Fuvest e Enem
Conteúdo dos exames se aproximou, mas cada um mantém aspectos para se superar
Levantamento mostra conteúdos que mais caem
Os 136 mil inscritos para a Fuvest – principal processo seletivo para a Universidade de São paulo (USP) – e os 6,1 milhões de participantes do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) terão em 2017 uma tarefa hercúlea pela frente, semelhante em alguns sentidos, diferentes em muitos outros. Apesar do conteúdo exigido em ambos ter se aproximado nos últimos anos, levando o Enem mais para perto da prova que pode garantir a entrada para a USP, os principais desafios em cada uma ainda são únicos.
Para ajudar os estudantes a se prepararem para os dois exames, o Estado obteve um levantamento exclusivo realizado pelo Curso Poliedro sobre os conteúdos de cada disciplina que mais caem na Fuvest. Também publicamos nesta edição os temas mais abordados em cada área do Enem, reunidos pela equipe do Poliedro.
Quem conhece bem o que virá pela frente nos próximos meses é a estudante Marcella Tolomeotti, de 24 anos, que, pelo sétimo ano, enfrentará os dois exames mais concorridos do País. Com a ambição de ser médica (um dos cursos com maior relação de candidatos por vaga), ela compartilha com seus colegas e concorrentes o esforço e a esperança de estudar em uma universidade em 2018.
Para ela, cada prova tem seus segredos para ser superada com sucesso. A Fuvest traz como dificuldade não apenas o extenso conteúdo que o aluno tem de ver ao longo da vida escolar, aprimorado no ano anterior à prova, mas tam-
bém a pressão psicológica. O fato de ser a porta de entrada para a mais bem conceituada universidade não apenas do Brasil, mas da América do Sul, põe, além do conhecimento, o lado emocional à prova.
“Se aparece um exercício na minha frente em que não está escrito ‘Fuvest’, eu encaro de um jeito totalmente diferente”, conta Marcella. “O fato de ser um vestibular tão concorrido tem o poder de desestabilizar muito quem quer passar. Quem consegue ser um pouco mais frio, menos emocional, tem vantagem nesse sentido”, acredita a estudante.
Essa opinião é compartilhada por especialistas em vestibular. Responsável pelos levantamentos do Poliedro sobre os temas que mais caem na Fuvest e no Enem, o coordenador do curso em São Paulo, Vinicius de Carvalho Haidar, afirma que a maior dificuldade da maioria dos candidatos em vestibulares é, “de longe”, emocional.
“É mais motivo do que o próprio conteúdo (para se ter problemas nas provas). Porque o conteúdo os estudantes tiveram ao longo do ensino médio e quem faz o cursinho ainda viu, novamente, a revisão da revisão. Então, apesar de possíveis dúvidas que possam surgir sobre as matérias, manter o foco, a atenção, não perder o controle, é o maior desafio”, afirma o coordenador do Poliedro.
Já o Enem minimizou uma das grandes pedras no cami- nho para quem quer entrar na universidade por meio do exame. Com dois dias de prova e 180 questões mais a Redação, o cansaço era apontado por especialistas como a grande tarefa a ser superada. Em 2017, com a prova aplicada em dois domingos em vez de ser realizada em um único fim de semana, esse problema foi reduzido. Mas outros desafios surgiram para os estudantes.
Com a nova configuração, os textos longos, uma das características do Enem, causam ainda mais temor entre os estudantes. Agora, os exercícios de Humanas ficam todos reunidos no primeiro dia de prova, com a Redação. No segundo domingo, Matemática é acompanhada de Física, Química e Biologia. Com isso, diz o coordenador do Poliedro, o aluno pode cansar em usar por muito tempo o mesmo tipo de raciocínio.
“No Enem, a dificuldade é por serem provas muito longas, ainda mais nesse modelo novo, que concentra os tipos de matéria. Quem tem facilidade com leitura vai se dar melhor no primeiro dia e ter dificuldades no segundo, e viceversa. Antes dava para alternar dentro da prova. Sem isso o nível de concentração cai demais”, explica Haidar.
