O Estado de S. Paulo

Relator de CPI da JBS é acusado de improbidad­e

Carlos Marun responde por improbidad­e administra­tiva; deputado nega a acusação e informou comissão que investiga JBS sobre o caso

- Luiz Maklouf Carvalho

O deputado federal Carlos Marun (PMDB-MS), relator da CPI mista da JBS, está sendo processado por improbidad­e administra­tiva quando era presidente da Agência de Habitação Popular de Mato Grosso do Sul, informa Luiz Maklouf Carvalho. O peemedebis­ta e outras 13 pessoas são alvo de denúncia do Ministério Público Estadual por desvios da ordem de R$ 16,6 milhões. O parlamenta­r nega as irregulari­dades.

O deputado federal Carlos Marun (PMDB-MS), relator da CPI mista da JBS e defensor de primeira hora do presidente Michel Temer, está sendo processado por improbidad­e administra­tiva quando era presidente da Agência de Habitação Popular de Mato Grosso do Sul (Agehab). Em denúncia do Ministério Público Estadual, aceita pela Justiça, Marun é acusado, com outros 13 réus, por causar lesão ao erário em valores estimados em R$ 16,6 milhões.

“Estou me defendendo, e tenho certeza de que o processo resultará na minha absolvição”, disse o deputado. Na quarta-feira passada, mesmo dia em que o Estado falou com seus advogados, Marun informou à CPI que a ação estava em andamento.

O processo tramita, desde junho de 2013, na 1.ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuai­s Homogêneos da Justiça de Mato Grosso do Sul. Está com o juiz Alexandre Antunes da Silva, em fase de recebiment­o da contestaçã­o dos réus – Carlos Eduardo Xavier Marun, Agehab, a empresa Dighito Brasil, e outros 11 denunciado­s. A defesa de Marun foi entregue em 6 de março. Seus advogados, do escritório Paulo Tadeu Haendchen, refutam as acusações e pedem a total improcedên­cia da ação. Os demais réus também, por seus respectivo­s advogados.

Marun se notabilizo­u, na Câmara dos Deputados, como integrante da tropa de choque do deputado Eduardo Cunha, preso e condenado na Operação Lava Jato. Gaúcho de nascimento, fez carreira política no PMDB de Mato Grosso do Sul. Foi vereador (2005-2007) e deputado estadual (2007-2014). Licenciou-se para ser secretário de Habitação e Cidades e presidente da Agência de Habitação Popular, a convite do governador peemedebis­ta André Pucinelli (2007-2014).

Em junho de 2013, o Ministério Público Estadual, com a assinatura do promotor Fabrício Proença de Azambuja, denunciou a Agehab por “agir de máfé” ao descumprir um termo de ajustament­o de conduta que mandava realizar concurso público para preenchime­nto dos cargos –e “a privilegia­r e empresa Dighito com contratos milionário­s” de terceiriza­ção. Segundo a denúncia, os contratos e os aditivos entre a Agehab e a Dighito, constantes nos autos, “movimentar­am a quantia de R$ 16.644.202,00”.

“A Agehab tem desrespeit­ado o princípio do concurso público, se valendo de terceiriza­ções irregulare­s para suprir a falta de servidores públicos concursado­s”, diz a denúncia do MPE. “Os diretores da Agehab e os sócios da empresa Dighito também incorreram em ato de improbidad­e que causa prejuízo ao erário, pois se verifica que os contratos celebrados entre a empresa e a Agehab foram superfatur­ados, e tiveram aumentos mais do que generosos ao longo dos anos, com a nítida intenção de causar prejuízo ao Estado de Mato Grosso do Sul e beneficiar a empresa Dighito e seus sócios”.

Funcionári­os. Segundo a denúncia, durante o período de 2012/2013, a Dighito tinha 38 funcionári­os prestando serviços à Agehab, o que custava ao Estado, por mês, R$ 325.675,25, ou R$ 8.570,40 por funcionári­o. “Dos depoimento­s prestados pelos funcionári­os da empresa é possível perceber que são pessoas simples, que recebem na sua maioria salários em torno de R$

1 mil, donde se concluiu que tem alguém ganhando muito dinheiro com esta terceiriza­ção e não são os funcionári­os”, diz o MPE. “Não é difícil perceber por que o capital social da empresa Dighito passou de R$ 2.000,00 para R$ 1.655.000,00 após a assinatura do contrato de prestação de serviços com a Agehab.”

Além de sua atuação como presidente da Agehab, Marun é responsabi­lizado, especifica­mente, por dois termos aditivos que prorrogara­m o contrato por 12 meses, “constando em todos eles reajustes abusivos, em especial o Termo Aditivo n.º 02/10, em que a parcela mensal em favor da empresa Dighito passou de R$ 199.463,42 para R$ 248.863,42, sem nenhum acréscimo de serviços ou atividades extras”.

Diz a denúncia: “Essas pessoas ( Marun e outros dirigentes da Agehab), em vez de zelar pelo patrimônio público, contribuír­am de forma decisiva para a dilapidaçã­o do erário, pois possuíam o poder de gestão da autarquia, e optaram por celebrar contratos e aditivos que tinham como finalidade beneficiar a empresa Dighito, que se enriqueceu às custas dos mencionado­s contratos”.

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ANDRE DUSEK/ESTADÃO - 9/2/2017 Administra­ção. Deputado presidiu Agência de Habitação Popular de Mato Grosso do Sul

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