Brasileira faz história ao subir o Kilimanjaro
Fernanda Maciel quebra dois recordes mundiais na montanha mais alta da África e se diz aliviada ao fugir de avalanche
Como ultramaratonista, Fernanda Maciel está acostumada a superar seus limites. Mas desta vez ela foi além do imaginável e quebrou dois recordes mundiais na Tanzânia, ao subir e descer o Kilimanjaro, montanha mais alta da África, no menor tempo na história. “É uma conquista pessoal, mas também é como se fosse um novo esporte. Sou corredora e gosto de fazer isso em montanhas super altas. É como se tivesse criando um tipo de corrida extrema. Esse recorde representa tudo isso”, diz empolgada.
Ela saiu da porta do Parque Nacional, a Umbwe Gate, que está a 1.670 metros de altitude, e chegou ao cume da montanha que fica a 5.895 metros de altitude, em 7h08min. Depois, voltou correndo e completou o percurso em 10h06min, estabelecendo dois recordes mundiais. As marcas anteriores eram da corredora alemã Anne Marie Flammersfeld, que tinha feito a subida em 8h32min e o percurso total em 12h58min, em 2015.
“Foi uma corrida bem extrema. Correr com muito pouco oxigênio no cérebro é algo que continua sendo novo para mim. A rota que fiz começa por um terreno técnico, passando por florestas e depois terreno de alta montanha com bastante escalada até o topo. Nada de gelo, apesar de correr ao lado de um glaciar”, explica.
Aos 37 anos, a mineira nascida em Belo Horizonte é especializada em ultramaratona. Sabe que possui força para a escalada, mas passou por grandes dificuldades ao subir o Kilimanjaro. “Lá não tem escalada em ge- lo, mas o que teve, que foi muito perigoso, foi uma avalanche de pedra. Imagina uma pedra do tamanho de um fogão descendo a montanha em sua direção.”
Quando ela estava subindo correndo para fazer um treino, a 5.200 metros de altitude, viu essa enorme pedra descendo. “Estávamos eu, o fotógrafo e dois guias. Aí eu corri como uma cobra, me arrastando no chão, e me escondi atrás de uma pedra. Foi quando cortei meu joelho. Nessa montanha o desafio é esse. Quando estava dormindo no acampamento-base, dava para escutar várias avalanches”, conta.
Fernanda explica que de dia costuma fazer calor na montanha que fica na Tanzânia, na fronteira com o Quênia. Com isso a geleira vai se desfazendo e as pedras vão se soltando lá do alto. “Na minha subida, tive de reservar bastante energia para essa parte acima dos 5.200 metros, para ter a capacidade de ir super rápida no meio desse vale que é a parte mais perigosa”, lembra a atleta.
Atualmente Fernanda vive em Coll de Nargó, na Espanha, perto dos Pirineus. Depois da façanha na Tanzânia, ela já se pre- para para outra prova que terá de superar seus limites. “Daqui duas semanas vou cruzar correndo as Ilhas Reunião. É a última etapa da Copa do Mundo de ultramaratona. Vou correr 160 km com muitas subidas e descidas. Tem praia, vulcão e espero ir bem lá”, conclui, deixando no ar seu próximo projeto. “Será no Rio, no ano que vem, mas não posso dar detalhes.”