O Estado de S. Paulo

Licenciame­nto ambiental não pode ser um gargalo

- ADRIANO PIRES DIRETOR DO CENTRO BRASILEIRO DE INFRAESTRU­TURA (CBIE)

As dificuldad­es na obtenção de licenciame­nto ambiental para os empreendim­entos em infraestru­tura vêm acendendo cada vez mais uma luz vermelha. Os esforços do governo federal em diminuir os empecilhos legais e regulatóri­os não têm sido suficiente­s para compatibil­izar o licenciame­nto ambiental com a necessidad­e de investimen­tos em infraestru­tura de que tanto precisa o País.

Sem dúvida, não há espaço para o desenvolvi­mento econômico que não seja sensível às questões ambientais. Não se discute, aqui, a necessidad­e dos licenciame­ntos e seus respectivo­s processos, mas sim que sejam mais céleres e eficientes.

O que se tem visto é o recrudesci­mento da burocracia atrelada aos licenciame­ntos ao longo dos anos. A falta de uma lei geral que regulament­e o licenciame­nto permitiu que órgãos ambientais passassem a definir as normas por meio de portarias e decretos. A ausência de procedimen­tos uniformes, o excesso de discricion­ariedade e a possibilid­ade de responsabi­lizar criminalme­nte analistas ambientais pelo licenciame­nto de obras de infraestru­tura tiveram como principal efeito colateral o uso do princípio da precaução de maneira excessiva ou distorcida.

Do ponto de vista operaciona­l, há um cuidado excessivo com a fase que antecede a emissão das licenças e um menor empenho no acompanham­ento e monitorame­nto dos projetos, fazendo com que existam pouquíssim­os dados sobre a efetividad­e do instrument­o. Também a infraestru­tura e a ação fiscalizat­ória dos órgãos costumam ser restritas e insuficien­tes. Por fim, os estudos preparados são muitas vezes superficia­is e não fazem conexão entre diagnóstic­o, avaliação de impacto e medidas mitigadora­s e compensató­rias, gerando processos muito longos e que muitas vezes terminam por simplesmen­te negar a licença ambiental.

Quando questões técnicas, como as de licenciame­nto ambiental, carecem de instrument­os legais e regulatóri­os mais assertivos e de instituiçõ­es mais eficazes, aumentam as chances de apropriaçã­o política sobre o tema. A título de exemplo, a escolha de usinas hidrelétri­cas a fio d’água como alternativ­a sustentáve­l às usinas com reservatór­ios penalizou gerações futuras de brasileiro­s. Ao fazer a opção por usinas a fio d’água, o País abriu mão de segurança energética, de uma energia limpa e barata, sem uma contrapart­ida efetiva de mitigação da emissão de gases de efeito estufa.

Outro exemplo foram os atrasos na liberação das licenças para as linhas de transmissã­o da energia eólica produzida no Nordeste. Isso revela a incapacida­de do governo de harmonizar os prazos de construção das linhas de transmissã­o e dos novos empreendim­entos de geração. Uma solução seria promover os leilões de geração com as licenças ambientais já previament­e aprovadas. Essa ideia vale para todo o setor de infraestru­tura.

O mais recente episódio sobre licenciame­nto ambiental foi a rejeição do Ibama ao estudo de impacto ambiental apresentad­o pela companhia francesa Total. O instituto não autorizou, em primeira instância, a exploração e produção de petróleo na Bacia

Parece hábito o País perder janelas de oportunida­de de desenvolvi­mento por causa do excesso de burocracia

da Foz do Amazonas, cujos blocos foram adquiridos na 11.ª rodada de leilões, em 2013. Esse veto do Ibama é muito preocupant­e, serve de sinal de alerta para pelo menos outras sete empresas que possuem concessões na região e acontece às vésperas dos leilões de petróleo e gás previstos para este mês e para outubro.

Parece ser um hábito brasileiro perder janelas de oportunida­de de desenvolvi­mento econômico por causa do excesso de burocracia e de discussões ultrapassa­das e só defendidas por organizaçõ­es radicais, que muitas vezes manipulam a sociedade por meio de declaraçõe­s de artistas e de outros formadores de opinião que não têm nenhum conteúdo técnico.

Há, portanto, urgência de uma reforma não só no âmbito da legislação ambiental, mas também de seus respectivo­s processos de gestão administra­tiva. Um licenciame­nto ambiental moderno e que olhe os interesses do País não pode ser um gargalo para o desenvolvi­mento econômico.

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