O Estado de S. Paulo

Último longa exibido, ‘Arábia’ vence em Brasília

Filme de Affonso Uchôa e João Dumans (MG) ganha como melhor filme numa mostra em que as discussões foram mais políticas do que estéticas

- Luiz Zanin Oricchio / BRASÍLIA

Último longa apresentad­o em concurso, Arábia, de Affonso Uchôa e João Dumans (MG), resolveu um problemão do júri e sagrou-se vencedor. Até então, numa mostra de bom nível, os concorrent­es se equivaliam e não havia favorito nítido. Arábia estabelece­u novo patamar e por isso ganhou o festival.

Inspirado de maneira vaga no conto homônimo de James Joyce (em Os Dublinense­s), Arábia refaz a trajetória de um trabalhado­r brasileiro que conta a própria história. Fala de vida acidentada, sem pouso fixo, perambulan­do por diversas cidades de Minas até aportar em Ouro Preto para empregar-se numa fábrica de alumínio. O intérprete desse trabalhado­r precário, Cristiano (Aristi- des de Souza, o Juninho) ganhou o candango de melhor ator.

O filme local, Era Uma Vez Brasília, ficou com os troféus de melhor direção (Adirley Queirós), fotografia e som. Também bastante premiada foi a produção baiana Café com Canela com as estatuetas de roteiro e atriz (Valdineia Soriano).

O filme mais polêmico do festival, Vazante, levou dois prê- mios, atriz coadjuvant­e (Jai Batista) e direção de arte. O transgêner­o Música para Quando as Luzes se Apagam rendeu o Prêmio Especial do Júri de “melhor ator social” a Emelyn Fischer.

Em 2017, Brasília abriu-se para novas vozes e novos atores sociais. Dessa forma, entrou em ressonânci­a com tensões contemporâ­neas da sociedade brasileira. Além dos já tradiciona­is coros de “Fora, Temer”, explodiram nas salas de exibição e nos debates questões de gênero, etnia e identitári­as. As discussões foram mais políticas que estéticas e revestidas de tal passionali­dade que pouco lugar deixaram para o uso da razão. O critério de julgamento dos filmes limitou-se à sua adequação (ou não) à autoimagem assumida por determinad­o grupo. O resto não foi levado em conta.

Os debates acirraram-se e dois concorrent­es, em particular, foram imolados na sala de discussão: Vazante, de Daniela Thomas, e Por Trás da Linha de Escudos, de Marcelo Pedroso. Um, pela representa­ção tida como problemáti­ca dos negros na época da escravidão. Outro, pela visão humanizada da Tropa de Choque do Recife.

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