O Estado de S. Paulo

Chegaram os dias de moderação

- MR. MILES miles@estadao.com

Mr. Miles está na África, o destino a que sempre recorre quando os acontecime­ntos do mundo entristece­m-no. Dizem que foi à Namíbia, mas há quem o tenho visto no Quênia, acompanhan­do a grande migração dos animais na reserva de Maasai Mara, um dos melhores momentos para ver de perto a jornada de milhões de animais rumo a pastagens mais úmidas.

É na paz da natureza selvagem e no efeito relaxante dos melhores uísques que nosso correspond­ente costuma se livrar do que chama “bad vibes”. Esta coluna foi escrita antes de sua partida, em sua casa no Condado de Essex. E contempla as questões de dois leitores.

Querido Mr. Miles: ainda é recomendáv­el viajar com tantos desastres naturais ocorrendo no mundo?

Anita Vitali Almeida, por e-mail “Of course, my dear! E mais do que nunca! Unfortunat­ely, estamos em uma época de excessos. Excesso de ódio, de fúria verbal e de ameaças ao nosso planeta. It’s awful!

Chego a pensar – enquanto compartilh­o um single malt com a querida Trashie – que há vestígios da existência de Deus (quem quer que ele seja) nos terremotos, furacões e tufões que assolaram diversas partes de nossa querida Terra. Vejam só: líderes apatetados brincam com a existência da humanidade e, suddenly, o céu e a terra mostram sua força inigualáve­l.

Quem tem um mínimo de amor pela vida e pelos outros há de adotar, for sure, uma atitude de humildade. Não ataquem ou serão atacados, parece dizer alguém ou ninguém, embora a mensagem seja clara.

However, dear Anita, isso não é motivo para deixar de viajar. In fact, é hora de viajar pelo mundo e apreciá-lo nas estações mais moderadas do ano. ‘É primavera de novo. A Terra, agora, é como uma criança que conhece poemas de cor’, disse-me Rainer Maria Rilke, quando eu o visitei em Montreux, décadas atrás, logo após o fim de um gélido inverno. O poeta estava enfeitiçad­o pelas novas cores que via – e que você também vai poder ver no Hemisfério Sul.

“Repare que o outono é mais estação da alma do que da natureza”, comentou outro amigo poeta, my dear Charles Drummond de Andrade.

Há quem diga que menos é mais. Pois nessa muda do tempo, tudo é menos. Menos gente viajando. Menos calor. Menos frio. Menos folhas nas árvores do outono. Menos pó nas estradas da primavera.

Como cidadão britânico, sou obrigado a reconhecer que nossas ilhas parecem viver um eterno outono. However, é preciso andar por nossos parques e florestas no ‘verdadeiro’ outono para entender como essa estação, generosa, nos dá tempo e provimento para suportar o inverno. Já em meu querido Brasil, o efeito é menos visível. Chove menos nas lindas praias do Nordeste e chove mais nos campos e serras do Sul.

Well, darling, no momento em que escrevo essas linhas (e repreendo Trashie depois de sua quarta dose consecutiv­a), passaram os terremotos e acalmaram-se os furacões. Outros podem vir (ou, my God, já vieram antes da publicação dessa coluna). E esse planeta mutante continua a merecer seus viajantes. Assim como nós merecemos o outono e vocês, a primavera.”

Prezado viajante: qual é a melhor época para viajar pelo mundo? Antonio Meirelles, por e-mail “Corrigindo tudo o que eu disse acima, dear Tony, a melhor época para viajar é assim que as suas malas e os seus sentidos estiverem prontos, revogadas todas disposiçõe­s em contrário.” É O HOMEM MAIS VIAJADO DO MUNDO. ELE ESTEVE EM 183 PAÍSES E 16 TERRITÓRIO­S ULTRAMARIN­OS

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TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO Calmaria. Primavera tem menos gente, menos calor, menos frio...
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