O Estado de S. Paulo

Centro-Oeste puxa emprego, mas Nordeste perde vagas

Economia real. Supersafra criou um movimento em cadeia no Centro-Oeste e fez a população ocupada aumentar em 17 mil entre o 1º trimestre de 2015 e o 2º trimestre deste ano; no Nordeste, crise da indústria fez esse número cair 1,9 milhão no período

- Douglas Gavras / ENVIADO ESPECIAL / CABO DE SANTO AGOSTINHO (PE)

O emprego dá sinais de reação, mas de maneira desigual. No Centro-Oeste, a supersafra aumentou a população ocupada em 17 mil, entre o 1.º trimestre de 2015 e o último mês de junho. O total de empregados recuperou o nível pré-crise. No Nordeste, a crise da indústria causou redução de 1,9 milhão de empregos, informa Douglas Gavras.

Apesar de o emprego dar os primeiros sinais de reação, o mercado de trabalho não se recupera da mesma forma em todo o País. Enquanto na região Centro-Oeste o total de pessoas em atividade já recuperou os níveis pré-crise, no Nordeste, essa trajetória vai na contramão: a queda da população ocupada só se aprofundou entre o primeiro trimestre de 2015 e os três meses encerrados em junho deste ano.

Nesse período, o número de pessoas com trabalho no Brasil caiu 2,4 milhões, segundo cálculos da consultori­a A.C. Pastore e Associados, a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad-Contínua).

No Sudeste, a queda na indústria e na construção civil ainda impedem uma recuperaçã­o mais robusta no número de brasileiro­s ocupados. Sem depender demais de um setor específico, a região Sul, por sua vez, é a que já está mais próxima da retomada. Já o mercado de trabalho da região Norte, apesar de ter registrado queda no número de ocupados na indústria e também ser dependente de investimen­tos, tem números melhores que os dos Nordeste – uma queda amortecida, em partes, por resultados positivos na indústria extrativa.

A região que mais chama a atenção positivame­nte, no entanto, é o Centro-Oeste. A popu- lação ocupada no segundo trimestre superou em 17,1 mil a do primeiro trimestre de 2015, quando o País começou a ter redução no número de ocupados. A supersafra gerou um movimento em cadeia na região, que aumentou as contrataçõ­es não só na agropecuár­ia, mas também no setor de serviços. Lá, esse foi o segmento que puxou o número de ocupa- dos para cima nos últimos três meses, com 149 mil a mais trabalhand­o desde 2015. Mato Grosso está atraindo mão de obra até de outros Estados.

“A agropecuár­ia, mais dinâmica no Centro-Oeste, teve um desempenho tão positivo que ajudou a recuperar o Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro semestre e acabou gerando renda e afetando a região como um todo”, analisa o professor da FEA/USP Hélio Zylberstaj­n.

Ao mesmo tempo, o Nordeste ainda amarga a maior perda de pessoas ocupadas eé a única região sem ter dois trimestres seguidos de queda no desemprego. Entre 2015 e junho, a queda da população ocupada nos Estados nordestino­s foi de 1,9 milhão – reflexo da crise da indústria e da escassez de investimen­tos.

Retrato da crise. O município de Cabo de Santo Agostinho é um retrato da situação precária do emprego na região: está entre as cidades do Nordeste que mais perderam postos de trabalho entre janeiro e agosto deste ano. Foram 2.449 postos a menos nesse período. A cidade divide com a vizinha Ipojuca a sede do conjunto que reúne porto, empresas, estaleiros e a refinaria de Abreu e Lima.

O município, que atraía mão de obra de outros Estados, hoje sofre com a falta de previsão para a construção da segunda fase de Abreu e Lima, com investimen­to estimado em mais de R$ 3 bilhões, e com o fim dos contratos para a construção de navios. Em frente à antiga prefeitura, onde os recém-chegados logo conseguiam trabalho, os moradores agora disputam uma vaga temporária – a maioria volta para casa sem nada.

“No Nordeste, levou mais tempo para que a crise econômica se refletisse no emprego. Enquanto o emprego no Sudeste e no Sul já começava a desacelera­r no fim de 2014, no Nordeste, crescia. A demora para reagir agora faz parte do ciclo econômico”, diz Fernando Holanda Barbosa Filho, do Ibre/FGV.

Segundo ele, parte do cenário se explica pela queda dos investimen­tos públicos e da transferên­cia de renda. “A base eleitoral da chapa vencedora em 2014 estava no Nordeste, e a política de deslocar recursos foi suficiente para ganhar a eleição. O ajuste veio na forma de alta do desemprego e demora para recuperá-lo.”

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NILTON FUKUDA/ESTADÃO Virada. Cabo de Santo Agostinho foi uma cidades que mais fecharam vagas no Nordeste
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NA WEB Fim de ano. Oferta de vagas volta a crescer estadao.com.br/e/ofertavaga­s

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