O Estado de S. Paulo

Um bom programa

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Aaprovação pela Câmara Municipal do projeto de lei que autoriza a concessão de equipament­os e serviços públicos à iniciativa privada é uma importante vitória do prefeito João Doria e abre caminho para o atual governo melhorar os serviços prestados à população, mesmo enfrentand­o sérias dificuldad­es financeira­s que limitam muito a sua capacidade de investimen­to. Como esse é um dos pontos fortes de seu programa de governo, ele tem agora nas mãos um poderoso instrument­o para começar a tornar realidade as promessas feitas aos paulistano­s.

Serão repassados a particular­es – por meio de processo de licitação que deve começar ainda neste ano para que possa estar concluído no mais tardar ainda no primeiro semestre de 2018, segundo espera a Prefeitura – a gestão do bilhete único do transporte público; parques, praças e planetário­s; terminais de ônibus; serviço de guincho e pátios de veículos; e o Mercado Municipal (Mercadão) e o Mercado Kinjo Yamato, que fica ao lado.

Quanto aos parques, estabelece o projeto que não será cobrado ingresso para acesso às suas áreas abertas. E os concession­ários dos terminais de ônibus deverão construir e doar ao Município moradias para fins de locação social, em área correspond­ente a 5% da área construída dos terminais. Teve de ser retirada do projeto original a concessão de outros 12 mercados municipais e 17 sacolões, que enfrentou forte resistênci­a de vereadores da base de apoio ao prefeito, que têm seus redutos eleitorais nas regiões onde eles se localizam.

Foi o preço para conseguira aprovação do projeto por grande maioria, de 38 votos a favor e 13 contra, o que mostra que Doria – dependendo das circunstân­cias e da disposição de negociar – pode contar com sólido apoio na Câmara. Nesse caso negociou bem, porque, segundo o líder do governo, vereador Aurélio No mura (PSDB), “foi mantida a essência do projeto”.

A possibilid­ade de contar com respaldo do Legislativ­o, mesmo em matéria considerad­a difícil como esse programa de concessão de bens eserviçosp­ú bli cosà iniciativa privada,éfund amental para Do ria obter êxito em seu governo. Ele vai precisar disso não só porque, como estabelece o projeto agora aprovado, deve encaminhar à Câmara, em até seis meses, “projeto de lei específico para tratar da autorizaçã­o legislativ­a para concessão dos demais mercados e sacolões municipais”, que ficou fora dessa vez. Também porque do plano de Do ria constam mais concessões–entre elas as de mobiliário urbano e até mesmo de cemitérios, poisa administra­ção de muitos destes deixa a desejar – e a privatizaç­ão do Anhembi e do Autódromo de Interlagos. Outra concessão, a do Estádio do Pacaembu, já foi autorizada pela Câmara.

Não procede a crítica do líder do PT, Antonio Donato, da oposição, de que o projeto aprovado é genérico, sem diretrizes para os editais de licitação e a fixação de prazos para as concessões. É da própria natureza desse tipo de projeto definir apenas as grandes linhas que vão reger as concessões. É por isso que os prazos têm de ser estabeleci­dos depois, de acordo com cada caso, tendo em vista a variedade de concessões autorizada­s.

Outra crítica feita a esse plano de Doria desde o início é que dificilmen­te os recursos que ele trará para os cofres públicos ajudarão a atual administra­ção a enfrentar as suas dificuldad­es financeira­s. As concessões de serviços e bens públicos ou a sua venda a empresas privadas são processos naturalmen­te lentos. Seu retorno pode ser importante, mas não é rápido. Por isso, as estimativa­s de quanto eles renderão enchem os olhos, mas podem ser enganadora­s.

É provável que a maior parte dos R$ 7 bilhões que o atual governo espera arrecadar com as concessões e privatizaç­ões fique para o seu sucessor. O que, aliás, é também um ponto a favor de Doria, que vê a cidade a médio e longo prazos. Mas o ganho não se limita àquela soma. Ele inclui também o que a Prefeitura deixará de gastar com a manutenção daqueles serviços e bens concedidos. E esse ganho é importante.

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