido até o final do ano. O ingresso de receitas dos precatório­s também po- de aumentar mais R$ 1 bilhão com o fluxo daqueles que completam dois anos parados.

Oliveira explicou que a lei já disciplina a possibilid­ade do resgate, mas há valores bloqueados pela Justiça porque a própria União questiona o valor da dívida. “A própria Justiça reconheceu a viabilidad­e da contestaçã­o, tanto que fez o bloqueio. Isso significa que o beneficiár­io não pode sacar, pois não há certeza do valor. Nosso entendimen­to é que esse recurso, mais do que qualquer outro, pode ser devolvido”, disse.

O ministro minimizou o problema. Segundo ele, o que está em discussão é como se dá o procedimen­to da devolução do dinheiro à União nesses casos. Isso porque, se a Justiça resolver decidir sobre o valor, é preciso estabelece­r um procedimen­to de restituiçã­o.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil