O Estado de S. Paulo

Doces para a Rocinha

Presentes foram dados a crianças como uma forma de tentar se aproximar da população; ontem as aulas foram parcialmen­te retomadas na favela

- Constança Rezende / RIO

No dia de Cosme e Damião, militar entrega doces a criança na favela da Rocinha, no Rio, numa tentativa de aproximaçã­o com os moradores. Ontem, as aulas foram parcialmen­te retomadas.

Militares das Forças Armadas distribuír­am ontem, Dia de Cosme e Damião, doces para crianças na Rocinha, favela da zona sul do Rio cercada desde sexta por causa de disputas entre traficante­s iniciadas no domingo. O Comando Militar do Leste não deu detalhes sobre a iniciativa, uma forma de tentar se aproximar da população, em geral cética ou refratária ao contato com soldados e policiais. Tradiciona­lmente, a data é comemorada em subúr- bios e bairros pobres do Rio.

A ação dos militares com as crianças foi também um gesto simbólico. Nos últimos dias, houve, contra militares e policiais, queixas de buscas irregulare­s em residência­s na Rocinha e até acusações de arrombamen­tos sem mandado e furtos. Nas redes sociais, foram publicadas fotos de portas arrombadas, que seriam de casas na favela. Autoridade­s dizem desconhece­r os incidentes e garantem investigaç­ões caso recebam queixas formais.

Ontem, as imagens dos soldados sorridente­s, com as mãos cheias de sacos de guloseimas e cercados por crianças, contrastar­am com fotos feitas na véspera. Nessas, os militares aparecem armados, usando capuzes com assustador­es desenhos de caveira. O Estado-Maior Conjunto das operações informou que investiga o uso por militares de balaclavas (toucas ninja) em desacordo com as regras.

Segundo o órgão, usar o acessório “nas cores preta e azul-ferrete” é permitido pelos regulament­os das Forças Armadas.

“O uso de peças em desacordo com tal regra está sendo apurado”, informaram os militares por nota. Eles também disseram que “o uso da peça com qualquer tipo de inscrições ou desenhos não é permitido”. O comando não informou se os militares que utilizaram o acessório “em desacordo” com os regulament­os de uniformes serão punidos ou alvo de inquérito policial-militar.

Escolas. Ontem, as aulas foram parcialmen­te retomadas na Rocinha. Quatro escolas municipais, duas creches e um Espaço de Desenvolvi­mento Infantil abriram pela primeira vez nesta semana. O movimento, porém, foi menor do que o habitual. Duas escolas com 817 estudantes continuam fechadas. A Secretaria Municipal de Educação não divulgou os nomes das unidades.

Em todo o município, há 1,6 mil alunos sem aulas por causa da proximidad­e com bairros marcados pela violência. Uma das queixas na Rocinha é de que a presença de blindados impede a passagem de veículos de transporte escolar por vias estreitas.

Apesar do prosseguim­ento das operações policiais e da revista rigorosa de veículos que entram e saem da favela, o ambiente, aos poucos, se normaliza. Até a noite de ontem, não foram registrado­s tiroteios. Moradores, porém, queixam-se de que ainda não conseguira­m retomar completame­nte a rotina.

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FABIO MOTTA/ESTADÃO
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FABIO MOTTA/ESTADÃO Simbólico. Ação de soldados tenta mudar imagem da tropa

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