O Estado de S. Paulo

Em e-mail, Odebrecht fala em doação de R$ 4 milhões a Lula

Valor teria sido transferid­o para instituto de ex-presidente por meio de Okamotto, identifica­do como ‘japonês’

- Julia Affonso Ricardo Brandt Luiz Vassallo

O empresário Marcelo Odebrecht entregou à Polícia Federal documentos para comprovar que uma doação oficial de R$ 4 milhões ao Instituto Lula saiu do Setor de Operações Estruturad­as, nome do departamen­to de propinas da empreiteir­a. E-mails enviados por Odebrecht a executivos do setor informam que os repasses seriam feitos por via legal, mas que seriam debitados dos R$ 15 milhões do “Amigo”, suposto codino- me do ex-presidente Lula, da planilha do “Italiano”, que era a “conta corrente” gerenciada pelo ex-ministro Antonio Palocci. “Italiano disse que o Japonês ( Paulo Okamotto, presidente do instituto) vai lhe procurar para um apoio formal ao inst de 4m”, diz ele em um dos e-mails. O empreiteir­o entregou quatro recibos de R$ 1 milhão cada, referentes à doação. A defesa de Lula diz que as doações foram legais.

O empresário Marcelo Odebrecht entregou à Polícia Federal documentos para comprovar que doações oficiais de R$ 4 milhões ao Instituto Lula saíram do Setor de Operações Estruturad­as, o departamen­to de propinas da empreiteir­a. Marcelo apresentou e-mails enviados, em novembro de 2013, para executivos do setor. Nas mensagens, ele informa que os repasses seriam feitos por via legal, mas debitados de um total de R$ 15 milhões da planilha “Italiano” – apontada pela empreiteir­a como a “conta corrente” gerenciada pelo ex-ministro Antonio Palocci.

Os recursos seriam destinados ao codinome “Amigo”, que a Odebrecht diz ser uma referência ao ex-presidente Luiz Inácio Lula Silva. Além dos emails, o empresário apresentou notas fiscais em dois novos depoimento­s prestados à PF em 8 e 21 de agosto, no inquérito que investiga suspeita de propinas pagas ao Instituto Lula e por meio de palestras do petista (via Lils Palestras e Eventos).

O material foi anexado à investigaç­ão na quinta-feira passada. Segundo o empresário – que cumpre prisão em Curitiba –, os e-mails só foram entregues agora porque não haviam sido localizado­s quando ele fechou seu acordo de delação.

No mesmo depoimento, Marcelo apresentou cópia de recibos de quatro parcelas da doação ao Instituto Lula, cada uma no valor de R$ 1 milhão. “As cópias desses recibos foram extraídas do computador de Fernando Migliaccio ( ex-executivo da construtor­a), com os impressos dos e-mails, o que corrobora que os valores foram efetivamen­te descontado­s da planilha Italiano, senão não haveria razão para estar de posse dele”, relatou o empresário.

O novo depoimento de Marcelo corrobora as declaraçõe­s de Palocci, condenado a 12 anos e 2 meses de prisão pelo juiz federal Sérgio Moro na Lava Jato. O ex-ministro confessou a Moro ser o “Italiano”. Segundo Palocci, que tenta fechar acordo de delação com a força-tarefa em Curitiba, Emílio Odebrecht, pai de Marcelo, e o ex-presidente selaram um “pacto de sangue” de repasse de R$ 300 milhões ao PT, durante os governos Lula e Dilma Rousseff.

Mensagem cifrada. Em e-mail enviado em 26 de novembro de 2013 por Marcelo aos então executivos da Odebrecht Alexandrin­o Alencar e Hilberto Silva – chefe do Setor de Operações Estruturad­as –, os três falam de forma cifrada sobre o pagamento, que seria feito oficialmen­te, mas com recursos debitados da planilha de propinas.

“Italiano disse que o Japonês vai lhe procurar para um apoio formal ao inst de 4m (não sabe se todo este ano, ou 2 este ano e 2 do outro). Vai sair de um saldo que o amigo de meu pai ainda tem comigo de 14 (coordenar com HS no que tange ao Credito) mas com MP no que tange ao discurso pois será formal”, escreveu Marcelo.

No depoimento à PF em 21 de agosto, o empresário indicou as siglas do e-mail. Segundo Marcelo, “Japonês” correspond­ia a

Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula. A palavra “inst”, disse, significav­a Instituto Lula e “4m” era uma referência ao valor de R$ 4 milhões. Marcelo também afirmou que “HS” são as iniciais de Hilberto Silva, exexecutiv­o da empreiteir­a.

Interrogad­o em 8 de agosto, Marcelo afirmou que os pagamentos a Lula acertados com seu pai não se limitaram aos registrado­s no codinome “Amigo” do total de R$ 15 milhões da planilha de propinas “Italiano”.

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LÉO BARRILARI/RAW IMAGE - 5/3/2016 Fachada. Prédio da sede do Instituto Lula, no bairro do Ipiranga, zona sul de São Paulo
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Mensagens. Trecho do e-mail de Marcelo entregue à PF

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