O Estado de S. Paulo

Coreia do Norte diz ter direito de derrubar avião dos EUA

Em colisão. Chanceler norte-coreano alerta que seu país se considera autorizado a abater os aviões dos EUA mesmo em águas internacio­nais, por atribuir a críticas de Trump o peso de uma declaração de guerra – uma interpreta­ção ‘absurda’ para a Casa Branca

- Cláudia Trevisan CORRESPOND­ENTE / WASHINGTON

A Coreia do Norte disse ontem que os EUA declararam guerra ao país e anunciou que poderá derrubar aviões americanos para se defender, mesmo que as aeronaves estejam fora de seu espaço aéreo. A ameaça de Pyongyang ocorre em momento de tensão sem precedente­s, com troca de ataques entre o presidente Donald Trump e o ditador Kim Jong-un.

A Coreia do Norte disse ontem que os EUA declararam guerra ao país e anunciaram que poderão derrubar aviões americanos para se defender, mesmo que as aeronaves estejam fora de seu espaço aéreo. Pyongyang costuma fazer ameaças que não se realizam, mas esta ocorre em um momento de tensão sem precedente­s, com troca de ataques pessoais entre o presidente Donald Trump e o ditador Kim Jong-un.

Segundo o serviço de espionagem sul-coreano, a Coreia do Norte deslocou seus aviões e reforçou sua defesa na costa leste. A porta-voz da Casa Branca, Sarah Huckabee Sanders, classifico­u de “absurda” a sugestão de que os EUA declararam guerra à Coreia do Norte. Também afirmou que não é “apropriado” um país derrubar aeronaves em espaço aéreo internacio­nal.

“O mundo todo deve se lembrar claramente que foram os EUA que primeiro declararam guerra ao nosso país”, disse o ministro das Relações Exteriores da Coreia do Norte, Ri Yong-ho, em entrevista em Nova York, onde estava para a Assembleia-Geral da ONU. Segundo ele, a declaração de guerra veio em um tuíte postado por Trump no sábado, no qual ele se referiu a Kim como “pequeno homem-foguete” e afirmou que seu regime não sobreviver­ia muito tempo.

“Isso é claramente uma declaração de guerra, porque essas foram palavras de um presidente americano em exercício”, afirmou Ri, segundo a agência de notícias sul-coreana Yonhap News.

Na entrevista, o chanceler se referiu ao voo de bombardeir­os americanos B-1B em águas internacio­nais ao leste da Coreia do Norte, no sábado. “Já que os EUA declararam guerra, a partir de agora, mesmo que bombardeir­os estratégic­os dos EUA não voem sobre nosso espaço aéreo, nós vamos exercer nosso direito de autodefesa, incluindo o direito de derrubá-los a qualquer momento”, declarou. “Nós vamos ver, então, quem sobrevive por mais tempo.”

Em sua estreia na Assembleia-Geral da ONU, há uma semana, Trump prometeu “destruir totalmente” a Coreia do Norte, caso tenha de defender os EUA ou seus aliados de uma ameaça do país asiático.

O governo americano tem repetido que a possibilid­ade de uma ofensiva militar não está descartada. “Se a Coreia do Norte não parar com suas provocaçõe­s, você sabe, vamos nos assegurar de que apresentam­os opções para o presidente lidar com eles”, disse ontem o porta-voz do Pentágono, Robert Manning.

O tuíte de Trump no sábado foi uma resposta ao discurso de Ri na ONU, no qual ele se referiu ao presidente americano como um “desequilib­rado mental cheio de megalomani­a”. Segundo Ri, as ameaças dos EUA são a principal razão para seu país desenvolve­r armas nucleares.

Desde que assumiu o poder, em 2012, Kim Jong-un acelerou o ritmo dos testes nucleares. No dia 3, Pyongyang detonou uma bomba – provavelme­nte de hidrogênio – muito mais potente que as lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki na 2.ª Guer- ra. O regime norte-coreano também intensific­ou os testes de mísseis balísticos e lançou dois que sobrevoara­m o território do Japão nas últimas semanas.

Analistas creem que Kim esteja perto de conseguir miniaturiz­ar uma bomba e colocá-la em um míssil capaz de alcançar o território dos EUA. O principal objetivo seria exercer o poder de dissuasão de eventuais ataques.

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JOSHUA ROBERTS/REUTERS Ameaça. Na ONU, Trump falou em ‘destruir’ a Coreia do Norte
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