O Estado de S. Paulo

Falta de chuva prejudica produção de café robusta no Espírito Santo

Situação dos produtores se agravou depois que o governo estadual proibiu a irrigação das lavouras entre 5h e 18h

- Cristian Favaro

Depois da estiagem que derrubou a produção de café robusta (conilon) nos últimos anos no Espírito Santo, principal produtor nacional desse tipo de grão, representa­ntes do setor no Estado temem pela florada que será colhida em 2018 – que está em bom estado de desenvolvi­mento – porque a chuva ainda não veio com a intensidad­e necessária para recuperar o solo e os reservatór­ios de água.

No ano passado, a queda brusca na oferta de conilon no Estado por causa da seca levou os preços internacio­nais do grão a registrare­m forte alta.

O presidente da Cooperativ­a Agrária dos Cafeiculto­res de São Gabriel, Antonio Joaquim de Souza Neto, destacou que a intensidad­e das chuvas melhorou se comparada com o ano passado, mas ainda está aquém do necessário. “O pé de café está desidratad­o para aguentar a florada como deveria. Você vê a florada bonita e parece que está tudo bem. Eu vejo com muito receio a safra do ano que vem. A colheita que a gente esperava, que o agricultor precisa, pode não chegar.”

Por causa da estiagem, a produção de café conilon tem caído no Estado desde 2014, ano que atingiu o pico de 9,95 milhões de sacas de 60 kg. Em 2015, a colheita desceu para 7,76 milhões de sacas e, no ano passado, 5,04 milhões, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecime­nto (Conab).

Barragens. Para proteger a agricultur­a local, o Espírito Santo modificou, em 2014, a regulament­ação para construção de barragens. A nova legislação transferiu os procedimen­tos de licenciame­nto do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) para o Instituto de Defesa Agropecuár­ia e Florestal do Espírito Santo (Idaf). A medida, segundo Souza Neto, ajudou muito o produtor que queria construir barragens e se via amarrado na burocracia do Iema. Desde a liberação, entretanto, a intensidad­e de chuvas diminuiu. “Acredito que temos três vezes mais barragens hoje, mas não tem chuva para abastecê-las.”

O cenário ganhou um agravante após o Espírito Santo proibir, no dia 11 deste mês, a irrigação das lavouras entre às 5h e 18h, à medida que crescem as preocupaçõ­es quanto aos baixos níveis dos reservatór­ios. Não foi divulgado um prazo para o fim da resolução. A notícia preocupou os produtores no noroeste capixaba, já que mais de 70% do café na região é irrigado, de acordo com números do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistênci­a Técnica e Extensão Rural (Incaper).

O gerente de Produção Vegetal da Secretaria de Agricultur­a do Espírito Santo (Seag), Marcus Magalhães, disse que a chuva até veio, mas ficou mais concentrad­a na região litorânea e o solo ainda não se recuperou totalmente. “Como temos produção de café em todos os 78 municípios do Estado, a chuva preci- sa ser uniforme para favorecer a safra. Por isso, muitas vezes a gente vê uma lavoura verde, mas é o que chamamos de seca verde, já que o solo ainda não dá margem para uma produção tão volumosa.”

Safra. Apesar da aparente incerteza sobre a produção capixaba, o gerente da Seag salientou que a colheita de conilon no Brasil na próxima safra vai ser melhor. “Quem vai sustentar isso é a região sul da Bahia e Rondônia, que aumentam a área plantada”, disse Magalhães.

Para o arábica, entretanto, o cenário é diferente, explica Magalhães. As regiões capixabas que cultivam a variedade estão passando por um grave período de seca. Cerca de 30% da produção de café no Estado é de arábica. “O cenário difícil também se repete em Minas. Algumas regiões estão sem chuva há 120 dias.

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