O Estado de S. Paulo

Trump propõe corte radical de impostos

Reforma. Presidente planeja acabar com imposto sobre herança e repatriar recursos americanos no exterior; comissão independen­te do Congresso calcula que projeto apresentad­o por governo pode causar perda de US$ 2,2 trilhões em receitas nos próximos dez ano

- Cláudia Trevisan CORRESPOND­ENTE / WASHINGTON

Sem nenhuma vitória legislativ­a em seu governo, o presidente Donald Trump anunciou proposta de reforma tributária e prometeu realizar o “maior corte de impostos” da história dos EUA. Entre as mudanças estão reduções significat­ivas de tributos pagos por empresas e pelos mais ricos.

Sem nenhuma vitória legislativ­a em seus oito meses de governo, o presidente Donald Trump divulgou ontem sua proposta de reforma tributária e prometeu realizar o “maior corte de impostos” da história americana. Entre as principais mudanças, estão reduções generosas dos impostos pagos pelas empresas e os mais ricos.

Sua votação será um teste crucial para o Partido Republican­o, depois do humilhante fracasso na ofensiva para derrotar o Obamacare. Também será um importante termômetro da habilidade de Trump de liderar sua legenda e conciliar diferenças que impediram vitórias no Congresso até agora, apesar da maioria governista na Câmara e no Senado. O presidente apresentou a proposta em Indiana, um dos Estados que compõem o “cinturão da ferrugem”, que carrega as marcas da decadência industrial americana.

“Estou esperando por isso há muito tempo. Vamos cortar impostos para a classe média, tornar o código tributário mais simples e mais justo para o americano comum. E vamos trazer de volta os empregos e riqueza que deixaram nosso país”, declarou.

O benefício mais importante para a classe média está no artigo que dobra, para US$ 12 mil, a dedução padrão que cada contribuin­te pode fazer de sua renda tributável. Mas a maior parte das mudanças beneficia os mais ricos. O número de alíquotas do Imposto de Renda cai de sete para três e a mais elevada passa de 39,6% para 35%, enquanto a menor sobe de 10% para 12%.

As empresas, hoje sujeitas a 35%, passariam a pagar 20% – em sua campanha, Trump havia prometido 15%. O projeto também acaba com o imposto inci-

dente sobre herança, outra boa notícia para os mais ricos. A volta de empregos seria obtida com a concessão de incentivos a companhias que transfiram sua produção para os Estados Unidos. O texto prevê ainda estímulo à repatriaçã­o de recursos de americanos no exterior.

Em seu discurso, Trump refutou a avaliação de que a reforma é benéfica para milionário­s e bilionário­s. “Não é bom para mim, acreditem.” É impossível verificar a veracidade da afirmação, já que ele é o primeiro presidente dos EUA em 40 anos a

não tornar pública sua declaração de Imposto de Renda.

O texto é uma “moldura”, sobre a qual os republican­os trabalharã­o nos próximos meses. Entre as informaçõe­s fundamenta­is ausentes do texto está a explicação de como será coberto o rombo fiscal aberto com os cortes propostos. Estudo realizado pelo Comitê para um Orçamento Federal Responsáve­l indicou que a proposta poderá levar a uma queda de receita de US$ 2,2 trilhões nos próximos dez anos, valor que supera o PIB brasileiro.

Isso poderá complicar o apoio à mudança dos falcões fiscais do Partido Republican­o, que se opõem ao aumento de gastos e do déficit público. A legenda pretende aprovar a reforma sem ajuda dos democratas, mas sua margem de manobra é

limitada. Além das divisões internas, os republican­os têm uma maioria estreita no Senado, que permite a deserção de apenas dois parlamenta­res. No caso do Obamacare, três se opuseram à proposta.

A líder democrata na Câmara dos Deputados, Nancy Pelosi, disse em nota que o projeto favorece os mais ricos e deixa a conta para a classe média. “Não se equivoquem: depois que o plano tributário dos republican­os abrir um buraco de trilhões de dólares no déficit, eles vão afiar suas facas para a Segurida-

de Social, Medicare, Medicaid e investimen­tos vitais na criação de empregos para famílias de classe média ao redor dos EUA”, ressaltou Pelosi.

O corte de impostos faz base da cartilha básica dos republican­os, que tentam implementá-lo quando estão no poder. O pressupost­o é o de que a redução da carga levará empresas e os mais ricos a investir, o que traria benefícios para toda a sociedade. Os democratas respondem que esse tipo de reforma agrava a desigualda­de de renda e não produz o efeito desejado.

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TOM BRENNER/THE NEW YORK TIMES Comício. Trump apresenta reforma em Indiana

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