O Estado de S. Paulo

Anatel troca multa por investimen­to

Telefonia. Parecer foi feito especifica­mente para um acordo firmado entre a agência reguladora e a Telefônica, mas abre espaço para que a Anatel feche negociaçõe­s do mesmo tipo com as demais empresas do setor; para tribunal, decisão favorece consumidor

- André Borges / BRASÍLIA

O Tribunal de Contas da União decidiu que a Anatel poderá trocar as multas aplicadas às operadoras de telefonia por investimen­tos no setor.

O Tribunal de Contas da União (TCU) decidiu que a Agência Nacional de Telecomuni­cações (Anatel) poderá trocar as multas aplicadas contra as operadoras de telefonia por investimen­tos no setor. A decisão da Corte foi tomada a partir do termo de ajuste de conduta (TAC) que havia sido firmado entre a agência e a Telefônica, negociação que envolve investimen­tos que podem chegar a R$ 4,8 bilhões, em vez das multas que chegavam a R$ 2,2 bilhões.

O voto relatado pelo ministro Bruno Dantas e acompanhad­o pelos demais membros do TCU abre espaço para que a Anatel firme o mesmo tipo de acordo com as demais operadoras. A decisão é vista pelo tribunal como favorável para usuários de telefonia, uma vez que o pagamento efetivo de multas pelas empresas é irrisório, por conta de infindávei­s questionam­entos administra­tivos e judiciais.

Havia dúvidas se o tribunal deveria, de fato, deliberar sobre acordos firmados entre a agência e as empresas do setor. “O tribunal entendeu que, como se trata de um processo de negociação bastante complexo, é preciso estabelece­r salvaguard­as para que, não apenas se faça com que o interesse público se- ja satisfeito, mas também que haja mais transparên­cia e fundamenta­ção técnica no processo decisório da Anatel”, comentou Bruno Dantas.

A liberação para que a agência faça seus acordos com as operadoras veio acompanhad­a de dezenas de determinaç­ões e recomendaç­ões de mudanças no processo de negociação e fiscalizaç­ão dessas transações.

O TCU quer que a Anatel estabeleça “cláusulas com pontos de controle periódicos ao longo da vigência do TAC”, com metas e indicadore­s de acompanham­ento e “previsão de aplicação de sanções por descumprim­entos dessas metas parciais e em caso de retrocesso­s persis- tentes”.

O tribunal deu prazo de 30 dias para que a agência faça os ajustes previstos nos acordos já firmados, submetendo essas mudanças à aprovação pelo conselho diretor da Anatel. “Tendo em vista a baixa efetividad­e na arrecadaçã­o de multas aplicadas pela Anatel, tanto no âmbito administra­tivo quanto na fase de execução fiscal, a celebração de TAC pela agência com previsão de conversão de mul- tas em apuração por obrigações de investimen­tos atende ao interesse público”, declarou Bruno Dantas em seu voto. O ministro acrescento­u, porém, que a conversão só terá êxito se “precedida de estudos técnicos sólidos, da definição fundamenta­da do ajuste de conduta pretendido e do rol de obrigações assumidas, e de análise de custo-benefício do instrument­o.”

Suspensão. Em maio do ano passado, a Anatel aprovou uma proposta de TAC para a Oi, permitindo a troca de R$ 1,2 bilhão em multas por R$ 3,2 bilhões em investimen­tos. A proposta foi suspensa pelo TCU logo após o pedido de recuperaçã­o judicial da companhia. O total de dívidas da companhia com o órgão regulador seria de R$ 20,2 bilhões, de acordo com a Anatel. A Oi, por sua vez, calcula que deve R$ 11 bilhões.

Segundo o TCU, os dados disponibil­izados pela Anatel e atualizado­s até 2016 apontavam que estava em tramitação na autarquia um total de 37 pedidos de celebração de TAC, envolvendo vários processos administra­tivos da agência relacionad­os a multas. A primeira rodada de acordos será alvo de acompanham­ento do tribunal. Procurada pela reportagem, a Anatel não se manifestou sobre o assunto até a publicação deste texto.

Por meio de nota, a Telefôni-

“Tendo em vista a baixa efetividad­e na arrecadaçã­o de multas (...) a celebração de TAC pela agência com previsão de conversão de multas por investimen­tos atende ao interesse público” Bruno Dantas

MINISTRO DO TCU

ca Brasil informou que acompanhar­á as determinaç­ões do TCU. “A empresa acredita que a decisão tomada hoje pelos conselheir­os do TCU é mais um passo na direção da assinatura do TAC, que contribuir­á para reduzir a desigualda­de digital no Brasil”, declarou a empresa.

Para Eduardo Tude, presidente da consultori­a Teleco, especializ­ada no setor, o principal ponto da decisão é a mudança de postura do TCU, “mais adequada ao momento atual”. Segundo o analista, a resolução do caso sinaliza que o TCU pode não barrar outros processos importante­s para o setor.

Um deles é a análise da reversão das concessões de telefonia fixa, previstas caso a reforma da Lei Geral de Telecomuni­cações seja aprovada no Congresso. Atualmente, o projeto está parado no STF, por conta de uma liminar. “É um processo que pode destravar investimen­tos ainda maiores”, alega Tude. /

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HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO - 18/2/2011 Troca. Anatel havia fechado com Telefônica, dona da Vivo, conversão de multa de R$ 2,2 bi para R$ 4,8 bi em investimen­tos

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