O Estado de S. Paulo

Mudança de estratégia para encarar o Enem

Os 90 testes de áreas parecidas em cada dia podem cansar concorrent­es. Mas especialis­tas alegam que a alteração valeu pelo ganho de separar os exames com uma semana de intervalo

- / GUSTAVO ZUCCHI, ESPECIAL PARA O ESTADO

O novo modelo das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) faz educadores e alunos voltarem sua atenção de modo especial para os dias 5 e 12 de novembro, curiosos de como vai funcionar a nova dinâmica. O consenso até aqui é que há, ao menos, um avanço claro: o fim da prova em dois dias seguidos. O que divide opiniões é a segunda grande mudança: como fazer uma prova que concentra- rá Humanas e a Redação e outra só com Exatas e Ciências?

Até o ano passado, as áreas eram misturadas e isso fazia parte da estratégia da prova. O recomendad­o era alternar de modo moderado entre as áreas, para evitar a fadiga de fazer muitos testes de um só tema. Agora os 90 testes do primeiro dia e os 90 do segundo vão exigir um modo de pensar parecido. É a opinião do coordenado­r-geral do Etapa, Edmilson Motta. Para ele, a impressão inicial depois do anúncio das mudanças era de que a prova poderia ficar mais cansativa e trazer uma dificuldad­e extra. “Ficar resolvendo questões com a mesma caracterís­tica em um grande número possivelme­nte deixa a prova mais cansativa e, com isso, pode piorar o desempenho de alunos.”

O medo de um possível cansaço mental também aflige al- guns alunos. É o caso de Julia Queiroga de Aquino, de 17 anos. A estudante do 3.º ano do ensino médio do Colégio Santa Maria, na zona sul de São Paulo, sonha em se tornar advogada, mas receia que a extensa prova de um tema só possa dificultar seu caminho. E não apenas no dia de Exatas.

“Acho que vai ser muita coisa. Falando de uma pessoa que fez o Enem no ano passado, as questões são muito

grandes, muito extensas, há muita coisa para ler. E os textos do Enem não são textos fáceis. Imagina fazer 90 questões disso?”

Sem medo. As mudanças, entretanto, não devem ser motivo para pânico. Os simulados feitos por alguns dos maiores cursinhos de São Paulo mostram que, se existir prejuízo pelas provas temáticas, ele é muito pequeno perto do benefício que a separação das duas provas por uma semana traz. “A gente tem percebido pelos simulados que agora os alunos conseguem terminar a prova. Antes, quando era Português e Matemática, muitos não conseguiam terminar e, pior, não faziam a Redação”, afirmou a coordenado­ra pedagógica do Curso e Colégio Objetivo, Vera Lúcia da Costa Antunes. “No dia da mudança, foi aquele impacto, mas agora os alunos estão percebendo que pode ser benéfico para eles.”

Colega de Julia no Santa Maria, João Antonio Milaré, de 17 anos, também sente que terá mais vantagens do que prejuízos. O jovem, que deseja cursar Engenharia Mecânica, acredita que poder fazer um estudo focado em só uma área de raciocínio na semana que antecede a prova vai favorecer os estudantes. “Acho que essas duas mudanças (separar as provas em uma semana e focar em matérias semelhante­s) se complement­am muito bem.”

Com foco. A recomendaç­ão dos especialis­tas no Enem é usar as mudanças a seu favor, em especial a semana antes da primeira prova e a outra entre os dois dias de testes. A palavra-chave é foco: antes do dia 5 de novembro aproveitar para revisar os conteúdos de História, Português, Geografia, Sociologia, Filosofia e Atualidade­s, treinar a Redação e se preparar para encarar os longos textos que as Ciências Sociais do exame geralmente pedem. Depois deixar de lado e rever tudo que puder de Matemática, Física, Biologia e Química.

Para a prova, as táticas seguem as mesmas, mas com algumas alterações. “A estratégia de fazer metade de cada prova, Redação, outra metade e terminar finalizand­o a Redação deve ser mantida, mas não será tão refrescant­e quanto nos anos anteriores”, explica coordenado­r-geral do Etapa.

As pausas para retomar o fôlego, outro conselho para provas longas, devem ser mantidas, mas o ideal é fazer intervalos menores, em vez de um maior grande após os testes. Por último, não deixe de ir até o fim da prova. Leia todas as questões e resolva as mais fáceis. E não volte nas que já marcou com certeza. É o conselho da coordenado­ra do Objetivo, Vera Lúcia: “Quem lê pela segunda vez, mais cansado, acaba errando.”

 ?? FELIPE RAU/ESTADÃO ?? Incerteza. Julia teme a prova extensa; João Antonio, seu colega do Santa Maria, vê vantagens
FELIPE RAU/ESTADÃO Incerteza. Julia teme a prova extensa; João Antonio, seu colega do Santa Maria, vê vantagens

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil