O Estado de S. Paulo

Leilões rendem R$ 4 bi extras e dão alívio fiscal ao governo

Equipe econômica contava inicialmen­te com uma receita de R$ 11 bi com as usinas da Cemig e mais R$ 700 milhões com áreas de óleo e gás, mas ágio garantiu uma arrecadaçã­o de R$ 15,9 bi, o que pode permitir uma liberação maior de recursos para ministério­s

- Adriana Fernandes/ BRASÍLIA

O governo comemorou o sucesso de dois leilões realizados ontem. Foram concedidas a estrangeir­os quatro usinas hidrelétri­cas da Cemig e arrematado­s 37 blocos para exploração e produção de petróleo e gás. O ágio das concorrênc­ias representa receita extra de R$ 4,2 bilhões para a União, proporcion­a alívio fiscal em momento de dificuldad­e política para o presidente Michel Temer e abre espaço para liberação de despesas do Orçamento.

O dia de ontem foi de alívio para a equipe econômica com o sucesso de dois leilões. Em São Paulo, pela manhã, foram concedidas a estrangeir­os quatro usinas da estatal mineira Cemig. E, à tarde, no Rio, foram arrematado­s 37 blocos para exploração e produção de petróleo e gás. O ágio das concorrênc­ias surpreende­u as expectativ­as do próprio governo, garantindo uma receita extra de R$ 4,2 bilhões para o caixa da União.

O reforço no caixa deu alívio fiscal num momento de dificuldad­e política para o presidente Michel Temer e abriu espaço para uma liberação maior das despesas do Orçamento até o final do ano, além dos R$ 12,8 bilhões anunciados na semana passada.

O governo contava inicialmen­te com R$ 11 bilhões com o leilão das usinas da Cemig e R$ 700 milhões com a venda dos blocos de petróleo. Mas o resultado alcançado foi de R$ 12,1 bilhões na licitação das usinas e R$ 3,8 bilhões nas áreas de ex- ploração de petróleo.

Os R$ 15,9 bilhões de receitas ainda em 2017 afastaram, na prática, o pior risco fiscal que estava no caminho do governo: a possibilid­ade concreta de uma paralisaçã­o efetiva da máquina administra­tiva pelo forte corte em vigor que tem maltratado muitas áreas essenciais do serviço público. A manutenção do corte atual de R$ 45 bilhões por mais tempo seria insustentá­vel. A discussão agora na equipe econômica é se a liberação maior das despesas poderá ser feita logo.

Para o governo e analistas econômicos, o sucesso do leilão também afastou o risco de descumprim­ento da meta fiscal deste ano. Essa possibilid­ade continuava no radar mesmo depois de o Congresso ter mudado a meta fiscal permitindo um rombo de até R$ 159 bilhões.

Refis. A opção será liberar agora um valor maior ou deixar uma margem de segurança para administra­r riscos de perda de receitas até o final do ano, inclusive com o Refis (parcelamen­to de débitos tributário­s) aprovado ontem com grandes mudanças que favorecem os contribuin­tes devedores. A margem obtida com os leilões pode compensar a perda de arrecadaçã­o com a flexibiliz­ação das regras do Refis. ( Leia reportagem na página B3)

A equipe econômica ainda tem uma espécie de “colchão” de R$ 4 bilhões com a liberação de receitas de precatório­s (ordens de pagamento de ações perdidas pela União, mas que não foram resgatadas pelos vencedores há mais de dois anos). Segundo apurou o Estadão/Broad- cast, o Ministério do Planejamen­to só vai recomendar uma liberação maior se pareceres forem editados para garantir os recursos. Entre perdas e ganhos, a margem para um desbloquei­o maior do Orçamento subiu para cerca de R$ 7 bilhões.

Na Fazenda, porém, há uma avaliação de que a liberação de R$ 12,8 bilhões prevista para ser feita amanhã já seria suficiente. O argumento é de que qualquer expansão de despesas neste momento criaria pressão em 2018 em função do teto de gastos (que trava o cresciment­o dos gastos públicos à inflação).

Para o economista-chefe da corretora Tullet Prebon, Fernando Montero, começaram a aparecer dados bons também do lado fiscal, inclusive melhoria da arrecadaçã­o de tributos. Ele lembrou que até 15 dias atrás havia muita dúvidas fiscais, que agora começam a se dissipar.

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HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO Energia. Representa­ntes de consórcio comemoram leilão

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