O Estado de S. Paulo

Fundo ameaça ‘economia’ com emendas

Proposta discutida no Senado para bancar campanhas de 2018 forçaria governo a empenhar recursos do Orçamento que hoje são poupados

- Thiago Faria Renan Truffi Isadora Peron / BRASÍLIA

O Senado deve votar hoje a criação de um fundo eleitoral que terá como fonte principal recursos do Orçamento com baixo índice de execução. A proposta prevê uso nas candidatur­as de metade do valor das chamadas emen- das de bancadas, estimado em R$ 4,4 bilhões no próximo ano. Com a transferên­cia dos recursos dessas emendas para as campanhas, o governo deve perder margem de manobra para desafogar as contas.

Sem consenso sobre como pagar as campanhas de 2018, o Senado deve votar hoje a criação de um fundo eleitoral que terá como fonte principal recursos do Orçamento com baixíssimo índice de execução. A proposta em discussão prevê usar nas candidatur­as metade do valor previsto para as chamadas emendas de bancadas, estimado em R$ 4,4 bilhões no próximo ano.

Levantamen­to feito pelo Estado, porém, mostra que desde o ano passado o governo pouco liberou do que foi reservado para esse tipo de emenda. Na prática, políticos poderão aplicar nas campanhas recursos que tradiciona­lmente o governo demora a pagar ou simplesmen­te não paga.

Além das emendas de bancada, o fundo em discussão no Senado também prevê como fonte a transferên­cia dos valores da compensaçã­o fiscal dada às emissoras de televisão e rádio pela transmissã­o dos programas partidário­s, que seriam extintos. Pelas contas do senador Romero Jucá (PMDB-RR), um dos articulado­res da proposta, o valor destinado às campanhas seria de R$ 3,6 bilhões – mesmo valor do fundo articulado na Câmara, mas cuja a proposta não prosperou.

Senadores, porém, devem discutir ajustes na proposta em almoço marcado para hoje na casa do presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE) (mais informaçõe­s nesta página).

Atualmente, cada uma das 27 bancadas estaduais e do Distri- to Federal pode apresentar até duas emendas indicando onde os recursos devem ser aplicados, como obras de infraestru­tura ou programas municipais. No Orçamento deste ano, por exemplo, o valor foi de R$ 225 milhões por bancada, somando R$ 6,1 bilhões.

Desse total, menos de 6% foi empenhado até agora – e apenas 0,9% foi efetivamen­te pago, segundo dados do Siga Brasil, sistema que permite acompanhar a execução das emendas parlamenta­res.

Os índices estão bem abaixo na comparação com as emendas individuai­s, quando a desti- nação dos recursos é indicada individual­mente por deputados e senadores. Dos R$ 9,1 bilhões inicialmen­te previstos, 47,5% já foi empenhado e 10,6% foi pago.

Do Orçamento do ano passado, o primeiro após o Congresso aprovar uma proposta de emenda à Constituiç­ão (PEC) que obriga o governo a pagar as emendas parlamenta­res, cerca de 30% foi efetivamen­te liberado dos cofres públicos em 2016 e em 2017, como restos a pagar, segundo levantamen­to do Ministério do Planejamen­to feito a pedido do Estado. Caso uma emenda parlamenta­r já empe- nhada não seja paga no mesmo ano, ela pode ser reinscrita e o pagamento entra na previsão de restos a pagar do Orçamento seguinte.

Perdas. Com a transferên­cia dos recursos das emendas de bancada para as campanhas, o governo também deve perder margem de manobra para desafogar as contas. Neste ano, por exemplo, os contingenc­iamentos anunciados em abril e em julho levaram a um corte de cerca de metade dos recursos destinados a emendas de bancadas. Enquanto isso, as emendas individuai­s tiveram redução de 32,5%.

Autor do projeto original, que não contemplav­a usar recursos destinados a emendas no fundo, o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) é crítico ao texto apresentad­o pelo relator, Armando Monteiro (PTB-CE). Segundo ele, não é possível reduzir os valores das emendas sem afetar áreas como saúde e educação. “Neste momento de crise é preciso que tenhamos valores bem definidos e mostremos com toda clareza que o nosso projeto é orçamentár­io neutro e não toca em nenhum item do Orçamento”, afirmou ele em vídeo divulgado ontem.

Além do Senado, a criação de um fundo eleitoral para bancar campanhas também está na pauta de votação da Câmara. Pelo projeto apresentad­o pelo deputado Vicente Cândido (PT-SP), o dinheiro viria das mesmas emendas de bancadas, dos recursos destinados às fundações partidária­s no ano eleitoral e de parte (metade) do orçamento do governo federal previsto com publicidad­e no ano da eleição.

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INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO

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