“Acho que o maior desafio do Enem é a resistência. Até o ano passado cansava muito por ser em dois dias seguidos. Este ano não sei bem como vai ser. Acho que no primeiro dia, por ser de Humanas, vai ter
muito texto. Tem de estar sempre se renovando durante a prova para manter a linha de raciocínio”, diz Marcella.
Desafio em Exatas. De modo geral, explica o coordenador do Poliedro, o maior problema dos alunos, em qualquer prova, ainda é a área de Exatas. Em ranking divulgado no ano passado pelo Fórum Econômico Mundial, o Brasil estava na 133.ª posição entre 139 países na apreensão de conceitos matemáticos e científicos.
“Olhando de forma global você vê Exatas na parte mais baixa da curva e Humanas no alto. É onde a maior parte dos alunos tem dificuldade. Acho que é um pouco cultural e um pouco da metodologia mesmo, a forma como as escolas ensinam”, completa Haidar.
Aluna do Colégio Bandeirantes, na zona sul de São Paulo, Julia Oliveira, de 17 anos, não faz nenhuma preparação especial, nem para o Enem nem para a Fuvest. Ela se prepara, com ajuda da escola, de forma geral para todos os vestibulares. Com a reformulação do Enem, dando ares mais conteudistas para a prova, boa parte do que pode cair em uma pode cair na outra também.
“O Enem costuma ter uma complexidade menor que outros vestibulares, então eu faço os programas da escola e es- tudo tanto para as provas do Bandeirantes quanto para os outros vestibulares que planejo prestar”, conta a jovem, que quer entrar em uma faculdade na área de Biológicas.
Temas abordados. Apesar da semelhança do conteúdo pedido nos editais, é importante ficar atento para o que cai com mais frequência em cada avaliação. O levantamento feito pelo Poliedro mostra os assuntos mais abordados por matéria ao longo do tempo tanto no Enem quanto na Fuvest e mostra as especificidades de cada um dos exames.
“Em Matemática, a Fuvest deve continuar mantendo o pa- drão dela. Função naturalmente deve cair, probabilidade. Às vezes o que não cai de mais difícil em uma primeira fase aparece na segunda”, conta o professor do Poliedro Fernando Espiritu Santo. Especialista em Exatas, ele pede mais atenção justamente com o Enem: “É o exame em que estão ocorrendo as mudanças, em especial no nível de dificuldade. Assim o que não esperávamos na prova do Enem começou a aparecer, como função exponencial e logarítmica.”
“Eu diria para ficar de olho em razões e proporções, porcentual e juros em primeiro lugar. Em segundo, para não perder pontos fáceis, estatística.
E, em terceiro, áreas, volumes e gráficos”, recomenda Espiritu Santo. “Falando no jargão, o Enem está ‘fuvestando’.”
“Fuvestando” também está a prova de Humanas do exame. De acordo com a professora Cristina Luciana do Carmo, que também dá aulas no Poliedro e acompanhou o levantamento do cursinho, o Enem está trazendo uma prova mais equilibrada em Ciências Humanas. “Deve trazer conteúdos clássicos de História, Geografia, Filosofia e Sociologia, de maneira muito equilibrada. Eu diria um quarto para cada. O aluno tem de ter um conhecimento abrangente”, diz Cristina. Segundo a professora, uma preparação que englobe um pouco de cada uma das áreas pedidas é o caminho mais seguro para realizar as provas.
Para Julia, o medo não está nas disciplinas de Exatas ou de Humanas. “Nunca se sabe sobre a Redação. Para mim, pesa muito. Ela é uma surpresa para a gente na prova”, afirma a estudante do Bandeirantes.
A dica para se preparar vem da professora Karin Kansog, do Colégio Santa Maria, na zona sul de São Paulo. “Todos os anos os temas falam de sociedade brasileira, todas as questões falam disso, porque tem de pensar na nossa realidade. E você não pode se furtar de pensar nessa realidade.”