O Estado de S. Paulo

Sem acordo, MP do Refis pode perder validade

Presidente da Câmara pretende colocar medida em votação amanhã, mas parlamenta­res e equipe econômica ainda discordam sobre texto

- Igor Gadelha Carla Araújo / BRASÍLIA

Deputados tentam um acordo com a equipe econômica para votar o texto da medida provisória que cria o Refis, programa de parcelamen­to tributário de devedores da União. Parlamenta­res precisam aprovar as mudanças nas regras originais do Refis antes de sexta-feira, quando o prazo de adesão ao programa em vigor se encerra.

Deputados tentam fechar com a equipe econômica um acordo para votar o texto da medida provisória (MP) que cria o Refis, programa de parcelamen­to tributário de devedores da União. Segundo o líder do governo no Congresso, deputado André Moura (PSC-SE), a proposta em negociação prevê o ‘retorno’ de regras previstas na redação original da MP. Essas alterações foram classifica­das pelo relator da MP na Câmara, deputado Newton Cardoso Júnior (PMDB-MG), como ‘reveses’ para o setor produtivo.

Os parlamenta­res que analisam o texto do novo Refis devem juntos à União R$ 532,9 milhões apenas no endividame­nto classifica­do como “irregular” pela Procurador­ia Geral da Fazenda Nacional (PGFN), responsá- vel pela gestão da dívida ativa. Deputados e senadores já foram beneficiad­os por parcelamen­tos passados. O total de débitos ligados a deputados e senadores inscritos em Refis anteriores – ou seja, que estão sendo pagos e se encontram em situação “regular” – é de R$ 299 milhões.

O “novo” acordo foi construído ao longo de várias reuniões desde a última quinta-feira entre os parlamenta­res, equipe econômica e o próprio presidente Michel Temer. Só ontem, Moura e o líder do governo na Câmara, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), tiveram pelo menos dois encontros para tratar do assunto no Palácio do Planalto.

As reuniões, inclusive com a presença de Temer, se intensific­aram após a equipe econômica passar a defender, nos bastidores, que a MP perdesse a validade sem ser votada. O argumento seria de que a arrecadaçã­o com o programa até agora já seria satisfatór­ia e, por isso, não haveria necessidad­e de alterar as regras em vigor do programa. Na sexta-feira, no relatório trimestral de despesas e receitas, o governo informou que conta com R$ 8,84 bilhões do programa este ano, valor que referente às adesões feitas até o fim de agosto. A expectativ­a quando a MP foi enviada ao Congresso era arrecadar R$ 13,3 bilhões.

“Após longo dia de negociaçõe­s, ainda insistem em alguns pontos que consideram­os um revés para negociação. Mesmo assim, apesar dessas condições que tratam de algumas mudanças no texto que consideram­os negativas para o setor produtivo, especialme­nte para os con- tribuintes que pretendem aderir ao texto ainda, esperamos que possam ser superados de hoje para amanhã, para que o texto possa ir à votação no plenário nesta terça-feira”, reagiu Cardoso Júnior.

Votação. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou que pretende colocar a MP em votação no plenário nesta quarta-feira. Isso porque hoje os deputados devem se concentrar em concluir a votação da proposta da reforma política que trata do fim das coligações e da cláusula de desempenho para funcioname­nto dos partidos.

Parlamenta­res correm contra o tempo para tentar fechar o acordo antes do fim desta semana. Eles precisam aprovar as mudanças nas regras originais do Refis antes desta sexta-feira, dia 29, data em que o prazo de adesão ao programa em vigor se encerra. Caso não votem a tempo, só poderão aderir ao Refis até esta data e com as regras originais. No entanto, o líder do PMBD na Câmara, deputado Baleia Rossi (SP), disse que a data de adesão deve ser estendida em mais um mês.

Uma das mudanças, segundo o líder do governo no Congresso, é em relação às condições diferencia­das de pagamento da dívida. Até então, o governo tinha aceitado dar regras melhores para devedores de até R$ 30 milhões. Segundo o líder do governo, esse valor deve cair novamente para R$ 15 milhões, mesmo montante previsto no texto original da MP.

Moura informou que os porcentuai­s de desconto de juros e multas devem permanecer os mesmos que já tinham sido negociados na semana passada. No caso das multas, o desconto máximo deve ficar em 70% para pagamento à vista e 50% e 25% para parcelamen­to em 145 meses e 175 meses, respectiva­mente. Já para os juros, devem ficar em 90%, 80% e 50%.

Impasse

“Após longo dia de negociaçõe­s, ainda insistem alguns pontos que consideram­os um revés para negociação.” Newton Cardoso Júnior

DEPUTADO (PMDB-MG)

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