Doces para a Rocinha
Presentes foram dados a crianças como uma forma de tentar se aproximar da população; ontem as aulas foram parcialmente retomadas na favela
No dia de Cosme e Damião, militar entrega doces a criança na favela da Rocinha, no Rio, numa tentativa de aproximação com os moradores. Ontem, as aulas foram parcialmente retomadas.
Militares das Forças Armadas distribuíram ontem, Dia de Cosme e Damião, doces para crianças na Rocinha, favela da zona sul do Rio cercada desde sexta por causa de disputas entre traficantes iniciadas no domingo. O Comando Militar do Leste não deu detalhes sobre a iniciativa, uma forma de tentar se aproximar da população, em geral cética ou refratária ao contato com soldados e policiais. Tradicionalmente, a data é comemorada em subúr- bios e bairros pobres do Rio.
A ação dos militares com as crianças foi também um gesto simbólico. Nos últimos dias, houve, contra militares e policiais, queixas de buscas irregulares em residências na Rocinha e até acusações de arrombamentos sem mandado e furtos. Nas redes sociais, foram publicadas fotos de portas arrombadas, que seriam de casas na favela. Autoridades dizem desconhecer os incidentes e garantem investigações caso recebam queixas formais.
Ontem, as imagens dos soldados sorridentes, com as mãos cheias de sacos de guloseimas e cercados por crianças, contrastaram com fotos feitas na véspera. Nessas, os militares aparecem armados, usando capuzes com assustadores desenhos de caveira. O Estado-Maior Conjunto das operações informou que investiga o uso por militares de balaclavas (toucas ninja) em desacordo com as regras.
Segundo o órgão, usar o acessório “nas cores preta e azul-ferrete” é permitido pelos regulamentos das Forças Armadas.
“O uso de peças em desacordo com tal regra está sendo apurado”, informaram os militares por nota. Eles também disseram que “o uso da peça com qualquer tipo de inscrições ou desenhos não é permitido”. O comando não informou se os militares que utilizaram o acessório “em desacordo” com os regulamentos de uniformes serão punidos ou alvo de inquérito policial-militar.
Escolas. Ontem, as aulas foram parcialmente retomadas na Rocinha. Quatro escolas municipais, duas creches e um Espaço de Desenvolvimento Infantil abriram pela primeira vez nesta semana. O movimento, porém, foi menor do que o habitual. Duas escolas com 817 estudantes continuam fechadas. A Secretaria Municipal de Educação não divulgou os nomes das unidades.
Em todo o município, há 1,6 mil alunos sem aulas por causa da proximidade com bairros marcados pela violência. Uma das queixas na Rocinha é de que a presença de blindados impede a passagem de veículos de transporte escolar por vias estreitas.
Apesar do prosseguimento das operações policiais e da revista rigorosa de veículos que entram e saem da favela, o ambiente, aos poucos, se normaliza. Até a noite de ontem, não foram registrados tiroteios. Moradores, porém, queixam-se de que ainda não conseguiram retomar completamente a rotina.